É larga a quantidade de mulheres de cerca de 40 anos (a Lucy do filme tem 35) que simplesmente desistiu de tentar relações. Ficar sozinha, para elas, é um alento de que ninguém vai perturbar a vida — que se divide em expressões como foco na carreira ou eu sou o amor da minha vida. Certo. Mas o cérebro da gente também ficou mimado pelo algoritmo e é meio difícil conviver com pessoas de verdade e seu mosaico de defeitos e qualidades.
Lucy trabalha em uma agência de relacionamentos em que os clientes selecionam atributos. Altura, carreira, faixa salarial, patrimônio. Homens e mulheres são exigentes — não dá por exemplo para ficar com alguém que gabarite os itens se essa moça tiver 39 anos, por exemplo. Isso é ser velha. “Mulheres de 40 estão fora de cogitação”, argumenta um deles. Diante de tantos absurdos que escuta todos os dias, é natural que a especialista em relações abra mão de se relacionar.
“A verdadeira solução é dar um tempo no jogo do amor?”, pergunta Fernanda Paes Leme em episódio de seu podcast O Grande Surto, que discute exatamente o assunto. “Em vez de buscar alguém, a resposta é se encontrar sozinha?”, questiona. Os convidados são a infuencer Nathalie Billio, que criou um movimento de detox do órgão masculino em suas redes, e Thomas Schultz, psicólogo especializado em relacionamentos.
“Relacionamento é uma plataforma de desenvolvimento em que o outro lado aponta lados seus que você não vê”, ele diz, defendendo a riqueza de estar a dois. Mas, claro, ele explica logo depois, ser autossuficiente é benéfico. Porém, é importante analisar de perto para entender se é ou não defesa para não sofrer em uma próxima relação. “O divórcio tem um lado bom que é a calma de não precisar entrar em relacionamento rápido. Mulheres de 40 a 55 anos se separam e percebem que é bom quando o mundo é delas e não precisam dar satisfação para ninguém. A individualidade é melhor desenvolvida e você fica quase egoísta”, explica.
Lucy parece estar satisfeita com esse momento. Até que cruza seu caminho Harry (Pedro Pascal) que, entre atributos variados, definitivamente não tem problema com dinheiro. Os restaurantes são caros, as roupas são caras, o apartamento vale 12 milhões de dólares (ela pergunta antes de transar, inclusive). Os encantos do que ela chama de unicórnios, homens perfeitos, são determinantes para ceder. A chave do apartamento gigante que ganha na manhã seguinte também parece ajudar na decisão.
Mas olhando com lupa, nem os personagens do filme parecem assim tão bons partidos. E olha que eles são interpretados por Pedro Pascal e Chris Evans, que arrastam multidões de suspirantes mulheres. Harry tem todos os atributos escondendo a insegurança de se entregar de verdade. O que há por trás da determinação com a qual ele paga as contas? Não fica nem atraente.
2025-08-09 02:30:00