FBI investiga ‘epidemia de tráfico de drogas’ em prisão nos EUA, com envolvimento de agentes e imigrantes: ‘Muita corrupção’

O FBI está investigando um esquema de tráfico de drogas e violência no Centro Correcional do Condado de Cibola (CCCC), no Novo México, administrado pela empresa privada CoreCivic e que também abriga imigrantes detidos pelo Serviço de Imigração e Alfândega


O FBI está investigando um esquema de tráfico de drogas e violência no Centro Correcional do Condado de Cibola (CCCC), no Novo México, administrado pela empresa privada CoreCivic e que também abriga imigrantes detidos pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês). Segundo uma investigação do jornal britânico Guardian, os investigadores apontam uma “epidemia de tráfico de drogas” na unidade, com indícios de envolvimento de agentes penitenciários no contrabando de substâncias ilícitas.

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De acordo com documentos obtidos pelo Guardian, incluindo registros do FBI, relatórios médicos e processos judiciais, há evidências de que funcionários da CoreCivic — empresa que administra dezenas de prisões nos EUA — estariam introduzindo drogas como metanfetamina e Suboxone no presídio. Em um depoimento apresentado a um tribunal federal em outubro de 2024, um agente do FBI afirmou que “havia agentes penitenciários corruptos no CCCC, que contrabandeavam drogas e outros contrabandos para os presos”.

Apesar das denúncias, a CoreCivic buscou expandir seu contrato com o ICE. “A CoreCivic propõe trabalhar com o ICE em uma porcentagem mutuamente acordada da unidade de 1.129 leitos que atenderia às necessidades do ICE”, diz um documento da empresa, que classificou a unidade como um “recurso valioso”. Na prisão, cerca de 30% da população carcerária é composta por imigrantes sob custódia do ICE.

Desde o início deste segundo mandato de Donald Trump, o número de imigrantes detidos na unidade mais do que dobrou, passando de 160 em janeiro para 224 no final de junho. A capacidade total é de cerca de 1.200 detentos.

Mais de 40 informantes do FBI, incluindo membros de gangues, traficantes de drogas e membros do crime organizado mexicano no Novo México, revelaram que uma rede de gangues – tanto dentro quanto fora de Cibola – trabalhava em conjunto para trazer drogas para a unidade, especialmente fentanil, metanfetamina, Suboxone e heroína, mostram os registros do FBI. De janeiro a outubro de 2024, houve 43 apreensões de drogas dentro da unidade, embora esse número tenha sido menor do que nos anos anteriores, de acordo com um depoimento do FBI apresentado em 29 de outubro de 2024, durante a investigação da agência sobre contrabando.

Em nota enviada ao Guardian, a CoreCivic afirmou: “Temos uma política de tolerância zero para a introdução de contrabando em nossas instalações. A introdução de contrabando em ambientes correcionais é um desafio nacional que exige colaboração estreita e constante para sua prevenção.” A empresa ainda acrescentou estar “grata pelos esforços investigativos” das agências envolvidas e confirmou colaborar com o FBI.

Desde 2018, ao menos 15 pessoas detidas em Cibola morreram, segundo levantamento do Guardian. A CoreCivic declarou que leva “muito a sério” qualquer morte sob sua custódia. “Ficamos profundamente tristes com qualquer morte desse tipo”, disse a empresa.

Relatos obtidos pelo Guardian mostram que o contrabando não se limita às áreas do USMS e dos presos locais. Dois imigrantes detidos na unidade do ICE relataram ter visto drogas sendo vendidas e consumidas no setor. Um deles contou ter sido ameaçado após receber por engano um envelope com tiras de papel que seriam Suboxone, medicamento usado no tratamento de dependência de opioides.

Em entrevista, um imigrante, assustado com a unidade do ICE em Cibola, disse que “há muita corrupção”.

— Eu pensava que os EUA eram um país de leis, como dizem na televisão, que levavam a segurança e a proteção a sério. Mas agora descobri que há muita corrupção aqui — disse o imigrante.

O depoimento do FBI diz que o salário inicial de um guarda da CoreCivic é inferior a US$ 48 mil por ano, mas os traficantes pagam aos guardas de US$ 3 mil a US$ 6 mil por pacote de narcóticos levados para a instalação.

O Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês), responsável pelo ICE, negou as alegações.

“As alegações de que há tráfico de drogas na Seção de ICE do Centro Correcional do Condado de Cibola são FALSAS. Na verdade, não houve um único relato de drogas na seção de ICE da unidade”, afirmou a secretária-assistente do DHS, Tricia McLaughlin, em comunicado ao Guardian. Ela também negou condições precárias nas unidades: “Garantir a segurança e o bem-estar dos indivíduos sob nossa custódia é uma prioridade máxima do ICE.”

A CoreCivic, sediada no Tennessee e a segunda maior operadora de prisões privadas dos EUA, aumentou sua atuação em centros de detenção de imigrantes neste segundo governo Trump. Pelo menos sete unidades firmaram novos contratos com o ICE. Em Cibola, o contrato foi ampliado, com aumento no valor pago por leito, segundo documento contratual de maio deste ano.

O FBI não comentou oficialmente a investigação em andamento, mas o gabinete do procurador dos EUA no Novo México confirmou que a unidade continua sendo alvo das apurações: “Não podemos comentar sobre o status das investigações em andamento nem fornecer detalhes além do que já foi tornado público”, declarou ao Guardian.

Cibola foi adquirida pela CoreCivic em 1998. Em 2016, perdeu seu contrato com o Departamento Federal de Prisões após denúncias de negligência médica, mas reabriu no mesmo ano com novos contratos com o USMS e o ICE.



Conteúdo Original

2025-08-01 12:41:00

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