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Entenda como prisões em flagrante por tráfico culminaram na descoberta dos maiores fornecedores de armas e munição do Comando Vermelho

Uma investigação da Polícia Civil sobre tráfico de drogas, armas e munição, que começou pela 60ª DP (Campos Elísios), sediada na Baixada Fluminense, chegou a dois dos mais luxuosos endereços cariocas. Batizada de Operação Contenção, a ação conjunta com o


Uma investigação da Polícia Civil sobre tráfico de drogas, armas e munição, que começou pela 60ª DP (Campos Elísios), sediada na Baixada Fluminense, chegou a dois dos mais luxuosos endereços cariocas. Batizada de Operação Contenção, a ação conjunta com o Ministério Público do Rio em quatro estados apreendeu nesta terça-feira 43 mil balas e 240 armas, sendo 16 fuzis e 20 pistolas numa mansão na Barra da Tijuca. Foram presos ainda dez suspeitos de abastecer os paióis do Comando Vermelho e lavar dinheiro do esquema criminoso. O inquérito começou com três prisões em flagrante no início de 2023.

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A investigação foi comandada pela delegada Patrícia Uana da Rocha Cambraia, titular da 60ª DP (Campos Elísios), distrital atacada por traficantes ano passado que tentavam resgatar um criminoso preso. E foi essa apuração o ponto de partida. O primeiro passo foi, no início de 2023, com a prisão em flagrante de três suspeitos de ligação com o Comando Vermelho numa favela em Duque de Caxias. Com eles, os policiais encontraram um caderno com números de telefone.

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Um novo inquérito foi aberto, e a Polícia Civil conseguiu a autorização judicial para monitorar trocas de mensagens e ligações dos usuários daqueles aparelhos. Em um ano e meio, os investigadores destrincharam um esquema milionário de compras de armamento e drogas da facção, que tenta expandir seu território, sobretudo na Zona Oeste do Rio. No relatório final, a polícia pediu o bloqueio de R$ 40 milhões movimentados pelo grupo. Já o Ministério Público pediu a prisão de 22 denunciados.

— Em um único inquérito, nós conseguimos resolver a participação de diversos criminosos, desde a ponta dessa cadeia até a parte mais complexa, executada por traficantes de armas e drogas que já detêm vasta experiência no crime — disse Patrícia Uana.

Há alguns anos a polícia já sabia que as favelas do Rio tinham se tornado um local de treinamento e esconderijo de traficantes de outros estados. Mas esta investigação revelou que um desses criminosos decidiu fincar raízes no crime carioca. Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Zeus Muzema ou Da Roça, é acusado de ser traficante em Rondônia e de ter passado meses refugiado no Complexo do Alemão. Ele cresceu dentro da facção e assumiu o controle da Muzema, favela da Zona Oeste do Rio, que foi tomada de milicianos pelo CV recentemente.

O levantamento de mensagens trocadas por Da Roça mostrou que o bandido era bem metódico. Ele planilhava todas as compras. Em fevereiro e março de 2023, quando a Muzema já era alvo de ataques do CV, o bandido comprou mais de R$ 5 milhões em armas e munição, como um fuzil .50 — capaz de derrubar um helicóptero — por R$ 240 mil. Na lista, ainda há dez fuzis. Além de detalhar data e valor, o traficante registrava o fornecedor.

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A Polícia Civil então descobriu que Eduardo Bazzana, dono de uma loja de armas em São Paulo e presidente de um clube de tiro, fazia negócios com o traficante. Uma análise das movimentações financeiras de ambos mostra que o traficante ou pessoas ligadas a ele faziam transferências para as empresas de Bazzana, que também foi preso na operação de ontem. O arquivo interceptado pela investigação mostra que o empresário recebeu R$ 1,6 milhão pela venda de carregadores e munições aos criminosos.

— É um mercado cinza. Toda a operação é lícita até um determinado momento em que entra na ilegalidade. É uma atividade muito rentável e que estimula essas pessoas a entrarem no mercado cinza, porque elas possuem as autorizações do Poder Público — explica o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional.

Para tentar ludibriar os órgãos de controle, muitos dos depósitos feitos pelos traficantes eram fracionados em alguns feitos por PIX. No entanto, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) constatou as movimentações atípicas.

Polícia descobre arsenal escondido em mansão na Barra da Tijuca

Um dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) de Bazanna flagrou que ele recebeu transferências suspeitas de Bruno de Lemo Garcia, suspeito de ser laranja de Jhonnatha Schimitd Yanowich, e também preso ontem.

— Esses criminosos travestidos de empresários moram em mansões cinematográficas e dirigem automóveis de luxo. Eles só produzem o terror, o sofrimento, e a dor da população fluminense, sobretudo dos moradores das comunidades mais carentes. Cada uma dessas 43 mil munições pode tirar a vida de um cidadão. Onde o criminoso estiver, nós iremos buscá-los, eles não terão paz — disse o delegado Antenor Lopes, diretor do departamento-geral de Polícia da Baixada.

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A partir daí a investigação começou a apurar a participação de Yanowich na quadrilha. Os RIFs do empresário também constataram diversas movimentações atípicas. Ele recebia depósito de cédulas mofados e sujos a ponto das notas serem recusadas pela máquina de contagem. Em outra transação suspeita, Bruno comprou uma das casas da Barra da Tijuca por R$ 9 milhões e a revendeu, seis meses depois, um filho menor de Yanowich por R$ 500 mil. Em uma de suas mansões foram apreendidos 16 fuzis, pistolas e joias. Ele foi denunciado por lavagem de dinheiro e é investigado por associação ao tráfico.

Também foram presos Sidney Emerson da Silva, Adriano César de Camargo, César Sinigalha Alvares, João Vinicius Tavares Corrêa, Alexandre da Silva, Rondinei Aparecido de Assis e Silva e Pedro Gustavo da Silva. O GLOBO não conseguiu contato com suas defesas.



Conteúdo Original

2025-05-14 06:00:00

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