“Eu sinto que com esse fenômeno da entrada de lideranças evangélicas na política e sobre o crescimento evangélico no país, se teve duas posturas nessas últimas décadas. Primeiro criticar, e depois falar “não vamos falar disso. Religião não se discute? São do foro íntimo.” Sendo que, quando a religião afeta a política, de forma a abalar um dos principais eixos da democracia, que é a separação entre Igreja e Estado, quando isso começa a possivelmente se ruir, afeta a todos nós”, comenta a diretora.
Como cidadã e como cineasta, Petra tem todo o direito de tratar do assunto. E, como ela própria observa, é necessário se discutir, afinal, “é um livro aberto a interpretações”. “Por que chegamos numa interpretação mais fundamentalista (do Apocalipse), tão diferente de outra interpretação possível? Se deixamos de discutir, talvez a gente se dê conta quando já tiver tarde demais para levar um assunto que nos concerne a todos”, completa.
Como também diz a própria Petra em sua indefectível narração em off, para realizar “Apocalipse nos Trópicos”, ela entendeu que sua educação laica pouco a ensinou sobre a história da fé cristã, e em especial a evangélica, a Bíblia e o próprio Apocalipse. Por isso, por ética e por tudo, era preciso estudar esse universo não só pelo viés religioso, mas também histórico e sociopolítico. E assim o fez e traz no filme, além de depoimentos de personagens (como Daciolo, Silas Malafaia, Jair Bolsonaro, Lula…), uma perspectiva histórica das leituras possíveis do Apocalipse por várias correntes filosóficas e religiosas, incluindo americanas, a perspectiva histórica do Brasil.

Obviamente, o cenário contemporâneo ganha destaque no Brasil, em que, como afirmou Daciolo, vivemos um momento novo nas eleições de 2018 e o até então deputado Jair Bolsonaro se aproximou da religião de sua mulher, Michele, passou a ressaltar seu nome do meio, Messias, e a ser o candidato que Malafaia (que ao longo dos anos já havia apoiado candidatos como Lula, Aécio Neves, Temer) podia chamar de seu.
2025-07-09 05:30:00