Os roubos de celular subiram em Niterói — o aumento foi de 20,6% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2024 — mas explodiram em Icaraí, bairro mais populoso e com o metro quadrado mais valorizado da cidade. Foram 32 casos nos primeiros seis meses de 2025, um recorde na série histórica do bairro e mais que o triplo das nove ocorrências registradas no ano anterior. O aumento, de 255%, foi o maior entre os locais de Niterói com mais de dez registros e coloca Icaraí como o segundo bairro com mais roubos de celulares da cidade, atrás apenas do Centro. Já os números de assaltos a pedestres e roubos de carros se mantiveram estáveis na região.
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Investigações da Polícia Civil revelam que o destino de uma parte considerável dos aparelhos roubados em Niterói é a Feira do Laranjal, situada em uma área sob controle do Comando Vermelho no município vizinho de São Gonçalo. Em julho passado, agentes da 76ª DP (Niterói) prenderam em flagrante Carlos Henrique de Paula Gonçalves, dono de uma banca na feira de rua e apontado como um dos maiores receptadores de dispositivos subtraídos na cidade.
Gonçalves foi identificado após uma operadora de telefonia comunicar à polícia que um telefone roubado em Niterói havia sido religado e estava em uso por um novo dono. Os agentes, então, localizaram e intimaram a pessoa, que devolveu o equipamento e afirmou, em depoimento, tê-lo comprado na barraca de Gonçalves, na Feira do Laranjal.
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Na casa do revendedor, foram encontradas dezenas de aparelhos, sete deles provenientes de roubos ou furtos. Em depoimento à Justiça, Gonçalves admitiu “não saber a origem dos equipamentos adquiridos, comprando-os geralmente quebrados com o intuito de consertá-los e revendê-los”. No último dia 2, ele foi condenado a 21 anos de prisão pela juíza Juliana Cardoso Monteiro de Barros, da 3ª Vara Criminal de São Gonçalo.
— O celular é um objeto pequeno, de alto valor agregado e indispensável. Como todo mundo tem um, qualquer pessoa na rua vira alvo. Além disso, não existe política nacional nem estadual eficaz de rastreamento e enfrentamento ao mercado de receptação. E esse mercado ilegal movimenta bastante dinheiro, incentivando a prática do crime. Redes estruturadas de receptação sustentam o aumento do crime nas ruas — analisa Carolina Grillo, professora do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O que é o Mapa do Crime?
Quais são os bairros mais perigosos do Rio e de Niterói? Onde os roubos avançaram? Qual é o horário menos seguro para caminhar pela vizinhança? Para ajudar a responder a essas perguntas e a entender a dinâmica da violência na cidade, o GLOBO desenvolveu o Mapa do Crime, uma ferramenta interativa de monitoramento de roubos com dados inéditos de delitos por bairros.
Depois do lançamento da primeira edição no meio deste ano, com dados de 2024 referentes à cidade do Rio, agora publicamos a segunda edição da plataforma, a partir de dados referentes ao primeiro semestre de 2025, com informações sobre quatro crimes diferentes — roubos de celular, a transeunte, de veículo e em coletivo — em 147 bairros da capital fluminense, além de 51 bairros de Niterói.
A ferramenta foi produzida a partir de microdados obtidos via Lei de Acesso à Informação junto ao Instituto de Segurança Pública (ISP). O órgão, responsável por compilar as estatísticas da segurança no estado, divulga mensalmente indicadores divididos por áreas de batalhões e delegacias — que abrangem, na maioria dos casos, vários bairros. Buscando entender dinâmicas criminais hiperlocais, o GLOBO solicitou dados mais precisos de localização dos crimes e recebeu informações sobre os bairros onde cada ocorrência foi registrada, menor unidade territorial disponibilizada pelo ISP. É a primeira vez que indicadores criminais no Rio são divulgados com esse nível de detalhamento.
2025-12-15 06:30:00



