Alvo de mandado de busca e apreensão na manhã desta terça-feira, 14, o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, foi preso em sua mansão em Igaratá (SP), município que, nos últimos anos, se tornou reduto de influenciadores, funkeiros e tem atraído pessoas investigadas por associação ao crime organizado. No endereço do influenciador, a polícia apreendeu carros de luxo cromados, relógios e dinheiro em espécie.
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A mansão de Buzeira é avaliada em R$ 18 milhões e, no passado, era frequentada pelo empresário e pagodeiro Vagner Borges Dias, o Latrell Brito, preso no início do ano sob suspeita de fraudar licitações para favorecer empresas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Como mostrou O GLOBO, com pouco mais de 10 mil habitantes e a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, a cidade emoldurada por mansões e rodeada por cachoeiras transformou-se em um playground para fãs de lanchas, jet-skis e esportes náuticos. Cantores como MC Ryan, MC Negão Original e Oruam, por exemplo, já escolheram a região como cenário de seus clipes musicais.
Para além do “hype” entre influenciadores, as ligações do PCC com Igaratá não são poucas. Um promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirmou, sob reserva, que “dificilmente há investigações em que nenhum alvo tenha vínculos com a cidade”, seja frequentando, investindo ou se relacionando com alguém que se enquadre em uma dessas situações.
A cidade teria sido palco, por exemplo, de uma festa em comemoração à morte do delator do PCC Vinicius Gritzbach, em novembro. Quatro dias após o assassinato, o irmão de Kauê do Amaral Coelho — apontado como o olheiro que denunciou a localização do empresário aos atiradores no Aeroporto de Guarulhos — enviou mensagem a um amigo para convidá-lo: “Vamo aí pra Igaratá. Todo mundo lá. Comemorando”, escreveu João Victor Amaral Coelho.
Um dos nomes delatados por Gritzbach, Ademir Pereira de Andrade, também possui uma mansão à beira da represa da cidade.
O turismo náutico de Igaratá já foi um atrativo para policiais militares suspeitos de envolvimento com a facção. Segundo a Corregedoria da PM, ao menos três agentes frequentavam sítios de criminosos para andar de jet-ski.
Apesar das investigações, o delegado da cidade, Cláudio Boto, rejeita a ideia de que Igaratá tenha se tornado uma “colônia de férias” para criminosos. Segundo ele, apesar do hype em torno do município, o local segue pacato e com poucas ocorrências policiais.
Alvo da Operação Narco Bet, deflagrada nesta terça-feira pela Polícia Federal, a ação cumpriu 11 mandados de prisão e 19 de busca e apreensão. Além de Buzeira, foram presos Tacio Costa, conhecido como T10, e sua esposa, Ingrid Ohara, além do empresário Rodrigo Morgado.
A operação é um desdobramento da Narco Vela, deflagrada em abril, para reprimir o tráfico marítimo de drogas a partir do litoral brasileiro, e contou com a cooperação da Polícia Criminal Federal da Alemanha (Bundeskriminalamt – BKA). Um dos investigados, alvo de mandado de prisão, está em território alemão.
Segundo a PF, as investigações indicam que o grupo criminoso utilizava movimentações financeiras em criptomoedas e remessas internacionais para ocultar a origem ilícita dos valores e dissimular o patrimônio. Parte do dinheiro também teria sido direcionada a empresas ligadas ao setor de apostas eletrônicas (bets).
— Conseguimos identificar um sistema bastante intrincado de lavagem de dinheiro, envolvendo corretoras de criptomoedas e empresas ligadas a apostas online, as conhecidas bets. O foco da investigação hoje foi a descapitalização da organização criminosa — afirmou o delegado regional da Polícia Federal, Marcelo Alberto Maceiras.
A PF chegou aos influenciadores após a análise de materiais apreendidos com Rodrigo Morgado durante a Operação Narco Vela. O empresário atuava como contador dos alvos.
A defesa dos influenciadores, que compareceu à sede da PF em São Paulo nesta manhã, classificou as prisões como injustas, argumentando que a relação dos investigados com Morgado era estritamente profissional.
— A decisão que decreta a prisão preventiva foi feita com base em transações com o contador, algo normal — quem não transaciona com o seu contador? O que não foi explicado é qual seria o vínculo dessas operações normais entre contador e influenciador com o que se apura na Narco Vela — disse Felipe Cassimiro, advogado de Tacio Costa.
— Bruno cumpre rigorosamente suas obrigações fiscais. Ele não está envolvido em atividades ilegais e não participa de quaisquer atividades criminosas — completou Jonas Reis, advogado de Buzeira. Segundo ele, além do suposto envolvimento com o crime organizado, uma transação de R$ 19 milhões teria sido citada pela PF para justificar a prisão desta terça-feira.
2025-10-14 16:29:00