Um assalto em que viu, aos três anos de idade, o pai ser baleado. Um pouso forçado de avião que pôs sua família em risco. Um acidente grave que quase ceifou a vida de um de seus filhos. A vida de Angélica é marcada por tragédias. Mas ela prefere enxergar o copo cheio como mostra em entrevista à jornalista Maria Fortuna. Durante o videocast ‘Conversa vai, conversa vem’ – no ar no Youtube e nas redes sociais do Globo, além de no Spotify -, a apresentadora conta o que aprendeu em cada uma dessas situações de vulnerabilidade.
Você se tornou artista por causa de um trauma. Viu um assalto em que seu pai foi baleado. Para te alegrar, sua mãe começou a te levar à TV. Junto com sua família, sobreviveu a um pouso forçado de avião. Seu filho sofreu um acidente grave. Podemos dizer que a sua vida é marcada por renascimentos a partir dessas tragédias?
Sim. E agradeço a todas elas porque, de alguma forma, me constituíram assim, me colocaram nessa força, me ensinaram muito. Com três anos viver um assalto é um trauma gigantesco. De momentos vulneráveis, pesados, saí mais forte, com mais sagacidade. Claro que isso é olhar para o lado bom, busquei isso.
Quando eu era criança, foi intuitivo na minha mãe… Eu muito pequena, traumatizada com tudo que tinha vivido. Depois do assalto, do trauma pesadíssimo que estava vivendo, eu não gostava de gente. Não podia ver gente. Com três anos, andava na rua embaixo da saia da minha mãe, literalmente. Não olhava para as pessoas, tinha medo de gente. Ela me levou para o programa do Chacrinha porque aquilo me alegrava. Veio a televisão que virou um mundo para mim. Foi através desse assalto. Se não fosse isso, talvez não tivesse rolado.
- Pedro Bial. ‘Não escolhi, peguei os bondes’, diz jornalista ao ‘Conversa vai, conversa vem’
Depois do acidente de avião, fiquei muito mal de cabeça, com crise de pânico. E aí comecei a me aprofundar no caminho do autocuidado. A experiência com meu filho considero a mais dolorosa. Até mais que o acidente do avião porque filho, né, é visceral… Não dá pra explicar o que a gente sente quando vê um filho numa situação de risco de vida. Mas também me me ensinou muito sobre amor, força. Até a que ele mesmo passou pra gente.
Boto como bênção para que eu me tornasse uma pessoa forte e desse valor à vida além do que muita gente dá. Quando se vive uma coisa dessas, a vida ganha um brilho diferente, uma coisa pura e importante. Tudo isso me mostrou o a importância de viver o momento, de estar presente e com pessoas que importam. Não perder tempo com bobeira, com briga.
Recentemente, revelou ter sofrido um abuso sexual na época da divulgação da música “Vou de táxi”, em Paris. Como esse episódio te marcou e qual a importância de falar sobre ele?
Tem que falar. Só falei há pouco tempo porque não sabia que tinha vivido isso um abuso. Descobri ao entrevistar Luciana Temer, do Instituto Liberta. Ela narrou uma situação parecida e eu: “Mas isso é abuso? Então, quero contar um”. Na hora, me deu vontade de contar. Depois que falei, tirei um peso gigante que nem sabia que tinha. Estava marcado, printado na minha história.
Achava que abuso era estupro, toque nas partes íntimas. Não tinha parado para prestar atenção que existe o abuso verbal, o abuso sutil, que foi o que vivi. As pessoas ficarem passando a mão em mim e ninguém fazer nada. Isso é muito triste, viver isso em silêncio. Achar que a culpa é sua. Ah, aconteceu com ela porque estava com a saia curta… Acontece muito, está acontecendo agora. E não é pouco. Tem que falar com as meninas, dar nome às coisas, ilustrar, fazer visualizarem a cena. Não vou dizer que é fácil chegar para uma menina de 12 e dizer: “Se o menino chegar e colocar a mão aqui, você tem que afastar, gritar”. Eu já falo mais: “Chuta ele!”
2025-12-12 07:01:00



