É inegável, contudo, a importância de “Invocação do Mal” para o cinema de gênero. Desde a virada do milênio se instaurou uma tendência a desconstruir o terror, a reduzir histórias baseadas em sustos como mero veículo para lançar astros jovens e injetar referências da cultura pop. Ao menos entre o mainstream, a indústria enxergava o gênero como canal experimentar novos serial killers ou como desculpa para criar produções que apostavam na violência extrema.
Com a direção elegante de James Wan e o desejo genuíno em oxigenar a experiência do medo coletiva numa sala escura, “Invocação do Mal” foi um sucesso acachapante em 2013, rendendo mais de US$ 300 milhões com um orçamento de US$ 20 milhões. Números à parte, o filme engajou o público e trouxe o filme de terror clássico – ou a menos a percepção do que ele seria – de volta ao grande circuito. A criação de subprodutos (“Annabelle”, “A Freira”) validou o domínio de movimentos corporativos sobre impulsos criativos. É do jogo.
O gás deste universo em particular, entretanto, acabou. O motivo talvez tenha sido a necessidade industrial de alimentar a marca. Talvez as histórias tenham se tornado repetitivas e maçantes. Por outro lado, falta em “Invocação do Mal 4: O Último Ritual” o mojo que acendeu a fagulha inicial. Sem falar do erro que foi colocar um produto tão valioso nas mãos de quem já demonstrou não saber o que fazer com ele: o diretor Michael Chaves, que depois de “A Maldição da Chorona”, assinou o terceiro “Invocação do Mal” e o segundo “A Freira”. Bocejos.
A trama aqui começa com um flashback do primeiríssimo caso investigado pelos Warren, ainda nos anos 1960, quando Lorraine estava grávida e encara um demônio aprisionado num espelho. Corta para 1986, quando eles já haviam encerrado suas atividades em campo. Judy, filha do casal, agora está com pouco mais de 20 anos e demonstra a mesma sensibilidade paranormal da mãe. Ela é atraída para ajudar uma família na Pensilvânia que convive com uma entidade maligna possivelmente ligada aos Warren.
Até por sua experiência, Chaves consegue injetar um ou outro bom susto na trama. Mas lhe falta habilidade em construir atmosfera e ditar ritmo narrativo até o susto perfeito. O texto é um catatau de obviedades – mesmo para um filme de terror – que mistura um trio de fantasmas com cara de boneco de Olinda, um demônio malvadão por trás de tudo, a volta de Annabelle, muito barulho (a edição de som é cruel) e um clímax confuso e incompreensível, picotado como um filme de Michael Bay em seus piores dias, que não traz nenhum impacto e não faz nenhum sentido.
2025-09-04 12:25:00