Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, de 63 anos, foi o chefe do tráfico mais procurado dos anos 1990. Após cumprir 25 anos de pena, deixou a prisão em 2022 prometendo abandonar a vida criminosa. No entanto, ontem, ele foi preso novamente. De acordo com investigações da 32ª DP (Taquara), Celsinho não apenas continuava no comando da facção Amigos dos Amigos (ADA), fundada por ele, como também teria se unido a chefes de uma milícia e do Comando Vermelho, em uma aliança para expandir o domínio sobre a Zona Oeste do Rio.
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Além do mandado de prisão temporária contra Celsinho, a Polícia Civil obteve ordens judiciais para prender o traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos chefes do CV, que não foi localizado, e o miliciano André Costa Barros, o Boto, que já está na cadeia. Os três estão sendo acusados de tráfico de drogas e associação para o tráfico.
A investigação aponta que o objetivo da aliança era a expansão territorial. O Comando Vermelho teria interesse em usar as áreas controladas por Boto — as comunidades Dois Irmãos e Vila Sapê, em Curicica — e por Celsinho — a Vila Vintém, em Padre Miguel, e outras favelas próximas — como bases para invasões na Zona Oeste, principalmente em Santa Cruz.
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Em entrevista na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que a prisão de Celsinho representou um duro golpe contra a aliança criminosa. Santos destacou que, mesmo preso, ele continuava a comandar a ADA e atuava como peça-chave nas negociações com outras facções. Segundo o secretário, a empresa de venda de carne suína montada por Celsinho após deixar a prisão seria uma fachada para ocultar suas atividades no tráfico.
— Celsinho voltou para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Continuava comandando uma facção poderosa e participando de um acordo estratégico com o Comando Vermelho e com o miliciano Boto para dominar territórios na Zona Oeste — disse Santos.
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‘Estou criando porcos’
Ao ser preso, Celsinho negou as novas acusações:
— Estou criando porcos. Não tem nada a ver com crime.
A cooperação entre criminosos tradicionalmente considerados inimigos chamou a atenção dos investigadores.
— Essa investigação demonstra e comprova que criminosos de facções diversas estão se unindo para aumentar o poder bélico e a atuação nos territórios. Essa organização é preocupante e mostra que nós também, sociedade, Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário, temos que nos unir — afirmou a delegada Raissa Seles, diretora do Departamento Geral de Polícia da Capital.
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O fio da meada da investigação na 32ª DP foi a apreensão de drogas com a inscrição ADA nas embalagens em comunidades da milícia, como Curicica e Gardênia Azul, esta anteriormente dominada por Boto. Depois, depoimentos de suspeitos de tráfico presos confirmaram a suspeita de uma união de Celsinho com o miliciano. Em seguida teria surgido o CV, interessado na localização estratégica das favelas de Curicica e Vila Vintém. Segundo o delegado Marcos Buss, da 32ª DP, há provas materiais e testemunhais que indicam uma atuação coordenada. As investigações apontam que traficantes do CV chegaram a executar milicianos do grupo de Boto que eram contrários à aliança.
— Um acordo supostamente celebrado entre Celsinho e Doca teria ocorrido por videoconferência, na qual negociaram os termos dessa aliança — explicou o delegado.
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Mesmo preso desde março de 2021, Boto teria participado dessa negociação com as duas facções. Dissidente da quadrilha do miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que controlava grande parte da Zona Oeste até ser preso em dezembro de 2023, o suspeito teria comandado uma onda de invasões e assassinatos em favelas de Campinho, Praça Seca, Jacarepaguá e Recreio até ser preso.
Nesta quinta-feira, Celsinho foi preso em sua casa, na Vila Vintém. Ele estava acompanhado da esposa e de dois netos. Segundo a polícia, ele foi levado diretamente para o caveirão, que foi alvo de tiros. A neta do acusado, Lara Mara, porém, negou que tenha tido disparos. Segundo ela, os agentes arrombaram a porta enquanto a família dormia, agrediram a sua avó com um soco e apontaram um fuzil para a cabeça do irmão dela, de 16 anos. Até o cachorro da família foi morto a tiros, contou Lara. Celsinho chegou por volta das 8h à Cidade da Polícia, descalço e sem sorrir, como costumava fazer.
O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, negou as agressões e disse que vai abrir procedimento para investigar “as falsas declarações de Lara Mara”.
(Colaboraram Ana Carolina Torres e Carolina Callegari)
2025-05-09 04:30:00