Preso desde 2022 pelo crime cometido em 2019, Cupertino foi condenado após dois dias de julgamento por triplo homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. Rafael morreu aos 22 anos, em frente à casa de Cupertino, quando estava acompanhado pelo pai, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e pela mãe, Miriam Selma Miguel, 50, que também morreram baleados.
De acordo com Mirian Souza, uma das advogadas que representam o empresário, os argumentos do recurso ainda estão sendo elencados pela defesa para serem apresentados na segunda instância. A manifestação feita nesta quinta-feira (5) apenas indica ao juízo que haverá contestação.
Mirian afirma que dentre os argumentos a serem levados a um desembargador do TJ-SP estão o de que houve cerceamento ao direito de defesa e quebra da cadeia de custódia durante as investigações — reforçando ideias que foram rechaçadas no julgamento da semana passada. A defesa pretende pedir a anulação do júri sob a alegação de que o grupo de sete pessoas sorteadas para analisar o processo decidiu de forma contrária ao que indicavam as provas juntadas nos autos.
Caso essa pretensão não seja atendida, as advogadas de Cupertino pedirão também a diminuição da pena para que o empresário possa progredir mais rápido para o regime semiaberto. A sentença proferida pelo juiz Antonio Carlos Pontes de Souza pontuou que o réu deve permanecer em regime fechado, considerando que o crime “gerou abalo psicológico não apenas à família da vítima, mas igualmente à família do próprio réu”, e lembrando ainda que o crime foi cometido com “extrema violência” e na presença da filha do réu e namorada da vítima.
Durante o julgamento no Fórum Criminal da Barra Funda, foram ouvidas sete testemunhas, além dos três réus, ao longo de quase 22 horas de sessões.
A filha de Cupertino, Isabela Tibcherani, que à época do crime tinha 18 anos e namorava com Rafael Miguel, afirmou em seu depoimento que o pai era contrário ao seu namoro com o ator, que havia interpretado a personagem “Paçoca” na novela “Chiquititas”. Cupertino, segundo Isabela, recepcionou Rafael e os pais com “agressividade” na data do crime, quando a família foi deixá-la em casa, na Zona Sul da capital paulista. Após ser puxada pelo braço para dentro do imóvel, disse que ouviu os disparos. Foram sete tiros em Rafael, três em seu pai e dois na mãe. Isabela negou que houvesse mais alguém na rua naquele momento.
Já Cupertino negou o crime e atribuiu os assassinatos a um “vagabundo” que apareceu no local quando ele estava diante de Rafael e seus pais. Não quis explicar quem seria o suposto “vagabundo” dizendo que na região periférica onde morava impera a “lei do silêncio”, o que poderia oferecer riscos aos seus familiares.
— Impossível eu ter cometido esse crime. Não tinha motivo. Eu seria capaz de coisas piores para defender um filho meu. (…) Eu fui covarde, mas não fui covarde por ter matado. Eu fui covarde porque eu podia ter evitado. Quando eu vi a cena, o vagabundo, eu tinha força suficiente. (…) Se eu tivesse metido a mão no peito do vagabundo e falado ‘aqui não, aqui é a milha família’, eu tinha força. Só que não. Eu fui omisso. Simplesmente desviei o olho, saí andando — disse.
O promotor Thiago Alcocer Marin, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), acusou Cupertino de “mentir de cara lavada” e ter transformado o júri num “picadeiro”. Marin disse que “nunca pegou um processo com tanta prova de autoria”, destacando que nada foi roubado das vítimas e que a perícia encontrou no local do crime cartuchos deflagrados do mesmo calibre da arma registrada no nome de Cupertino.
Mesmo após a condenação, o empresário segue preso no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II, na região metropolitana de São Paulo. Sua transferência para uma penitenciária depende do andamento de trâmites na Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
2025-06-06 18:53:00