O Ministério das Relações Exteriores da França condenou nesta terça-feira o assassinato de um ativista palestino na Cisjordânia e classificou a violência de colonos israelenses contra civis palestinos como “atos de terrorismo”. O ataque matou Awdah Muhamad Hathaleen, conhecido por ter colaborado na produção do documentário No Other Land, vencedor do Oscar, e ocorreu em meio à crescente pressão internacional sobre Israel pela situação humanitária na Faixa de Gaza.
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— A França condena com a maior firmeza este assassinato, assim como todos os atos violentos deliberados perpetrados por colonos extremistas contra a população palestina, que se multiplicam na Cisjordânia. Esses atos violentos são atos de terrorismo — disse um porta-voz da chancelaria francesa.
Há duas semanas, a ONU fez um alerta para o crescente número de palestinos que foram forçados a saírem de suas casas na Cisjordânia, e afirmou que desde 1967, quando Israel ocupou o território, não se via uma situação tão grave como a atual. Além dos deslocamentos forçados, as Nações Unidas apontam para o aumento da violência contra civis, em atos atribuídos a militares e a colonos israelenses.
Desde janeiro, quando Israel lançou a operação Muro de Ferro na Cisjordânia, cerca de 30 mil pessoas foram expulsas de casa, afirmou Thamim al-Khitan, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, acrescentando que “as forças israelenses dispararam munição real contra palestinos desarmados, incluindo aqueles que tentavam voltar para suas casas nos campos de refugiados.
“Em junho, a ONU registrou o maior número mensal de palestinos feridos em mais de duas décadas. No total, 96 palestinos foram feridos por colonos israelenses”, disse o porta-voz em comunicado. “Durante o primeiro semestre de 2025, houve 757 ataques de colonos que resultaram em vítimas palestinas ou danos materiais, um aumento de 13% em relação ao mesmo período de 2024.”
A declaração do governo francês nesta terça-feira foi feita um dia após a França e a Arábia Saudita abriram em Nova York uma conferência de três dias na ONU com objetivo de impulsionar o reconhecimento do Estado palesino como parte de um acordo para encerrar a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza. O encontro também ocorre pouco depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciar que Paris reconhecerá oficialmente o governo palestino em setembro.
— Apenas uma solução política de dois Estados pode responder às legítimas aspirações de israelenses e palestinos de viverem em paz e segurança. Não há alternativa — disse o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot.
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O chanceler saudita, príncipe Faisal bin Farhan al-Saud, afirmou que Riad busca aprovar no Banco Mundial a transferência de US$ 300 milhões a Gaza e à Cisjordânia para mitigar a crise humanitária. Ele reforçou que os palestinos têm “direito legítimo” a um Estado com base nas fronteiras de 1967, tendo Jerusalém Oriental como capital.
O encontro reúne delegações de outros 16 países, incluindo Reino Unido, Irlanda e União Europeia. Londres, que ainda não reconhece a Palestina, enfrenta pressão crescente de parlamentares para avançar com a solução de dois Estados. Mais de 220 deputados britânicos — cerca de um terço do Parlamento — assinaram na sexta-feira uma carta pedindo ao governo que formalize o reconhecimento, afirmando:
“O que esperamos como resultado da conferência é que o governo britânico defina quando e como cumprirá seu compromisso histórico com a solução de dois Estados, além de indicar como trabalhará com parceiros internacionais para torná-la realidade”.
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Starmer deve convocar seu Gabinete, que está em recesso, para uma reunião de emergência nesta semana sobre a crise em Gaza. Fontes do governo afirmaram ao jornal britânico The Guardian que o reconhecimento formal da Palestina é uma questão de “quando, não se” sob a gestão trabalhista. O primeiro-ministro também deve pressionar o presidente americano, Donald Trump, sobre a questão da ajuda humanitária e a crescente crise de desnutrição e fome em Gaza.
— Precisamos mobilizar outros países para garantir a entrada dessa ajuda e, sim, isso envolve pressionar Israel, porque se trata de uma catástrofe humanitária — disse Starmer em declarações ao lado do republicano na segunda-feira, durante encontro no resort de Trump em Turnberry, na Escócia, onde discutiram comércio e a crise no enclave.
A iniciativa franco-saudita foi duramente criticada por Israel. O embaixador israelense na ONU, Danny Damon, afirmou que a conferência “não promove uma solução, apenas aprofunda a ilusão”, acrescentando que o foco deveria estar na libertação dos reféns e na destruição da infraestrutura militar do Hamas.
O prermier de Israel, Benjamin Netanyahu, também classificou a decisão de Macron de “um prêmio ao terrorismo” e disse que um Estado palestino seria “uma plataforma para aniquilar Israel”. Os EUA, por sua vez, chamaram a conferência de improdutiva e inoportuna”.
As iniciativas ocorrem enquanto a crise humanitária é intensificada em Gaza, com alertas de organismos internacionais sobre o risco iminente de fome em larga escala. Nesta semana, duas importantes organizações israelenses de direitos humanos, a B’Tselem e Médicos pelos Direitos Humanos, afirmaram pela primeira vez que Israel está cometendo um genocídio na Faixa de Gaza — e que os aliados ocidentais têm “dever legal e moral” de intervir. (Com AFP)
2025-07-29 11:50:00