Açores, fim de março deste ano: a Polícia Judiciária portuguesa, com o apoio de autoridades portuguesas, espanholas, americanas e britânicas, apreende 6,5 toneladas de cocaína numa embarcação semissubmersível. Dos cinco tripulantes presos, três são brasileiros. A droga saiu de Macapá e iria para a Península Ibérica, de onde seria distribuída para outros países da Europa. Lá, valeria no atacado a obscena quantia de R$ 2,3 bilhões, usando como base o preço máximo estimado pelo relatório 2024 da European Union Drug Agency (Euda).
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Golfo da Guiné, março de 2024: a Marinha francesa, numa ação baseada em informações da Polícia Federal do Brasil, apreende 10,7 toneladas de cocaína em um barco de 20 metros de comprimento, com bandeira brasileira, que havia partido do Brasil rumo à África. A ação teve o apoio de autoridades americanas, britânicas e da Maritime Analysis and Operations Centre (Narcotics), uma iniciativa de oito países europeus para combate ao tráfico de drogas por via marítima e aérea.
Recife, setembro de 2023: 3,6 toneladas de cocaína são apreendidas pela Marinha do Brasil num pequeno barco a motor, perto da costa de Pernambuco. A embarcação tinha cinco tripulantes e iria para a África.
Lisboa, fevereiro de 2022: mais de 300 quilos de cocaína com alta pureza são encontrados numa carga de mamões papaia, desembarcada no Aeroporto Humberto Delgado. A operação policial, batizada Exotic Fruit, revelou uma joint venture de traficantes portugueses e brasileiros para transportar a droga entre o Rio de Janeiro e Lisboa, envolvendo o Comando Vermelho.
Sydney, setembro de 2020: a Australian Border Force apreende 552 quilos de cocaína escondidos em duas mil caixas de polpa de banana. A droga, segundo reportagem do “The Guardian”, foi enviada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A US$ 211 mil o quilo, a carga valeria mais de R$ 675 milhões, caso fosse distribuída.
As cinco situações acima, ocorridas nos últimos cinco anos, mostram que o Brasil é um entreposto de exportação de drogas. A Operação Narco Vela, realizada pela Polícia Federal na segunda-feira, é mais uma prova disso. A investigação da PF começou com a apreensão de três toneladas de cocaína num veleiro — daí o nome da operação — perto da costa africana pela Marinha americana. O valor dos bens bloqueados apenas por esta operação mostra o tamanho do problema: R$ 1,32 bilhão, entre carros de luxo e barcos.
O Brasil (ainda) não planta pés de coca nem refina cocaína em escala industrial, mas é uma potência exportadora do entorpecente. Apenas no ano passado, a Polícia Federal apreendeu 74,5 toneladas da droga. A Polícia Rodoviária Federal, outras 41,4 toneladas. Isso, sem contar as operações de todas as polícias militares e civis do país. E isso tudo, como mostram as histórias no início do texto, representa um montinho de pó diante do que efetivamente deixa as nossas fronteiras.
O PCC exporta cocaína. O CV também. Até a máfia sérvia está no jogo, como mostra um relatório da ONG Global Initiative Against Transnational Organized Crime. Nele, é contada a história do traficante sérvio Goran Nesic, o Ciga, extraditado pelo Brasil em 2018 e cuja saga criminal no país vale, por si só, um filme.
As facções do tráfico olharam para fora do Brasil e viram que o negócio é mais lucrativo e interessante. O risco é grande; o lucro, também. Por aqui, vão diversificando os negócios, cobrando taxas, explorando internet, furto de água e energia, venda de gás etc. Nem o rompimento da trégua entre PCC e CV vai atrapalhar. E, lá fora, trabalham com afinco para inundar o mundo com cocaína.
2025-05-07 03:30:00