Dono de mansões na Barra da Tijuca onde arsenal foi apreendido é investigado por tráfico de armas

Uma investigação da Polícia Civil sobre tráfico de drogas, armas e munição, que começou na Baixada Fluminense, chegou a dois dos mais luxuosos endereços cariocas. Batizada de Operação Contenção, a ação conjunta com o Ministério Público do Rio em quatro


Uma investigação da Polícia Civil sobre tráfico de drogas, armas e munição, que começou na Baixada Fluminense, chegou a dois dos mais luxuosos endereços cariocas. Batizada de Operação Contenção, a ação conjunta com o Ministério Público do Rio em quatro estados apreendeu ontem 43 mil balas e 240 armas, sendo 16 fuzis e 20 pistolas, numa mansão na Barra da Tijuca. Foram presos ainda dez suspeitos de abastecer os paióis do Comando Vermelho e lavar dinheiro do esquema criminoso. Outra facção criminosa, o Terceiro Comando Puro (TCP), também sofreu um baque com a morte de Thiago da Silva Folly, o TH, chefe de favelas da Maré, durante ação da Polícia Militar.

  • Morte de chefe do tráfico na Maré expõe estrutura descentralizada do TCP e acende alerta para disputa interna
  • Execuções, desaparecimentos, terreiros de Umbanda proibidos: Complexo de Israel vive sob ditadura do traficante Peixão, que diz ser evangélico

Logo ao amanhecer, moradores dos condomínios Mansões e Novo Leblon, na Barra, se surpreenderam com a chegada de policiais civis, que foram cumprir mandados de busca e apreensão nos imóveis de alto luxo de Jhonnatha Schimitd Yanowich, preso em São Paulo na noite anterior e denunciado por lavagem de dinheiro. Ele será investigado ainda por associação para o tráfico porque em sua casa no Novo Leblon foram encontrados 16 fuzis — sendo dois de calibres .30 de comércio restrito e outros com silenciadores —, 20 pistolas, dinheiro e documentos. Os agentes também apreenderam dois relógios de luxo avaliados em R$ 2,5 milhões. Em um deles, são pedras de diamantes que representam os números.

— A investigação identificou e prendeu pessoas que passavam completamente despercebidas da atuação policial. Fizemos uma grande apreensão de armas e munição em uma mansão de luxo na Barra da Tijuca. As pessoas sempre falam que a polícia só vai à favela e tem que prender os tubarões do tráfico que estão fora. Pois bem, hoje a polícia também fez isso e tirou essas pessoas de circulação — disse o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.

Polícia descobre arsenal escondido em mansão na Barra da Tijuca

  • Polícia investiga esquema de lavagem de dinheiro superior a R$ 220 milhões em Campos com licitações na área de saúde

Um ponto que chamou atenção dos policiais foi que as armas apreendidas na Barra têm origens distintas. Há itens dos Estados Unidos, Japão e Israel, além do Brasil. A ação também teve apoio da Homeland Security Investigations, órgão do Departamento de Defesa dos EUA que investiga crimes e ameaças transnacionais.

A investigação foi comandada pela delegada Patrícia Uana da Rocha Cambraia, titular da 60ª DP (Campos Elísios), distrital atacada por traficantes ano passado que tentavam resgatar um criminoso preso. E foi essa apuração o ponto de partida. O primeiro passo foi, no início de 2023, com a prisão em flagrante de três suspeitos de ligação com o Comando Vermelho numa favela em Duque de Caxias. Com eles, os policiais encontraram um caderno com números de telefone.

Um novo inquérito foi aberto, e a Polícia Civil conseguiu a autorização judicial para monitorar trocas de mensagens e ligações dos usuários daqueles aparelhos. Em um ano e meio, os investigadores destrincharam um esquema milionário de compras de armamento e drogas da facção, que tenta expandir seu território, sobretudo na Zona Oeste do Rio. No relatório final, a polícia pediu o bloqueio de R$ 40 milhões movimentados pelo grupo. Já o Ministério Público pediu a prisão de 22 denunciados.

— Em um único inquérito, nós conseguimos resolver a participação de diversos criminosos, desde a ponta dessa cadeia até a parte mais complexa, executada por traficantes de armas e drogas que já detêm vasta experiência no crime — disse Patrícia Uana.

  • Operação no Rio: com 17 mandados de prisão e 227 anotações criminais, TH da Maré era protegido por 30 seguranças

Há alguns anos a polícia já sabia que as favelas do Rio tinham se tornado um local de treinamento e esconderijo de traficantes de outros estados. Mas esta investigação revelou que um desses criminosos decidiu fincar raízes no crime carioca. Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Zeus Muzema ou Da Roça, é acusado de ser traficante em Rondônia e de ter passado meses refugiado no Complexo do Alemão. Ele cresceu dentro da facção e assumiu o controle da Muzema, favela da Zona Oeste do Rio, que foi tomada de milicianos pelo CV recentemente.

O levantamento de mensagens trocadas por Da Roça mostrou que o bandido era bem metódico. Ele planilhava todas as compras. Em fevereiro e março de 2023, quando a Muzema já era alvo de ataques do CV, o bandido comprou mais de R$ 5 milhões em armas e munição, como um fuzil .50 — capaz de derrubar um helicóptero — por R$ 240 mil. Na lista, ainda há dez fuzis. Além de detalhar data e valor, o traficante registrava o fornecedor.

A Polícia Civil então descobriu que Eduardo Bazzana, dono de uma loja de armas em São Paulo e presidente de um clube de tiro, fazia negócios com o traficante. Uma análise das movimentações financeiras de ambos, com dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mostra que Da Roça ou pessoas ligadas a ele faziam transferências para as empresas de Bazzana, que foi preso na operação de ontem. O arquivo interceptado pela investigação mostra que o empresário recebeu R$ 1,6 milhão pela venda de carregadores e munição aos criminosos.

— É um mercado cinza. Toda a operação é lícita até um determinado momento em que entra na ilegalidade. É uma atividade muito rentável e que estimula essas pessoas a entrarem no mercado cinza, porque elas possuem as autorizações do Poder Público — explica o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional.

  • Morto em esconderijo: Quem era Thiago da Silva Folly, o TH, chefe do tráfico com extensa ficha criminal

Para tentar ludibriar os órgãos de controle, muitos dos depósitos feitos pelos traficantes eram fracionados em alguns feitos por Pix. No entanto, o Coaf constatou as movimentações atípicas. Um dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) sobre as transações de Bazanna flagrou que ele recebeu transferências de Bruno de Lemo Garcia, suspeito de ser laranja de Jhonnatha Schimitd Yanowich. Bruno também foi preso ontem, mas Da Roça não foi localizado.

A partir daí a investigação começou a apurar a participação de Yanowich na quadrilha. Os RIFs do empresário também apontaram movimentações atípicas, sem comprovação de origem. Em outra transação suspeita, Bruno comprou a casa no Condomínio Mansões por R$ 9 milhões e a revendeu, seis meses depois, para um filho menor de Yanowich por R$ 500 mil.

Também foram presos Sidney Emerson da Silva, Adriano César de Camargo, César Sinigalha Alvares, João Vinicius Tavares Corrêa, Alexandre da Silva, Rondinei Aparecido de Assis e Silva e Pedro Gustavo da Silva. O GLOBO não conseguiu contato com as defesas dos citados.



Conteúdo Original

2025-05-14 09:00:00

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE