– Tânia Rêgo/Agência Brasil
Metade dos envolvidos com tráfico de drogas não chega ao ensino médio
Tânia Rêgo/Agência Brasil
A baixa escolaridade declarada pelos entrevistados é um dos pontos que mais chama a atenção na pesquisa Raio-X da Vida Real, realizada pelo Instituto Data Favela, da Central Única das Favelas (Cufa).
O estudo analisou as respostas de 3.954 pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. As entrevistas foram feitas pessoalmente, nos locais de atividade criminosa, no período entre 15 de agosto de 2025 e 20 de setembro de 2025, em favelas de 23 estados brasileiros.
Nível de escolaridade declarado pelos entrevistados:
Ensino médio completo: 22%;
Ensino médio incompleto: 16%;
Ensino fundamental completo: 13%;
Ensino fundamental incompleto: 35%;
Sem instrução: 7%.
“Além da importância da renda e de programas de empregabilidade dessas pessoas, elas reconhecem que o estudo teria sido o fator de mudança na sua vida. Elas teriam estudado mais e se formado no seu passado”, ressaltou o copresidente Data Favela e presidente da Cufa Global, Marcus Vinícius Athaye.
“Programas e incentivos trabalhistas precisam vir aliados à Educação, principalmente, aliados aos tão jovens que já se arrependem de não ter estudado”, apontou ele durante entrevista coletiva em que os dados foram apresentados.
Ainda no tema educação, o curso de nível superior que mais interessava aos entrevistados era Direito, que seria a escolha de 18% deles.
Além disso, 13% escolheriam Administração; 11%, Medicina/Enfermagem; 11%, Engenharia/ Arquitetura; e 7%, Jornalismo/Publicidade.
De acordo com a pesquisa, a falta de acesso à educação e a oportunidades de qualidade no mercado de trabalho são causas para que entre 6 ou 7 em cada 10 dessas pessoas não consigam ganhar acima de dois salários-mínimos de renda mensal.
Famílias
A Pesquisa Raio-X da Vida Real identificou uma grande diversidade de modelos familiares baseados, especialmente, nas figuras femininas como as mães, tias e avós.
Para os entrevistados, as pessoas mais importantes são a mãe (43%), os filhos (22%), a avó (7%) e o pai (7%). Além disso, 4% contaram não ter ninguém importante, e 6% não responderam.
Sonho de consumo
Os que têm entre 22 e 26 anos são os que mais gostariam de comprar uma casa para a família, com o percentual em 35%. A intenção cai para 27%, dos 27 aos 31 anos, e permanece até os maiores de 50 anos, com 30% preservando esse mesmo desejo.
A ceo do Data Favela, Cléo Santana, disse que este sonho não é diferente do que tem o brasileiro médio sem nenhum tipo de envolvimento com o universo do crime.
“O sonho da casa própria, o desejo de ter onde se instalar e para onde voltar, também é o principal sonho das pessoas que estão em situação de crime”, destacou.
Saúde mental
Insônia: 39%;
Ansiedade: 33%;
Depressão: 19%;
Alcoolismo: 13%;
Crises de pânico: 9%.
“A prova disso é que 72% daqueles que iniciaram o ensino superior, mas não o concluíram, sofrem com ansiedade”, indicou a pesquisa.
Além da questão econômica marcada pela baixa remuneração, o alcoolismo, as drogas e a violência doméstica, apontados por 13% dos entrevistados, são motivos para a entrada no crime, de acordo com a pesquisa.
Segundo a coordenadora de pesquisas do Data Favela, Bruna Hasclepildes, a pesquisa concluiu ainda que a vida no crime é um reflexo da ausência de políticas públicas e de desigualdades, que há décadas atravessam pessoas negras e favelas do Brasil. “São estruturas que ainda se mantêm”, completou.
Bruna destacou ainda que, diante da pergunta “Você sente orgulho do que faz?”, 68% responderam negativamente.
“É para desbancar mais uma vez o imaginário [de que gostam de se envolver com o crime]. Eles não sentem orgulho algum do que fazem. Essas pessoas não entram para este contexto porque querem, mas por necessidade”, explicou. “Eles têm a consciência de que exercem uma atividade que não é legal”
Problemas do Brasil
A violência foi citada por 11%, e a falta de acesso à educação e à saúde, por 7% e 4%, respectivamente.
2025-11-17 20:24:00



