Especialistas israelenses apontam ‘cidade humanitária’ em Gaza como crime de guerra, e ONU registra quase 800 mortos em entrega de ajuda

À medida que mediadores estrangeiros seguem tentando superar o impasse entre Israel e Hamas e viabilizar a assinatura de um cessar-fogo em negociação em Doha, a guerra na Faixa de Gaza segue sem solução e fazendo vítimas. O Alto Comissariado


À medida que mediadores estrangeiros seguem tentando superar o impasse entre Israel e Hamas e viabilizar a assinatura de um cessar-fogo em negociação em Doha, a guerra na Faixa de Gaza segue sem solução e fazendo vítimas. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou nesta sexta-feira que o número de civis mortos enquanto tentavam buscar insumos básicos subiu para quase 800, em um momento em que setores da sociedade civil israelense condenam um plano do governo para deslocar milhares de palestinos para perto da fronteira do sul do enclave como um crime de guerra.

  • Para entender o conceito: Israel projeta deslocar 600 mil palestinos para Rafah em meio a desconfiança sobre expulsão para países vizinhos
  • Guga Chacra: EUA ou Israel em primeiro lugar?

Dezesseis especialistas israelenses em direito internacional e lei de guerra enviaram uma carta nesta sexta-feira ao ministro da Defesa Israel Katz e ao chefe do Estado-Maior Eyal Zamir, afirmando que o plano de deslocamento da população civil palestina para uma “cidade humanitária” na região de Rafah constitui uma ordem flagrantemente ilegal, um crime de guerra e um crime contra a humanidade. Segundo o documento, ao qual o jornal israelense Haaretz teve acesso, os especialistas afirmaram que sob certas condições, também poderia ser considerado um genocídio.

“Apelamos a todas as partes relevantes para que se retirem publicamente do plano, renunciem a ele e se abstenham de executá-lo”, escreveram.

O plano em questão foi tornado público na segunda-feira por Katz. Em declaração à imprensa, disse ter instruído ao Exército estabelecer uma “cidade humanitária” sobre as ruínas de Rafah, para onde toda a população deveria ser deslocada — a começar por cerca de 600 mil pessoas atualmente deslocadas em uma zona costeira. Os comentários do ministro foram feitos horas antes de um encontro entre o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em que ambos defenderam um plano de retirada dos palestina da Faixa de Gaza.

A questão levantou preocupações mesmo no braço jurídico das Forças Armadas israelenses, que assim como alguns dos principais advogados do país demonstraram preocupação de que a execução configure um deslocamento forçado, prática ilegal segundo o consenso internacional.

Um grupo de advogados militares e oficiais se reuniu com o general Zamir para explicar os problemas com o plano, segundo duas fontes ouvidas pelo jornal americano Wall Street Journal na quinta-feira. Eles teriam argumentado que coagir civis a entrar na zona ou impedi-los de sair — Katz afirmou que os palestinos passariam por “triagens de segurança” ao entrar e não poderiam se retirar da cidade — coagi-los a deixar Gaza ou reter ajuda de outras partes de Gaza após a implementação do plano seriam medidas ilegais.

— O plano, conforme expresso pelo senhor Katz levanta sérias dificuldades jurídicas — disse Eran Shamir-Borer, ex-chefe jurídico internacional das Forças Armadas israelenses em entrevista ao WSJ.

A discussão sobre o plano de deslocamento não interrompeu os combates no front, onde ataques israelenses mataram ao menos 18 pessoas, segundo a Defesa Civil, parte da administração do Hamas. Uma fonte da agência afirmou que 10 pessoas morreram após serem atingidas por disparos enquanto esperavam para receber ajuda humanitária perto de Rafah.

As mortes acontecem no mesmo dia em que a ONU estimou em cerca de 800 o número de mortos no enclave, durante buscas por ajuda humanitária.

Por comida, pessoas morrem em invasão a armazém da ONU em Gaza

— Estamos falando de quase 800 pessoas mortas enquanto tentavam obter ajuda — disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em entrevista coletiva em Genebra.

Ainda de acordo com a porta-voz maioria das mortes, 615, ocorreu perto de postos da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por Estados Unidos e Israel, que começou a distribuir alimentos no final de maio, após um bloqueio imposto por Israel por mais de dois meses.

A ONU e as principais organizações humanitárias se recusam a trabalhar com a GHF, alegando que atende a objetivos militares israelenses e viola princípios humanitários básicos.

  • Francesca Albanese: Relatora especial da ONU para Gaza diz que sanções impostas pelos EUA contra ela são sinal de ‘culpa’

Em Israel, Netanyahu disse que espera alcançar uma trégua com o Hamas “em poucos dias”, enquanto as negociações em Doha continuam pelo sexto dia.

— Provavelmente haverá um cessar-fogo de 60 dias. Retiraremos o primeiro grupo (de reféns) e, em seguida, usaremos esse cessar-fogo de 60 dias para negociar o fim de tudo isso — declarou ao canal americano Newsmax.

O líder israelense disse na quinta-feira que estava disposto a negociar uma trégua permanente em Gaza, desde que o Hamas desmilitarize a área e abandone seu domínio sobre o enclave. O Hamas exige a retirada israelense de Gaza, “garantias” quanto à natureza permanente do cessar-fogo e o retorno da ONU e de organizações internacionais reconhecidas à gestão da ajuda humanitária. (Com AFP)



Conteúdo Original

2025-07-11 15:17:00

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE