Fim de semana é marcado por guerra entre traficantes rivais na Zona Norte do Rio

Intensas trocas de tiros, trabalhadores acuados, moradora feita refém e morte causada por bala perdida. Assim ficou marcado este fim de semana para os moradores da Pavuna, de Costa Barros e da Grande Tijuca, na Zona Norte do Rio. As


Intensas trocas de tiros, trabalhadores acuados, moradora feita refém e morte causada por bala perdida. Assim ficou marcado este fim de semana para os moradores da Pavuna, de Costa Barros e da Grande Tijuca, na Zona Norte do Rio. As horas de terror nas madrugadas de sábado, domingo e segunda-feira foram provocadas por confrontos entre traficantes rivais do Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP). Nas redes sociais, diversos registros mostraram a guerra territorial que altera a rotina da população.

  • UPA de Costa Barros recebe mais baleados que hospitais de urgência no Rio; unidade reabre em meio a novo confronto na região
  • ‘Excede a capacidade do Estado do Rio de Janeiro’, afirma porta-voz da PM sobre confronto entre facções rivais na região da Pedreira e do Chapadão

O primeiro confronto aconteceu na região da Grande Tijuca, na madrugada de sábado. Em menos de dois minutos, cerca de cem tiros ecoaram pelo Morro da Casa Branca, na Usina, segundo contagem feita a partir de dois vídeos que circulam nas redes sociais.

Foram ouvidos 45 disparos no primeiro vídeo e 52 no segundo. A sequência, quase ininterrupta, assustou moradores do Alto da Boa Vista, Usina, Andaraí, Grajaú e Tijuca. Os disparos começaram por volta das 22h de sexta-feira.

“Tijuca nível Faixa de Gaza. Nunca ouvi tanto tiro” desabafou um morador nas redes. “Moro há quase 30 anos na Tijuca e nunca ouvi tanto tiro junto”.

De acordo com a Polícia Militar, equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Borel reforçaram o patrulhamento após denúncias de disparos de arma de fogo. Durante as buscas, dois veículos roubados foram encontrados e recuperados na Estrada da Casa Branca. O caso foi registrado na 19ª DP (Tijuca). O policiamento segue reforçado nesta segunda-feira.

O episódio é mais um da sequência de confrontos que têm causado pânico na região. No primeiro sábado do mês, três pessoas foram baleadas durante uma troca de tiros na escadaria entre os morros do Borel e da Casa Branca, na Usina.

A violência também afeta o cotidiano de bairros próximos. A Paróquia de São José e Nossa Senhora das Dores, no Andaraí, chegou a ser fechada após ameaças de criminosos que teriam exigido R$ 1 mil do pároco. O templo fica na Rua Barão de Mesquita — mesma via que abriga batalhões da Polícia Militar e do Exército — e está cercado por comércios que, segundo relatos, sofrem pressão para pagar “taxas de segurança”.

Após a tomada do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, pelo Comando Vermelho, o Morro da Casa Branca passou a ser o único ponto controlado pelo Terceiro Comando Puro na Grande Tijuca. A comunidade é vizinha do Borel e do Morro do Andaraí, dominados pelo CV.

Mortes e apreensões em Costa Barros e Pavuna

Tiroteio leva pânico ao Complexo da Pedreira

Depois do terror na Grande Tijuca, foi a vez dos moradores de Costa Barros e Pavuna conviverem com o clima de tensão. Entre o fim da noite deste domingo e a madrugada desta segunda-feira, tiroteios entre facções rivais tomaram conta da área. Uma mulher foi mantida refém em casa e um homem que saía de um pagode acabou morto. Dois suspeitos também morreram em confronto com a Polícia Militar, e outros cinco foram presos.

O episódio aconteceu horas antes da reabertura da Unidade de Ponto Atendimento (UPA) de Costa Barros, que estava fechada desde 30 de setembro, devido à violência.

Segundo a Polícia Militar, o confronto começou quando criminosos do Complexo do Chapadão, ligados ao CV e divididos em carros de passeio, invadiram o Complexo da Pedreira, dominado pelo TCP.

Veja onde ficam os complexos do Chapadão e da Pedreira — Foto: Editoria de Arte
Veja onde ficam os complexos do Chapadão e da Pedreira — Foto: Editoria de Arte

Equipes do 41º BPM (Irajá) foram acionadas para o local e localizaram um veículo sem placa na Avenida Chrisóstomo Pimentel de Oliveira, na Pavuna, bairro vizinho. A PM informou que, no momento em que o carro foi encontrado, criminosos atiraram contra os policiais e houve confronto. Três suspeitos foram feridos e socorridos ao Hospital Municipal Albert Schweitzer — um deles morreu. Outros dois foram presos e encaminhados à 39ª DP (Pavuna). Também foram apreendidos cinco fuzis, uma granada e munições, além da recuperação de seis carros roubados.

Já na Comunidade da Quitanda, no Complexo da Pedreira, dois traficantes do Comando Vermelho invadiram uma casa e fizeram Marli Macedo dos Santos, de 60 anos, e seus parentes reféns. A residência da família foi fuzilada por rivais. No ataque, Marli acabou atingida por um tiro na cabeça.

Policiais militares foram acionados e negociaram a rendição dos criminosos que mantinham os reféns. Marli foi levada para o Hospital municipal Albert Schweitzer, mas não resistiu.

Casa de Marli Macedo dos Santos — Foto: Voz das Comunidades/ Reprodução
Casa de Marli Macedo dos Santos — Foto: Voz das Comunidades/ Reprodução

Na mesma noite, Elison Nascimento Vasconcelos, de 33 anos, saía de um pagode quando foi atingido no peito. Ele foi levado ao Hospital municipal Francisco da Silva Telles, mas também morreu.

Escolas e unidades de saúde fechadas

Embora a UPA de Costa Barros tenha sido reaberta na manhã desta segunda-feira, a Secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que outras três unidades de Atenção Primária da região tiveram o funcionamento suspeito devido à violência.

Vale destacar que, a UPA de Costa Barros recebe mais baleados que hospitais de urgência no Rio. A unidade atende mais de 300 pessoas por dia, entre janeiro e outubro deste ano, recebeu 78 dos 854 baleados que deram entrada em unidades de saúde no município. Este número é superior ao de hospitais referência como Miguel Couto (49), na Zona Sul, e Lourenço Jorge (54), na Zona Sudoeste. A unidade ainda lidera a lista das UPAs, seguida por Rocha Miranda (45) e Cidade de Deus (29).

UPA de Costa Barros recebeu mais baleados em comparação com outras UPAs e principais hospitais de urgência do município — Foto: Editoria de Arte do GLOBO/ Dados da Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS)
UPA de Costa Barros recebeu mais baleados em comparação com outras UPAs e principais hospitais de urgência do município — Foto: Editoria de Arte do GLOBO/ Dados da Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS)

Com números alarmantes, funcionários da UPA de Costa Barros tem solicitado transferência para outros espaços. Dos 246 trabalhadores da unidade, 48 pediram remanejamento. A Secretaria municipal de Saúde recompôs o quadro com servidores que aceitaram a missão.

Também foi possível ver impactos na rede de ensino. Segundo a Secretaria municipal de Educação, 22 unidades escolares no Complexo da Pedreira fecharam as portas. Além disso, três linhas de ônibus tiveram seus itinerários desviados, informou o Rio Ônibus:

  • 778 (Pavuna x Cascadura)
  • 920 (Pavuna x Bonsucesso)
  • SVB665 (Pavuna x Saens Peña)

Integração com forças de segurança federais

Em entrevista à Rádio CBN, a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Claudia Moraes afirmou que a situação “excede a capacidade do Estado Rio de Janeiro”. Segundo a oficial, é preciso uma integração com forças de segurança federais para tentar conter o aumento da violência gerada pelo crime organizado.

— Não interprete mal a minha fala. A Polícia Militar, as forças de segurança vêm trabalhando muito e duramente. A gente vem trabalhando todos os dias. O que eu estou deixando muito claro é que essa situação que estamos enfrentando nessa região, principalmente nesse confronto de facções criminosas, excede a capacidade do Estado do Rio de Janeiro — disse a tenente-coronel.

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A oficial frisou que a PM está fazendo o seu trabalho diariamente, realizando apreensões de fuzis:

— Ali é uma área onde a presença do policiamento vai desde buscar proteger a integridade física das pessoas até o combate a roubo de veículo, roubo de carga, roubo a transeunte. O roubo de veículo rapidamente pode evoluir para um latrocínio, a gente sabe disso. Essa questão da integração do estado com as forças federais… esses fuzis entram por algum lugar, a droga também não é fabricada aqui, ela chega aqui. A gente está combatendo o efeito, mas para trabalhar na causa é preciso de muito mais atores nesse contexto.

Claudia Moraes destacou que o 41º BP (Irajá) — responsável pelo policiamento no Chapadão e na Pedreira — é o que mais apreende fuzis no estado. Mas isso, afirmou, não é motivo de orgulho.

— A gente não se orgulha de um resultado desse porque se a gente está apreendendo muito é porque tem muito. Entram por fronteiras, por outras áreas. E tirar essas armas das mãos dos criminosos não é uma coisa simples. Não é uma questão de pedido de socorro. É um alerta para o país. O que acontece no Rio de Janeiro pode ser referência para outros estados. Para se ter uma ideia, esse ano em Pernambuco apreendeu 18 fuzis. Isso a gente apreende em uma semana no Rio de Janeiro — disse.



Conteúdo Original

2025-10-27 15:40:00

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