“Essa é a primeira vez que eu volto ao Vale do Javari desde a morte do Bruno. É a primeira vez que eu visito as cruzes que foram colocadas no local do assassinato em memória dele e de Dom Phillips, no rio Ituí. O caminho todo da viagem até a aldeia Massapê, do povo Kanamari, que ele gostava tanto, é o meu ritual de elaboração do luto que nesses três anos eu não consegui fazer do jeito que eu queria porque logo em seguida meu filho mais velho, Pedro, foi diagnosticado com um câncer raro, com grandes chances de vir a óbito aos 3 anos. Hoje, depois de 2 anos de tratamento aqui no Brasil e nos Estados Unidos, ele tem se recuperado bem e agora eu posso viajar mais enquanto concilio meu trabalho na direção do departamento de povos isolados e de recente contato do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).
- Entenda: Quem é ‘Colômbia’, mandante das mortes de Bruno e Dom no Vale do Javari
- Caso Bruno e Dom: PF conclui que homicídio foi motivado por fiscalização na Amazônia e indicia mandante
Eu me recordo desde o primeiro dia em que nos conhecemos, em 2010. O que me uniu ao Bruno foi a nossa fascinação pela causa indígena, mas também a mágica que nos fez em 2014 decidir morar juntos no Vale do Javari, ele como coordenador da Funai e eu como antropóloga que estudava os Matsés para o meu doutorado. Me apaixonei sobretudo pela convicção e coragem que ele tinha de lutar pelos povos originários, além de ser uma pessoa inteligente e cativante que arrastava a todos que o conheciam. Nossa união rendeu muitos frutos, crescimento profissional e dois filhos. Em 2016, eu estudei para um concurso e fui aprovada para dar aulas na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Foi incrível ser aprovada em uma universidade federal para dar aulas de antropologia.
Bruno vivia também um ótimo momento realizando várias expedições com grandes sertanistas por Rondônia, Mato Grosso e Amazonas e começou a focar o trabalho dele nos povos isolados, com muita metodologia. Ele foi atrás de andar com Rieli Franciscato, Altayer Algayer e Jair Candor, essa galera de veteranos da Funai. Ele tinha deixado a coordenação regional de Atalaia do Norte e fomos morar num lugar bacana, em Belém. A nossa parceria foi aumentando comigo dando aulas e mantendo o Javari como foco dos meus estudos, e Bruno fazendo essas expedições. Era a vida do doutorado que eu queria: Bruno passava dois meses fora e um Belém. Era o casamento perfeito (risos).
Mas daí pintou a vontade de ter filhos, estávamos apaixonados. Tenho cartas maravilhosas dele desse período. Parecia um filme que estávamos vivendo. Alugamos uma casa, fiz um escritório. É nesse período que o Bruno se constrói como o grande indigenista para isolados. Eu ajudava a ele a entender os parentescos dos povos. Era muito lindo.
Em 2017 eu fico grávida e, no ano seguinte, nasce o Pedro, a quem demos o segundo nome de Uaki, em homenagem ao cacique Caiçuma da aldeia Lobo, do alto Jaquirana. Vem, então, o convite para o Bruno assumir a coordenação geral de povos isolados e de recente contato da Funai (CGIIRC). Fomos para Brasília, já em meados de setembro de 2018. Daí eu faço um movimento na universidade que se chama exercício provisório e fui dar aulas no Departamento de Antropologia, da Universidade de Brasília (UnB), depois de voltar da licença maternidade.
Dez meses depois de nascer o Pedrinho, eu fiquei grávida do segundo menino, Luís Vissá, uma homenagem aos isolados Korubo, dos quais um dos contatos foi conduzido pelo Bruno.
- Leia mais: Vingança, pesca ilegal, oito acusados: saiba tudo sobre o inquérito que indiciou Colômbia pela morte de Bruno e Dom
O Luiz nasceu em janeiro de 2020, com o Bruno já nesse período todo na CGIIRC. Foi a pior fase do nosso casamento. Ele, obcecado do jeito que era, voltava pra casa tarde todos os dias e eu sozinha com os meninos. Era só problema e chateação o tempo inteiro, com os problemas da Funai. Bruno estava envolvido com as operações de destruição de balsas do garimpo na Terra Yanomami e do Vale do Javari. Isso provocou a ira do presidente Jair Bolsonaro, que mandou exonerá-lo depois das operações do Exército, Polícia Federal e Ibama. Ele também passou a ser perseguido na Funai e a responder por um processo administrativo. Neste mesmo período a gente começa a organizar a fundação do Observatório dos Povos Isolados (OPI) e, junto com as instituições indígenas, a pensar na estrutura das políticas de proteção aos povos isolados que hoje estão em vigor e foram reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2021, a gente volta pra Belém porque a pandemia supostamente ia dar uma arrefecida. O Bruno voltou às expedições pela Univaja, e eu passei a ficar mais sozinha com as crianças.
Eu entrei no OPI e fiquei mais nesse braço acadêmico, coordenando um grupo de pesquisa, e o Bruno ficava com essa articulação com jornalistas e políticos. Mas as coisas foram complicando na questão indígena, com a Funai aparelhada e fazendo muita pressão e perseguição contra os servidores que defendiam a causa. Colocaram um missionário para assumir o departamento de indígenas isolados, o que foi um duro golpe para todos.
Na pandemia, a nossa relação ficou boa de novo, porque ele estava viajando, no mato. Ele estava feliz. A gente se via menos o que era legal, porque a gente se dá o refresco que todo casamento tem que ter.
Ele estava muito empolgado e isso foi um refresco no contexto Bolsonaro, porque ele estava sendo perseguido. Eu fui convidada para dar uma palestra no Canadá em julho, já estava com visto aprovado. Eu já não amamentava mais e podia contar com ele quando estava em casa. Ele que fazia os meninos dormirem, brincava mais com eles. Ele estava reconstruindo a relação com os meninos.
Veja fotos da busca por Bruno Pereira e Dom Phillips, desaparecidos na Amazônia
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/P/O/TYE7EtQW2j0K6B5PDGYQ/99575476-residents-observe-the-work-of-police-officers-searching-for-the-bodies-of-dom-phillips-and.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/P/O/TYE7EtQW2j0K6B5PDGYQ/99575476-residents-observe-the-work-of-police-officers-searching-for-the-bodies-of-dom-phillips-and.jpg)
Agentes da PM do Amazonas participam da busca pelos corpos de Dom Phillips e Bruno Pereira, em Atalaia do Norte — Foto: Victor Moriyama / The New York Times
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/v/7/mA4wmYT8GNBywwGt7p3g/99575473-police-officers-search-for-the-bodies-of-dom-phillips-and-bruno-pereira-near-atalaia-do-nor.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/v/7/mA4wmYT8GNBywwGt7p3g/99575473-police-officers-search-for-the-bodies-of-dom-phillips-and-bruno-pereira-near-atalaia-do-nor.jpg)
Agentes da PM do Amazonas participam da busca pelos corpos de Dom Phillips e Bruno Pereira, em Atalaia do Norte — Foto: Victor Moriyama / The New York Times
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/u/y/PLTMvwTsCVrwt77o9FpQ/99527403-boat-with-police-and-firefighters-leave-for-the-rescue-and-search-work-of-indigenist-bruno.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/u/y/PLTMvwTsCVrwt77o9FpQ/99527403-boat-with-police-and-firefighters-leave-for-the-rescue-and-search-work-of-indigenist-bruno.jpg)
Barco com policiais e bombeiros partem para o trabalho de busca do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no porto da cidade de Atalaia do Norte, Amazonas. — Foto: João LAET / AFP
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/U/8/BwkYQzTj6KaVy0cHKDQA/cartaosaude.jpg)
Cartão do plano de saúde do indigenista Bruno Pereira, desaparecido no Vale do Javari — Foto: Polícia Federal
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/E/K/yhabA5QdKFzTIWtUxz0Q/99527333-a-federal-police-expert-examines-a-boat-seized-by-the-task-force-for-the-rescue-of-indigeni.jpg)
Perito da Polícia Federal examina um barco apreendido pela Força Tarefa para o resgate de Bruno e Dom Phillips. — Foto: João LAET / AFP
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/l/p/l5BigVTsKLOCpClnQoxQ/99528777-a-federal-police-experts-examine-a-boat-seized-by-the-task-force-for-the-rescue-of-indigeni.jpg)
Peritos da Polícia Federal examinam um barco apreendido em Atalaia do Norte. Força tarefa investiga sinais de escavações em uma área próxima ao local onde jornalista e indigenista foram vistos pela última vez. — Foto: JOAO LAET / AFP
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/1/r/pueQrIQBStVk5ssvK4CA/brunopf.jpg)
Policiais federais isolam a área onde foram achados os pertences de Bruno Pereira, indigenista desaparecido no Vale do Javari — Foto: PF
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/G/k/txOvm9RBu0QP1f12unsw/99482854-handout-photo-released-by-the-amazon-military-command-cma-showing-members-of-a-rescue-team.jpg)
Aeronaves do Exército estão sendo usadas nas buscas pelo indigenista da Funai, Bruno Araújo e o correspondente britânico Dom Phillips, desaparecidos na Amazônia desde domingo (5) — Foto: Comando Militar da Amazônia / AFP
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/V/N/3kw3UkQGaFLWlZoLcoPw/99482308-07-06-2022-o-comando-militar-da-amazonia-cma-soma-esforcos-nas-buscas-pelo-indigenista-br.jpg)
Militares brasileiros realizam buscas com embarcações ao longo da bacia do Rio Amazonas — Foto: Comando Militar da Amazônia / AFP
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/G/D/CiWS7NQVCavGlKxoe3ig/99482850-handout-photo-released-by-the-amazon-military-command-cma-showing-a-rescue-team-tasked-with.jpg)
Militares brasileiros realizam buscas com embarcações ao longo da bacia do Rio Amazonas — Foto: Comando Militar da Amazônia / AFP
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/q/O/XgXmAlQBCWSWttdmry3Q/99517637-in-this-aerial-view-a-police-boat-patrols-an-area-of-the-municipality-of-atalaia-do-norte-s.jpg)
Bote de patrulha de equipe que procura Dom Phillips e Bruno Pereira no Rio Itaquari, em Atalaia do Norte — Foto: JOÃO LAET / AFP
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/m/7/3WkKwBSKuqRnMLAEyIKw/99482862-handout-photo-released-by-the-amazon-military-command-cma-showing-the-deployment-of-a-rescu.jpg)
Missão de busca e resgate acontece na região da Amazônia próximo à fronteira com o Peru — Foto: Comando Militar da Amazônia / AFP
Publicidade
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/b/k/dcUivnSNKcEwtx1UFAYQ/99482866-handout-photo-released-by-the-amazon-military-command-cma-taken-from-the-aircraft-of-a-resc.jpg)
Aeronaves do Exército estão sendo usadas nas buscas pelo indigenista da Funai, Bruno Araújo e o correspondente britânico Dom Phillips, desaparecidos na Amazônia desde domingo (5) — Foto: Comando Militar da Amazônia / AFP
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/a/3/TIBUkBT4ON6cJnSXqR3g/anyconv.com-whatsapp-image-2022-06-08-at-08.17.25.jpg)
Suspeito conhecido como Pelado é preso pela Polícia Federal por suposto envolvimento no desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira | — Foto: Reprodução do blog Míriam Leitão
Publicidade
Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips iam da comunidade ribeirinha São Rafael até Atalaia do Norte
Ele não me falava que estava sendo ameaçado. Tivemos uma conversa na cozinha lá de casa, em Belém, onde eu comentei com ele sobre o assassinato do servidor da Funai Maxciel Pereira, em Tabatinga. Quis saber dele como estava se protegendo, se não estava se expondo muito. Também porque a base da Funai foi alvo de tiros diversas vezes. Ele então disse para eu não me preocupar, que estava tomando todos os cuidados, e eu também confiava nisso porque ele era muito metódico. Ele era muito cuidadoso, não era inconsequente.
No dia em que ele chegou a Atalaia do Norte, antes de subir para o Vale do Javari com o Dom, era uma sexta-feira, dia 3 de junho, nos falamos rapidamente pelo telefone sobre questões bancárias e de pagamentos. Ele estava bem e me disse que tinha volta programada para o domingo, dia 5. Ele queria voltar logo para não perder o avião para casa.
No domingo pela manhã eu fui com as crianças brincar na praça perto de casa e mandei as fotos dos meninos para a avó, mãe de Bruno. Eu e Bruno tínhamos um lema por saber que a nossa vida na luta indígena implicava em ficar muitos dias incomunicáveis: falta de notícia significava “boa notícia”.
Quando foi à noite, o Beto Marubo, coordenador da Univaja, me ligou. Ele me contou, então, que Bruno não tinha voltado, e os agentes da Equipe de Vigilância da Univaja já tinham percorrido o caminho que ele havia feito com Dom umas três vezes e nada. Achei estranho, mas procurei ficar tranquila, sem desespero. Pedi para eles continuarem procurando. Pensei assim: o barco deve ter quebrado. Então, liguei para um casal de amigos que ficaram conversando comigo. Ficou tarde da noite e adormeci. Amanheceu e o dia começou já com as notícias de que eles estavam desaparecidos
Daí comecei a ficar muito preocupada, sem ligar televisão por causa das criança. Eu ficava no Twitter o dia inteiro e falando com os amigos do OPI e da Univaja para me inteirar de tudo o que estava acontecendo nas buscas. Não tinha como sair de casa e ir para lá por conta das crianças. Foram dias muito pesados, dez dias de buscas e eu não conseguia dormir. Não quis tomar remédios. Eu tinha algo dentro de mim que mantinha minhas esperanças.
Minha casa virou uma loucura. Amigos mais próximos chegavam, minha mãe e outros familiares, pessoal foi cuidando de tudo. Eu só conseguia me manter acordada lendo as notícias e tentando saber sobre as buscas. Nesse meio tempo saiu aquela notícia absurda de que os corpos já tinham sido encontrados. Fiquei muito triste, enquanto falava com a Alessandra, mulher do Dom.
No dia em que encontraram alguns objetos deles agarrados nas árvores… Ali caiu a minha ficha de que algo terrível havia acontecido e eles poderiam estar mortos, de fato. Foi quando desabei em choro. Depois encontraram os corpos e fui falar com os meninos. Expliquei pra eles que o papai tinha morrido porque alguns homens muito ruins não gostaram que o Bruno defendesse os indígenas e mataram ele e um amigo. Os dois me abraçaram. Choramos muito. Mesmo o Luiz, pequeninho, com 2 anos, viu que o irmão estava chorando e repetiu a emoção.
Os dias que se seguiram foram muito intensos até o funeral, certidão de óbito foi um processo muito difícil. Fomos para Recife, onde seria o funeral do Bruno. Recebi uma ligação do presidente Lula, com a promessa de que, se fosse eleito, daria total atenção à causa indígena. Achei o gesto muito forte, de um estadista mesmo. Ninguém soube e nem ele quis ganhar holofotes com isso.
A cerimônia do funeral foi muito emocionante com a homenagem dos indígenas Fulniô, amigos e parentes. Pouco antes do réveillon, eu recebi a ligação da Sônia Guajajara, me convidando para assumir a diretoria de povos isolados e de recente contato do MPI. Decidi aceitar para continuar uma luta que era do Bruno, mas muito minha também. Logo em seguida, veio a bomba da doença do Pedro.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/A/s/GS5Z60SmOszjDWjTBqIA/20250603-dscf7949-13.jpg)
Depois de um transplante de medula, sessões de radio e quimioterapia, posso dizer que ele está ótimo, em total remissão desde janeiro do ano passado. Ele acabou de fazer uma cintiografia na semana passada e o tratamento nos Estados Unidos terminou. A gente faz consulta de seis em seis meses, antes era de três em três. Ele ainda toma sete comprimidos por dia, mas já voltou para escola. Ontem mesmo minha mãe mandou uma foto dele brincando de expedições e mapas.
A Marina Silva me fala uma coisa que acho bacana de levar comigo e saber da importância do Bruno para a questão indígena e ambiental. Ela me diz que ele tinha o mesmo olhar e a energia para ações que a lembrava Chico Mendes, de convicção e firmeza. Eu me inspiro nisso, todos os dias.
Agora, três anos depois, sigo tocando a vida com as crianças, com muito trabalho no Ministério para reconstruir uma política de proteção efetiva para os povos isolados. Mas sinto muitas saudades do Bruno e agora voltando aqui pude ver que esse processo ainda vai perdurar por um bom tempo. Voltei a fazer sessões de análise com uma psicóloga e tento dar continuidade ao trabalho do Bruno, mas tento resguardar ao máximo essa relação com os meninos. Penso muito nessa barra que vai ser as crianças crescerem sem o pai. Vamos ter que enfrentar isso sozinhos. Na luta que foi conseguir o atestado de óbito dele, me vi muito no filme “Ainda Estou aqui”. Não quero que tudo o que aconteceu seja banalizado. E que o fato dos assassinatos do Bruno e Dom seja importante para mim, para os meninos e para o mundo.”
* Em depoimento a Daniel Biasetto
* O repórter viajou a convite do Observatório de Povos Isolados (OPI)
2025-06-05 03:30:00