Como funcionava o esquema de tráfico na Favela do Moinho

De acordo com as investigações, mesmo após ser preso em agosto de 2024, em decorrência da Operação Salus et Dignitas, que mirou nas lideranças do tráfico na região central, Leo do Moinho, como é conhecido, manteve uma rede de influência


De acordo com as investigações, mesmo após ser preso em agosto de 2024, em decorrência da Operação Salus et Dignitas, que mirou nas lideranças do tráfico na região central, Leo do Moinho, como é conhecido, manteve uma rede de influência na comunidade, que fica na beira dos trilhos de trem da Linha 8-Diamante, na região dos Campos Elíseos, no centro da cidade.

Familiares e apadrinhados, segundo as investigações, mantiveram o modus operandi de Leo, blindando a região e atuando para intimidar e extorquir famílias que seriam removidas após o governo estadual, em parceria com a gestão federal, formalizar uma ajuda habitacional de até R$ 250 mil para as famílias. O plano do estado é transformar a comunidade em um parque. Ao G1, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya afirmou que a propina poderia chegar a R$ 100 mil por família.

Alessandra Lopes, irmã de Leo do Moinho, presa na segunda-feira, seria uma das responsáveis por liderar a cobrança. Atuando na “Associação de Moradores da Favela do Moinho”, ela também organizava manifestações que, segundo a representação, tinham como objetivo dificultar ações policiais na comunidade.

— Não tinha nada na minha casa, eles colocaram — afirmou Alessandra na chegada à Divisão de Capturas, do Departamento de Operações Especiais (Dope), na manhã de segunda. O GLOBO tenta contato com a defesa.

Outra familiar de Leo que foi presa é Yasmin Moja Flores, filha de Alessandra e sobrinha do suposto líder do PCC. Yasmin trabalha na companhia de lixo da comunidade e morava em um dos endereços do tio com o marido, cujo andar térreo era utilizado para “armazenar ilícitos”. Ela também foi presa em flagrante.

De acordo com o MP, Leo também mantinha influência na região através do seu “sucessor”, José Carlos da Silva, conhecido como Carlinhos, nomeado diretamente pelo líder para assumir o tráfico na área. As investigações apontam que o comando do território teria saído das mãos dos Moja por “suspeitas levantadas em torno de seu envolvimento com as atividades ilícitas coordenadas por Leonardo”.

O esquema criminoso na comunidade se mantinha através das “Torres do Moinho”, edificações usadas para armazenar drogas e armamentos e que já funcionaram como central de comunicação da facção; as “casas-bomba”, três imóveis que servem como depósitos para drogas e armas; além de pontos de observação nos telhados da favela, utilizados por “olheiros”.

O transporte de drogas era feito por carroceiros da própria comunidade, em carrinhos de supermercado. Fingindo recolher materiais de reciclagem para revenda em ferros-velhos, eles escondiam drogas em sacolas e alimentavam a Cracolândia.

Os hotéis e pensões que pertenceriam aos suspeitos também serviriam para lavar dinheiro e estocar drogas, enquanto os ferros-velhos eram usados para a lavagem de dinheiro como receptores de fios de cobre roubados da fiação elétrica da cidade. Nesses ferros-velhos, ainda segundo o Ministério Público, dependentes químicos são submetidos à situação análoga à escravidão, trabalhando em troca de doses de cachaça e pequenas quantias de drogas.

No total, foram expedidos 10 mandados de prisão preventiva e 21 de busca e apreensão, ao menos oito pessoas foram presas; veja quem são os investigados, de acordo com o MPSP:

  • ALESSANDRA MOJA CUNHA — Irmã de Leo do Moinho e líder comunitária “que exerce importante papel na mobilização e organização das manifestações públicas que blindam a comunidade das intervenções”, além de auxiliar o irmão.
  • JOSÉ CARLOS DA SILVA (vulgo “CARLINHOS”) — Nomeado por Leo do Moinho para assumir a liderança local do tráfico de drogas depois de sua prisão. Consta que sua indicação, em vez de um dos membros da família Moja, se deve às suspeitas levantadas em torno de seu envolvimento com as atividades ilícitas coordenadas por Leonardo.
  • JORGE SANTANA — Identificado como um dos responsáveis pelo armazenamento de drogas e armas no interior da favela. É proprietário do “Bar do Jorge”, “onde foi visto por diversas vezes trabalhando, na presença de lideranças do tráfico e de ‘olheiros’”.
  • CLAUDIO DOS SANTOS CELESTINO (vulgo “XOCOLATE”, “MC XOCOLATE”) — músico, é o antigo proprietário do “Moinho Burger”, “Moinho Lounge Bar” e “Xocolounge”, apontados como propriedade de Leo do Moinho. Além de sediar eventos musicais, o local “também é ambiente de mercância ilícita de entorpecentes, assim como os cômodos residenciais, que têm sido utilizados para o armazenamento de armas, drogas e material para o preparo da droga”.
  • PAULO ROGÉRIO DIAS — responsável pela distribuição da droga que sai da Favela do Moinho. O processo envolve a ação de carroceiros, que transportam os entorpecentes em sacolas. “As carroças saem da comunidade por meio de seu acesso principal mediante a coordenação direta de Paulo, que se apresenta publicamente como dono das carroças.
  • YASMIN MOJA FLORES — Filha de Alessandra Moja e sobrinha de Leo do Moinho, é líder comunitária e trabalha na companhia de lixo da comunidade. Ela reside em um dos prédios pertencentes ao tio, cujo andar térreo está sendo utilizado para armazenar ilícitos.
  • RONALDO BATISTA DE ALMEIDA (vulgo “CHORÃO”) e REGINALDO TERTO DA SILVA (vulgo “NALDO”) — Responsáveis pela “disciplina” da comunidade, possuindo como uma de suas atribuições zelar para que os imóveis pertencentes a Leonardo Moja não sejam “invadidos ou afetados pelas ações empreendidas pelo CDHU”. Ambos também estão envolvidos com a cobrança de propina dos moradores, sendo “Chorão” responsável pela contabilidade do tráfico e “Naldo” pela distribuição de drogas.
  • ADEMARIO GOES DOS SANTOS (vulgo “LIGEIRINHO”) — Subordinado a “Chorão” e “Naldo” nas funções de “disciplina”, também se ocupa da vigilância dos imóveis pertencentes a Leonardo Moja e da coordenação do tráfico de drogas.
  • LEANDRA MARIA DE LIMA — Irmã da esposa de Leonardo Moja e atualmente na liderança do tráfico de drogas e da “disciplina” da comunidade, gerenciando para que as casas do cunhado não sejam invadidas, além de ser responsável pela cobrança de propina.



Conteúdo Original

2025-09-09 03:30:00

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