Noiva de Oruam, Fernanda Valença, acompanhou o cantor durante sua entrega à políciaÉrica Martin / Arquivo O Dia
Na última segunda-feira (6), Fernanda participou de uma audiência da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que se reuniu para discutir os direitos da produção cultural nas favelas e a criminalização de artistas periféricos. Em seu discurso, a jovem disse que produzir arte destacando a vida de comunidades não torna os autores em criminosos.
“Durante muito tempo, a sociedade tentou criminalizar a cultura negra e periférica, como fizeram com a capoeira, com samba e agora ainda fazem com o funk, trap e o rap. Não há como calar a favela porque esses ritmos não são apenas um som, são vozes e resistência de um lugar que todos os dias luta, onde nem sempre as crianças têm acesso às mesmas oportunidades que outras. Vocês o conhecem como Oruam, mas hoje eu não falo só pelo artista. Eu falo pelo Mauro Davi. O ser humano por trás do nome artístico. Mauro canta suas próprias dores, alegrias, vivências e muitas vezes empresta a sua voz para dar vida à realidade de outras pessoas. Isso é algo que era para ser normal no meio artístico”, disse.
A influenciadora voltou a destacar que o cantor não é bandido. “Mauro não é e nunca foi o que tentam a todo custo fazer dele. Cantar a realidade da favela, de pessoas pretas, ou seja, a realidade do Brasil, não te torna um bandido, mas agora podemos ver que te torna um alvo. Ela carrega o peso de tantos outros artistas que foram e ainda são discriminados, criminalizados e silenciados simplesmente por sua origem, pela cor da pele e por contarem a verdade em forma de música e em forma de arte”, afirmou.
Acusação
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) afirma que Oruam agiu com dolo eventual, ou seja, assumiu o risco de matar o delegado Moysés Santana, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), e o policial Alexandre Ferraz. A denúncia destaca que algumas das pedras arremessadas pesavam até 4,85 kg, com potencial para causar lesões fatais. Sete pedras teriam sido jogadas de uma janela do andar superior, em uma altura de 4,5 metros. Willyam Matheus Vianna Rodrigues Vieira, de 22 anos, amigo do músico, também responderá pelo crime de homicídio qualificado.
“A doutrina nacional é pacífica ao reconhecer que o dolo eventual se caracteriza quando o agente não deseja diretamente o resultado típico, mas prevê sua ocorrência como possível e, mesmo assim, assume o risco de produzi-lo”, ressalta a denúncia da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da Área Zona Sul e Barra da Tijuca.
Na decisão que tornou a dupla ré, a juíza Tula Corrêa de Mello, da 3ª Vara Criminal do Rio, destacou que os acusados assumiram o risco da letalidade da ação. Na ocasião, o policial Alexandre foi golpeado nas costas e no calcanhar esquerdo, enquanto o delegado Moysés conseguiu se abrigar atrás da viatura.
“Da mesma forma que uma arma de fogo pode instrumentalizar um delito de lesão – dependendo da região do corpo, distância e eventual socorro fornecido à vítima -, o instrumento eleito pelos denunciados, aliado à pontaria (cabeça das vítimas), dimensão, volume e quantidade das pedras, bem como método de arremesso de cima para baixo, ganha especial relevância em termos de análise do elemento subjetivo, no caso o dolo eventual, na medida em que as circunstâncias e comportamento subsequente dos agentes não revela arrependimento, indicando que assumiram o risco da letalidade da ação”, escreveu.
Além de aceitar a denúncia contra os acusados, a magistrada manteve a prisão preventiva de ambos. Para Tula, Oruam desprezou as forças policiais, desafiando os agentes a prendê-lo no Complexo da Penha, na Zona Norte, para onde foi após a ação no Joá. A região é dominada pelo Comando Vermelho.
2025-08-06 11:06:00