A investigação da Polícia Civil paulista revelou que a estudante de Direito Ana Paula Veloso Fernandes, acusada de matar quatro pessoas envenenadas, chamou a PM após “descobrir” o corpo de Marcelo Hari Fonseca. Ela ligou para a central 190 , que enviou uma viatura até o local. A dinâmica foi gravada pelas câmeras corporais dos policiais que foram checar a ocorrência. As imagens, obtidas pelo GLOBO, mostram que Ana Paula estava na rua, se apresentou como “inquilina” de Marcelo e contou que há dias não conseguia contato com ele. Depois, quando ouviu da PM que o vizinho estava morto, sorriu. Posteriormente, ela confessou tê-lo matado.
- Envenenamentos em série: investigação começa com falsa denúncia da própria acusada; ‘Infelizmente, ele te matou, você deu mole’
- Mortes por envenenamento: veja os homicídios de que a universitária Ana Paula Fernandes é acusada
Marcelo Hari Fonseca foi encontrado morto em 31 de janeiro deste ano em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele estava no sofá de casa, com o corpo já em estágio avançado de decomposição. Pelas imagens, é possível ver os policiais militares comentando que um “cheiro podre” chegava na calçada. Com semblante calmo, Ana Paula se apresentou como a mulher que acionou a PM e contou o motivo de ter ligado para o 190:
— (Inaudível) meu vizinho há três ou quatro dias. Ele não responde, mora sozinho e eu nos fundos — explica ela à policial.
Mulher que confessou ter matado o vizinho chamou a polícia; VÍDEO
Ana Paula então leva a PM até a porta da casa, diz que o local não está trancado e abre a porta para ela. A agente entra na residência, mas como está muito escuro, volta para pegar uma lanterna. Ela também busca uma máscara cirúrgica devido ao forte odor que está no local. Já com a iluminação, ela retorna à casa e encontra o corpo de Marcelo estirado no sofá de casa. As imagens mostram ainda que há uma grande quantidade de moscas voando no lugar.
A policial comenta com seu colega que o corpo está “podríssimo” e vai até Ana Paula comunicar que o homem está morto. Ela demonstra surpresa e pergunta: “O que houve?”. A agente responde: “Eu lá vou saber?”. Em seguida, as imagens da câmera corporal captam a estudante de Direito sorrindo por um breve momento. Rapidamente, ela muda o semblante e leva as duas mãos no rosto aparentando estar surpresa.
- Morte após feijoada: suspeita é ‘serial killer’, ‘manipuladora’ e já forjou bolo envenenado para dificultar investigações, diz polícia
Enquanto a PM chama seus superiores e conta o que encontrou, Ana Paula se senta na calçada, próximo da entrada de sua casa. A agente então pergunta se a estudante de Direito tinha algum contrato com a vítima para tentar identificá-la por CPF ou RG. Ela nega e responde:
— Só tenho o PIX dele. Ele me deu o nome de Alan, mas a moça da livraria disse que era Marcos — disse.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/k/Y/HoDF2rRQeaHSoGNzfqWQ/whatsapp-image-2025-10-10-at-00.36.38.jpg)
Em seguida, Ana Paula parece novamente sorrir ao ouvir da PM que o homem está “podre”:
— Ai, estou até passando mal. Nem sei se meus cachorros estão vivos — disse Ana Paula.
- CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO
A policial continua a conversa com Ana Paula, que se contradiz. A PM estranha ela comentar que não sabe se os cães estão bem e pergunta se a mulher não esteve em casa nos últimos dias. Ela então responde que esteve, mas “passou direto”.
— É que, assim, ele arruma confusão direto. A casa é dividida em dois. Eu achei que o cheiro fossem fezes, porque tem até uma garrafa de urina ali. Eu chamei a polícia tem três dias porque (Marcelo) mostrou a arma para ele (ela aponta para um adolescente), mas vieram aqui e disseram que não poderiam entrar — explicou ela.
- Feijoada envenenada: entenda a relação entre as mortes de aposentado e no Rio e de mais três pessoas em São Paulo
Ana Paula confessa o crime
Apesar de ter se mostrado surpresa na frente dos policiais militares, Ana Paula confessou ter matado o homem. Em depoimento à 1ª DP (Guarulhos) a mulher “confessou expressamente o assassinato de Marcelo Hari Fonseca”.
Ela disse que decidiu matar Marcelo após “desentendimentos e alegadas ameaças envolvendo seu filho e sua sobrinha”, diz trecho do Relatório Final do Inquérito que a indiciou por essa e mais três mortes.
Filha de vítima apela à Justiça para desarquivar caso
Mas a Polícia Civil só ligou a morte de Marcelo a Ana Paula quando a filha da vítima procurou a Justiça. O inquérito fora arquivado por não haver indícios de autoria do crime e pela impossibilidade de realizar exames complementares devido o estado de putrefação do corpo.
- Mortes por envenenamento: veja os homicídios de que a universitária Ana Paula Fernandes é acusada
O advogado Fabio Gerdulo, que representou a filha de Marcelo, pediu a reabertura do caso e apresentou mais provas que poderiam ligar a estudante de Direito ao crime.
No dia seguinte à morte de Marcelo, a filha dele foi ao local e encontrou a casa fechada com cadeado. Segundo o advogado, Ana Paula teria dito que era inquilina, mas não apresentou nenhum contrato, comprovante de pagamento nem troca de mensagens com a vítima sobre o aluguel. Ela teria ainda passado a ameaçar a família, dizendo-se advogada e que “era da favela do Rio de Janeiro”. Afirmou ainda que, “caso insistissem em adentrar na residência, algo de ruim iria acontecer com eles”.
Dias depois, Ana Paula foi vista queimando itens da casa de Marcelo na rua. No depoimento à polícia, ela confessou o crime e explicou que colocou fogo no sofá que a vítima foi encontrada.
- Cadê os quebra-sóis que estavam aqui? Entenda as polêmicas em torno das fachadas de dois prédios icônicos do Rio
2025-10-10 14:48:00