Dez meses após o prefeito reeleito de Santa Quitéria (CE), José Braga Barrozo (PSB), ser preso por ligações com a facção Comando Vermelho, o município cearense terá a sua eleição suplementar para o cargo, vago desde então, neste domingo. Na corrida, que tem como favorito o filho do prefeito cassado e atual interino, Joel Barroso (PSB), dois nomes da base do governador Elmano de Freitas (PT) — o senador Cid Gomes (PSB) e o deputado federal José Guimarães (PT) — apoiam candidatos que se opõem.
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O ex-prefeito Braguinha, como Barrozo é conhecido em Santa Quitéria, teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará em setembro. As investigações da Polícia Civil mostraram que a chapa vitoriosa no pleito de 2024 havia contado com o apoio do CV para garantir a eleição. Apoiadores do adversário e ex-prefeito de Santa Quitéria Tomás Figueiredo (MDB) foram ameaçados de morte ou de expulsão da cidade.
“Se apoia o Tomás, vai entrar no problema” e “Quem apoiar o 15 vai morrer” estavam entre as pichações feitas pela facção em muros da cidade na eleição de 2024. Drogas também teriam sido usadas para comprar votos. Por conta do histórico de envolvimento do crime organizado na política local, o envio de militares para atuar na segurança do pleito foi autorizado pelo governo federal.
Barrozo acabou preso horas antes de tomar posse, no dia 1º de janeiro. O vice, Francisco Gardel Mesquita Ribeiro, não chegou a ser detido, mas também foi afastado do cargo. O comando da prefeitura acabou, assim, com o presidente da Câmara de Vereadores, Joel Barroso (PSB), filho de Braguinha e favorito para seguir à frente da gestão municipal após a nova eleição de domingo.
Contra o atual interino disputam outras duas candidatas. Uma delas é a ex-deputada estadual Cândida Figueiredo (União), casada com Tomás. A outra é a petista Lígia Protásio, que havia sido vice de Braguinha na gestão anterior. Ela também disputou nas urnas em 2024, mas terminou em terceiro lugar com 29% dos votos. Ambas tentaram conseguir na Justiça Eleitoral a impugnação da candidatura de Barroso, sob a alegação de que caracterizaria um caso de inelegibilidade reflexa, quando cônjuges e parentes de chefes do Executivo ficam impedidos de disputar cargos eletivos.
A Justiça Eleitoral entendeu que uma eventual vitória do candidato do PSB não acarretaria uma indevida continuidade da família no poder, já que Braguinha não chegou a assumir o segundo mandato. Em relação ao envolvimento do ex-prefeito com o CV, o relator Leonardo de Vasconcellos afirmou que os efeitos da inelegibilidade do pai do candidato não podem se estender ao filho. A candidatura de Barroso foi deferida.
A disputa em Santa Quitéria opõe nomes da base do governador Elmano de Freitas (PT), que se mantém distante do pleito, apesar de ter uma correligionária entre os candidatos. No início do mês, ele chegou a afirmar em uma coletiva que teria “cautela” e respeitaria as duas candidaturas ligadas aos partidos da base governista. O diretório municipal do PT, por sua vez, liberou os vereadores filiados à sigla para votarem em outros candidatos. No último fim de semana, o senador Cid Gomes (PSB) e o deputado federal José Guimarães (PT) estiveram no município em eventos de apoio a Barroso e Protásio, respectivamente.
— Foi pedido ‘não vamos nos meter lá em Santa Quitéria’, e eu disse lá em Brasília e disse outra vez em Fortaleza: e como está a campanha? Só o fato delas terem tido a coragem de enfrentar essa disputa já merece o nosso apoio — disse Guimarães ao lado de Protásio e da candidata a vice, Rayane Bendor (PT). — Quem quer desenvolver Santa Quitéria não pode ter outro palanque, porque esse palanque é o da renovação, da mudança, da seriedade. É o palanque de quem não tem esquema com nada.
Em entrevista a jornalistas durante o comício, Cid Gomes defendeu a candidatura de Barroso e afirmou que os adversários querem ganhar “na marra”.
— Não tenho dúvida que o nosso Joel pegou a batata quente, assumiu numa hora difícil — disse o senador, cuja família tem origem política na cidade vizinha Sobral. — O povo que perde aqui em Santa Quitéria vai sempre no tapetão. Quer sempre ir atrás de meios, de recursos, na polícia, na Justiça, onde quer que seja, para ver se ganha a eleição na marra. Isso não tem mais vez.
A disputa em Santa Quitéria reflete outras tensões na aliança entre PT e PSB no Ceará. Apadrinhado por Cid Gomes para disputar uma das vagas ao Senado em 2026, Júnior Mano (PSB), que também estava no palanque de Joel no último domingo, foi alvo de uma crítica velada de Guimarães durante uma entrevista ao podcast As Cunhãs na semana passada. O petista, que almeja ser um dos nomes da esquerda na urna, disse que não aceitará que “qualquer pé rapado” seja lançado ao Senado, nem irá “recuar em nada”. Sem citar nomes, ele também criticou parlamentares que votavam contra o governo, caso de Mano, que votou contra a MP 1303.
— Se não estão ajudando o Lula agora na Câmara, vão ajudar no Senado? Não vão, vão passar vergonha — disse Guimarães no podcast.
Ao jornal O Povo, Mano disse que o deputado “exagerou”, apesar de ter o direito de defender o governo como líder na Câmara. Não há candidatos definidos para a disputa ao Senado no ano que vem, e nomes como o de Eunício Oliveira (MDB) e do próprio Cid Gomes, que já declarou não ter interesse em disputar o cargo, também são ventilados. Gomes tem planos de fortalecer o PSB no estado e já declarou querer eleger de cinco a seis deputados federais e um senador.
2025-10-24 03:31:00
