A Justiça manteve a prisão temporária de Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, de 63 anos. A decisão judicial foi tomada durante audiência de custódia, realizada nesta quinta-feira, na Central de Custódias de Benfica, na Zona Norte do Rio, horas após ele ter sido capturado pela Polícia Civil, na Vila Vintém. Com a decisão, Celsinho foi transferido para o Complexo de Gericinó. Celsinho da Vila Vintém havia deixado a cadeia em 2022 após cumprir uma pena de 25 anos. Segundo uma investigação da 32ªDP (Taquara), ele continuava no comando da facção Amigos dos Amigos (ADA), grupo criminoso fundado pelo próprio suspeito. Além disto, teria se unido a chefes de uma milícia e a traficantes do Comando Vermelho, em uma aliança para expandir o domínio sobre comunidades da Zona Oeste do Rio.
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Uma espécie de aliança teria sido feita envolvendo Celsinho , o traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos chefes do CV, e o miliciano André Costa Barros, o Boto, que mesmo preso continuaria à frente de um grupo paramilitar. Os três estão sendo acusados de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Além de Celsinho, Doca e Boto também tiveram prisões temporárias decretadas pela Justiça em seus respectivos nomes.
A investigação aponta que o objetivo da aliança era a expansão territorial. O Comando Vermelho teria interesse em usar as áreas controladas por Boto — as comunidades Dois Irmãos e Vila Sapê, em Curicica — e por Celsinho — a Vila Vintém, em Padre Miguel, e outras favelas próximas — como bases para invasões na Zona Oeste, principalmente em Santa Cruz.
Veja vídeo: Celsinho da Vila Vintém é preso em investigação sobre associação das facções ADA e Comando Vermelho
Boto já teria vendido o território da Vila do Sapê para Celsinho. Segundo a Polícia Civil, as investigações indicam que os três articulavam em conjunto uma ofensiva para expandir seus domínios territoriais e aumentar o poder bélico na região. A cooperação entre criminosos tradicionalmente considerados inimigos chamou a atenção dos investigadores. As investigações revelaram que comunidades antes controladas por milicianos e traficantes do CV, como Gardênia Azul e Curicica, passaram a ser palco da venda de drogas por traficantes da ADA.
Segundo o delegado Marcos Buss, da 32ªDP , há provas materiais e testemunhais que indicam a atuação coordenada das facções, com distribuição de drogas ostentando símbolos da ADA em áreas controladas por milicianos e em locais próximos a comunidades dominadas pelo Comando Vermelho. Ainda segundo as investigações, traficantes do CV chegaram a executar milicianos que foram contra essa aliança.
Ostentação de cordão de ouro, criação de porcos e participação em escola de samba: a vida de Celsinho da Vila Vintém fora das grades
Ao ser preso em casa, nesta quinta-feira, na Favela Vila Vintém, em Padre Miguel, Celsinho negou as novas acusações:
— Estou criando porcos. Não tem nada a ver com crime.
Celso Luis Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, foi o chefe do tráfico mais procurado dos anos 1990. Após cumprir 25 anos de pena, deixou a prisão em 2022 prometendo abandonar a vida de crimes. Fundador da facção ADA, ele passou 25 anos na prisão, de onde fugiu duas vezes e sobreviveu a uma das mais sangrentas rebeliões em Bangu 1, em 2002, quando aliados seus foram mortos por ordem de Fernandinho Beira-Mar. Solto em outubro de 2022, aos 61 anos, Celsinho afirmou, na ocasião, estar decidido a não voltar para o crime.
Fora das grades, dizia que era empresário do ramo de carne suína e passou a frequentar a quadra da Unidos de Padre Miguel (UPM), escola de samba da Vila Vintém, comunidade da Zona Oeste do Rio onde cresceu e comandou o tráfico. Celsinho não exercia cargo formal na UPM, mas era considerado patrono informal da escola.
Na década de 90, Celsinho chegou a ser um dos bandidos mais procurados do Rio. Ele começou na vida do crime com assaltos a caminhões de carga na Avenida Brasil. As mercadorias roubadas eram distribuídas para moradores da Vila Vintém, o que fez com que se tornasse querido na comunidade. Em meados da década de 1990, ele assumiu o controle do tráfico na região.
O traficante foi preso pela primeira vez em 1990. Seis anos depois, foi novamente capturado. Em 1998, fugiu vestido de policial militar do Hospital Penitenciário Fábio Macedo Soares. Condenado a 18 anos de prisão por tráfico de drogas e roubo, ele cumpria pena no presídio de segurança máxima Bangu I. Mas havia sido transferido para o hospital penitenciário para a retirada de uma bala do braço. A operação, no entanto, não foi realizada. E fuga pela porta da frente, usando uma farda da polícia, abriu uma crise no então Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe).
Em 2002, depois de buscas que duraram mais de três anos, foi preso mais uma vez. Na ocasião, ao ser localizado numa casa modesta, ele riu e, embora algemado, lançou um desafio diante de autoridades como o então chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira: continuaria comandando o tráfico na Vila Vintém e em outras favelas.
Quando ficou mais de 20 anos preso, Celsinho cumpriu pena por tráfico de drogas, formação de quadrilha e homicídios. Em 2022, ao deixar a prisão, ele afirmou que procuraria numa nova vida:
— A sensação mais gostosa do mundo — descreveu. — Tudo o que eu tinha na vida, eu perdi. Eu não sei o que (vou fazer agora), são 20 anos, estou com as duas pernas ruins. Vou procurar uma nova vida, o que fazer, não me envolvo com nada há muitos anos- disse na ocasião.
2025-05-09 14:33:00