França registra um roubo de propriedade cultural a cada 7 horas

O roubo espetacular das joias da coroa francesa do Louvre, no domingo, 19 de outubro, mostrou que hoje é muito mais fácil roubar o maior museu do mundo do que uma das butiques de luxo da Place Vendôme, em Paris.


O roubo espetacular das joias da coroa francesa do Louvre, no domingo, 19 de outubro, mostrou que hoje é muito mais fácil roubar o maior museu do mundo do que uma das butiques de luxo da Place Vendôme, em Paris. No total, um roubo de propriedade cultural ocorre a cada sete horas na França. A cada ano, em todo o país, são roubadas 1.300 obras de arte — entre pinturas, esculturas, móveis e joias — de museus, galerias ou residências particulares. Os arquivos do Escritório Central de Combate ao Tráfico de Bens Culturais (OCBC) contêm registros de quase cem mil objetos de arte procurados.

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Recentemente, uma série de roubos afetou museus em toda a França. Em Paris, na noite de 15 para 16 de setembro de 2025, criminosos roubaram seis quilos de pepitas de ouro do Museu de História Natural. Em 3 de setembro, o Museu Adrien-Dubouché, em Limoges, foi vítima do furto de três peças raríssimas de porcelana chinesa. Três objetos classificados como “tesouros nacionais”, com um valor total segurado de mais de R$ 60 milhões.

Os ladrões entraram por uma janela arrombada e, embora o alarme tenha sido acionado, conseguiram roubar as três porcelanas chinesas, pertencentes a uma coleção particular, antes da chegada dos guardas. Os autores ainda estão sendo procurados pelas autoridades.

Para o prefeito de Limoges, esses eventos levantam a questão da revisão do sistema de segurança:

— Precisamos estar um passo à frente e não um passo atrás, e isso não é fácil.

Em apenas alguns dias, o museu do presidente Jacques Chirac em Sarran, Corrèze, foi assaltado duas vezes.

No dia seguinte ao roubo do Louvre, em 20 de outubro, autoridades municipais de Langres descobriram que parte do tesouro exposto no museu Maison des Lumières Denis Diderot havia desaparecido. Este conjunto de moedas de prata e ouro havia sido descoberto atrás de painéis de madeira em 2011, durante reformas no Hôtel du Breuil: quase duas mil moedas, das quais 1.633 de prata e 319 de ouro, cunhadas entre 1790 e 1840. Um roubo bem planejado e bem preparado.

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Em 21 de novembro de 2024, várias peças foram roubadas do museu Héron em Paray-le-Monial (Saône-et-Loire), resultando num prejuízo estimado em R$ 31 milhões. Sete pessoas foram presas, uma das quais admitiu ter sido recrutada como motorista via Telegram por R$ 30 mil. A principal obra do museu, a “Via Vitae”, do joalheiro e ourives Joseph Chaumet (1852-1928), foi o alvo dos criminosos.

Em abril de 2018, o relicário com o coração de Ana da Bretanha, uma peça excepcional de ourivesaria, trabalhada em 1514, foi roubada do museu Obree, em Nantes. O objeto, considerado de valor inestimável, continha o coração da nobre que por dois períodos diferentes foi rainha consorte da França. Ele desapareceu por sete dias antes de ser encontrado pela polícia enterrado no solo em Saint-Nazaire. Os quatro ladrões receberam penas que variam de 18 meses a quatro anos de prisão em junho de 2019.

Coroa da imperatriz francesa Eugênia, peça roubada e já recuperada — Foto: Divulgação/Museu do Louvre

É surpreendente a facilidade com que criminosos roubam museus, pois a perda representada pelo desaparecimento desse patrimônio vai muito além de seu valor financeiro.

— Uma parte da nossa alma nacional que está sendo arrancada — denunciou o príncipe Joachim Murat, descendente do marechal da França do mesmo nome que foi marido de Carolina Bonaparte (1782-1839), irmã de Napoleão. — Esse patrimônio é o nosso bem comum, que gerações de artesãos, artistas e soberanos moldaram para a glória e a memória da nação.

O historiador Pierre Branda lamenta:

— São fragmentos da história da França e da Humanidade que estão desaparecendo.

O desaparecimento das joias da coroa francesa é a ilustração perfeita. Após a queda do Segundo Império, a Terceira República decidiu, em 1887, vender quase todas (exceto o Regent, o diamante branco mais belo e puro do mundo, que os criminosos do Louvre inexplicavelmente deixaram em sua vitrine). Aos poucos, por vendas e revendas, os Amigos do Louvre, o Louvre e o Estado readquiriram algumas peças para o acervo histórico. São as que acabaram de ser roubadas.

— Nosso patrimônio está se evaporando gradualmente, devido à falta de preocupação com sua proteção — lamenta Luís de Bourbon, descendente de Luís XIV.

Para ele, o roubo das Joias da Coroa “aparece claramente como um sinal terrível: o do lento e comemorativo desmembramento da França”.



Conteúdo Original

2025-10-24 19:07:00

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