Autêntico e direto, Gustavo Mendes não foge de assuntos delicados. Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, o ator e humorista, que está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “A Manhã Seguinte”, dirigida por Thereza Falcão e Bel Kutner, abriu o coração sobre sua trajetória pessoal e profissional, relembrando momentos marcantes —aos excessos com álcool e remédios antes da cirurgia bariátrica, em 2018, além do impacto de ser reconhecido pela imitação da ex-presidente Dilma Rousseff.
Questionado como a mudança pós-cirurgia impactou não só sua saúde, mas também a relação com o palco e com o humor, ele destaca: “Mudou tudo, reconfigura o seu HD interno, totalmente. Com relação ao humor, não mudou nada porque a primeira coisa que você precisa saber para fazer humor é desapegar da vaidade, e eu sabia disso desde o primeiro dia. Nunca tive problema de ficar feio em prol de um personagem, mas ela me trouxe questões da vida pessoal”.
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Segundo o artista, o procedimento trouxe benefícios à saúde, principalmente em relação a enfrentamentos internos que encarou antes da bariátrica. “O álcool, que tomou conta da minha vida por um tempo, por um bom tempo, aliás, bem difícil largá-lo. Outras drogas, remédios para dormir. Mas é um passado bem resolvido, graças a Deus”, revela.
A experiência o levou a reflexões profundas: “Não sou um todo poderoso, a vida é frágil. O dinheiro, o poder, a fama são uma ilusão. Não querem dizer absolutamente nada (…) Depois da bariátrica, fui obrigado a viajar para dentro de mim, enfrentar questões que fingia não existir, como o medo da rejeição, a compulsão, os vícios. Consertei, e que bom, porque senão, com certeza não estaria vivo aqui hoje”.
Mesmo reconhecido pela TV e pela internet, Gustavo acredita que hoje o maior desafio é justamente a televisão. “Não tem mais humor na TV aberta, e até no streaming no Brasil pouco se produz o humor que o brasileiro gosta de assistir. É um desafio voltar para a TV, é um desafio encontrar um projeto legal (…) O teatro é minha casa. Com o avanço da inteligência artificial, é o único lugar em que o público tem certeza de que está vendo algo de verdade, feito por seres humanos” , salienta.
“Foi ela quem me levou para o mundo”
Sobre o legado da imitação de Dilma, ele garante que fez as pazes com a personagem. “Foi ela quem me levou para o mundo, quem abriu todas as portas. Em um momento, fiquei com medo de ficar conhecido só por isso, mas hoje revisito a minha história com orgulho. Fiz muita terapia, cuidei da saúde e fiz as pazes. Adoro fazer. O meu show solo se chama ‘Aquele Cara Que Imitava a Dilma’, justamente o que eu morria de medo: de ficar conhecido como aquele cara que imitava a Dilma, mas é um lugar que eu gosto”, confessa.
A sexualidade também nunca foi tabu para Gustavo Mendes. “Preconceito direto, eu nunca recebi, não. Mas há um lugar de preconceito (…) Não quero ser escalado apenas para personagens gays (…) Quem gosta do meu trabalho tem que gostar de mim. Na peça ‘Amanhã Seguinte’, faço um gay delicioso, que é o Márcio, me divirto muito. Aliás, posso ser mais bicha em cena porque sou uma bichinha problemática, não sou tão bicha quanto gostaria de ser. Eu queria ser mais fã de diva pop, usar umas roupas mais extravagantes (risos), mas não sou eu. Aí, no teatro, acho que posso ser a bichinha que eu acho que deveria ser (risos). Não dá pra gente se esconder, não dá. Então, quem me ama tem que me amar por completo. Sou esse cara: gay, livre e um grande cara”, afirma.
“Não há nada que resista ao talento”
Para jovens artistas LGBTQIAPN+, o ator deixa um recado: “Seja bom, seja incrível, mas seja leve, divirta-se. Não há nada que resista ao talento. E guarde dinheiro, porque viver da arte é escolher a instabilidade. Se você entender que ama tanto isso, a ponto de suportar a instabilidade, vá em frente e seja feliz”.
O humorista ainda revela sonhos e projetos que deseja realizar: “Quero muito fazer um programa de variedades, desses da linha matinal ou à tarde. A curto prazo, quero fazer uma novela inteira. Tenho muita vontade de viver essa experiência do começo ao fim. E também fazer mais cinema, um filme por ano seria ótimo”.
Espetáculo “A Manhã Seguinte” com Carol Castro
Atualmente, Gustavo pode ser visto no espetáculo “A Manhã Seguinte”, sucesso internacional que estrou no Brasil nesta sexta-feira (5/9). Dirigida por Thereza Falcão e Bel Kutner, a peça fica em cartaz até 12 de outubro, no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, com elenco formado também por Carol Castro, Bruno Fagundes e Angela Rebello.
“O que mais me atraiu neste espetáculo foi a possibilidade de contracenar com a Carol de novo. Ela é apaixonante, além de ser uma atriz brilhante. O Bruno Fagundes é um grande ator. E ele, assim como eu, optou pela liberdade, por não se esconder, se assumiu gay muito cedo. A gente vive num país extremamente homofóbico e preconceituoso e encarou isso de frente. Então, desde que vi o Bruno dando a entrevista, eu falei: Quero ser amigo desse cara. E a Ângela, que é maravilhosa”, conta.
Gustavo Mendes confessa que estava com muita saudade de atuar. “Não faço teatro, teatro com atores em cena junto comigo, há pelo menos uns 16 anos. Entendi que era uma oportunidade de voltar, do público conhecer uma outra faceta minha e me divertir com eles, aprender com eles. Claro, a direção da Bel Kutner, que é uma mulher maravilhosa, e a Teresa Falcão, que é, além de diretora, uma autora esplêndida. Queria muito estar nesse lugar”, finaliza.