Em entrevista ao portal LeoDias, a atriz – no ar na reprise da novela “América”, no canal Viva – fala sobre o impacto da doença na carreira, a formação em Psicologia e o desejo de voltar aos palcos após anos de afastamento
Com a reprise da novela “América” (2005), sucesso da TV Globo, no canal Viva, Franciely Freduzeski volta aos holofotes ao reviver a personagem Conchita. A atriz retoma a carreira após um período afastada devido às dores crônicas causadas pela fibromialgia — síndrome com a qual foi diagnosticada em 2022. Desde então, tem se dedicado a dar visibilidade à doença, atuando pela conscientização e acolhimento. Formada em Psicologia, a artista de 46 anos também passou a atuar na área.
Em entrevista ao portal LeoDias, ela fala abertamente sobre o problema de saúde que tem abordado com frequência em sua trajetória. Como forma de reconhecimento, recebeu a medalha Chiquinha Gonzaga, honraria concedida a mulheres que se destacam por suas ações em prol de causas democráticas, culturais e sociais. “Foi um período difícil! Tudo começou com dores intensas e inexplicáveis, que me levaram a uma verdadeira peregrinação por médicos e exames. Só depois de muito tempo veio o diagnóstico de fibromialgia”, conta.
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Matheus Nachtergaele contracenou com Franciely em ‘América’, em 2005Divulgação/Cedoc / TV Globo)

Franciely Freduzeski como Conchita, em “América”Divulgação/TV Globo

A atriz Franciely FreduzeskiDivulgação/Angelo Pastorello

A atriz Franciely FreduzeskiDivulgação/Alessandra Tolc

A atriz Franciely FreduzeskiDivulgação/Alessandra Tolc

A atriz Franciely FreduzeskiDivulgação/Alessandra Tolc
“Essa síndrome me tirou do palco, da TV, da rotina. Eu me sentia invisível, julgada. Foi um processo doloroso, físico e emocional, mas também um ponto de virada. Estudei Psicologia, mergulhei no ativismo e hoje uso minha voz para dar visibilidade a quem sofre com dores que ninguém vê”, continua.
A atriz, que nasceu em Laranjeiras do Sul, no Paraná, revela como foi seu processo até o diagnóstico da fibromialgia. “Muito difícil. Eu era extremamente ativa, corria na areia, vivia na academia. De repente, não conseguia nem passear com meus cachorros. Passei por mais de 25 médicos, fiz todos os exames possíveis, e muitos diziam que era psicológico, que era coisa da minha cabeça”, relata.
E continua: “Isso me fez duvidar de mim mesma, da minha força, da minha sanidade. Me senti inútil, um peso. Mas quando finalmente recebi o diagnóstico, foi como se eu tivesse recuperado parte da minha identidade. Saber o que eu tinha me deu ferramentas para lutar, para me tratar, para me aceitar.
“A doença me isolou”
Franciely confessa que não tem como estar feliz sentindo dor 24 horas por dia. “Quem tem fibromialgia tem depressão. A doença me isolou, me fez repensar tudo. Mas também me fez buscar conhecimento, me levou à faculdade de Psicologia, me fez entender a dor do outro. Hoje, mesmo com limitações, eu escolho viver”, salienta.
Em seguida, a morena revela quais são os maiores desafios de conviver com uma doença crônica. “Foi mudar minha rotina. Entender que eu podia fazer as coisas de uma maneira diferente. Foi entender que eu iria ter qualidade de vida porque eu já não acreditava em mais nada”, fala.
Questionada se já sentiu preconceito ou desinformação em relação à condição, ela dispara: “Todos os dias. As pessoas não entendem ainda doenças invisíveis. O ser humano já julga tudo naturalmente. Eu, por ser atriz, jovem, bonita, piora tudo porque ninguém acredita que eu tenho dor 24h. As pessoas acham que se você tem uma aparência boa, você não pode reclamar de nada ou você não tem nenhum tipo de problema”.
“Faço ponte aérea toda semana, uso meu cordão do girassol com minha carteira de identificação que tenho fibromialgia. Toda semana eu ouço piadas. Já teve pessoas que gritaram comigo, tem pessoas que simplesmente entram na minha frente como se eu não estivesse na fila. Infelizmente, as pessoas realmente só leem a capa do livro. Aprendi muito com isso (…) Julgo cada vez menos a vida do outro”, completa.
Cuidados com a saúde física e emocional
Franciely conta como cuida da saúde física e emocional atualmente. “Faço pilates e musculação só com fisioterapeutas especializados em dor. Minha alimentação é saudável. Ficar muito tempo sentada ou deitada ou em pé também é ruim. Importante ter os travesseiros corretos”, diz.
“Sou cuidada por psiquiatra, psicólogo, neurologista e fisioterapeutas. Faço exercícios físicos todos os dias. Como tenho muita dor na mandíbula, até fisioterapeuta bucal tenho. Não posso ficar na noitada, excesso de barulho e luz. Quando começa a doer alguma coisa, já tomo algum relaxante muscular para não virar uma crise”, emenda a artista, acrescentando que considera essencial uma rede de apoio emocional, mas pontua: “Infelizmente, a família é a que mais julga e menos entende”.
Psicologia em um momento de crise pessoal
Questionada sobre o que significou receber a medalha Chiquinha Gonzaga, Franciely ressalta: “Uma honra imensa, um reconhecimento que vai muito além da minha trajetória artística. Representa uma luta silenciosa, dolorosa, que por muito tempo me fez sentir invisível. Quando fui diagnosticada com fibromialgia, me senti sozinha. Mas hoje transformei essa dor em uma missão: dar voz a quem sofre calado”.
A atriz entrega que entrou na Psicologia em um momento de crise pessoal, buscando entender a dor que sentia, que os médicos não compreendiam. “A faculdade me acolheu e me motivou, mesmo com muitas dificuldades. Hoje, essa vivência me ajuda a ter empatia, acolher meus pacientes e lutar por mais visibilidade para doenças como a fibromialgia, que ainda é pouco compreendida e exige um cuidado mais sério e multidisciplinar”, fala.
“Tenho saudades do palco e de contracenar”
Os fãs de Franciely Freduzeski estão podendo matar a saudade da atriz com a novela “América”. Ela conta que costuma assistir as reprises das tramas que atuou. “Para mim, é um prazer rever um trabalho meu. Uma novela que foi sucesso, onde realmente tinha grandes atores. É uma satisfação e me faz sentir saudade desse tempo”, garante ela, declarando que a personagem Conchita foi muito especial ela. “Porque era outro trabalho com a Gloria Perez, e contracenar com o Matheus Nachtergaele foi incrível!”, comemora.
Com trajetória marcante na TV, a artista é lembrada por seus papéis nas novelas “O Clone”, “América”, “Malhação”, “Orgulho e Paixão”, além de participações em “Casos e Acasos”, “Zorra Total”, “Donas de Casa Desesperadas”, “Bela a Feia”, “Máscaras” e no reality show “A Fazenda”, da Record. “Tenho saudades do palco e de contracenar. Gostaria de poder conseguir conciliar a carreira de atriz com a de psicóloga”, entrega.
Se pudesse voltar no tempo, a Franciely de hoje diria uma mensagem importante para a jovem atriz que começou em “Malhação”: “Não desista. Terá altos e baixos, mas continue a nadar”. Em seguida, ela fala de sonhos. “Tenho ainda alguns tanto na área profissional como pessoal. Cada mês, eu adiciono um sonho diferente e vou caminhando, não importa como, mas vou atrás deles”, frisa.
Para finalizar, ela revela um conselho que costuma dar e que gostaria de ter ouvido antes. “Nem todo médico que diz tratar dor entende de fibromialgia. Não faça cirurgia de coluna e não dê ouvidos aos outros e silencie seus pensamentos negativos”, conclui.