O “Emmanuelle” de Diwan também é sobre o poder de escolha, mas o de escolher o que se deseja, como se deseja e de dizer isso em alto e bom som para, nesse exercício, encontrar o real prazer.
O filme está a anos-luz de distância do dito “original” estrelado pela holandesa Sylvia Kristel em 1974 e, ao contrário daquele dirigido pelo francês Just Jaeckin, não está interessado em criar cenas de soft porn para satisfazer prioritariamente o olhar masculino, que, à época, não viu nenhum porém no roteiro que conta as aventuras de uma mulher ousada e em busca da liberdade sobre seu corpo, que viaja de Paris a Bangkok para encontrar o marido diplomata e lá tem experiências com homens, mulheres, e “ganha um homem” no jogo e até sofre um estupro.
Em 2025, a Emmanuelle da atriz francesa Noémi Merlant é uma funcionária de alto nível de um hotel de luxo responsável por viajar para as filiais do mundo e avaliar se o serviço está impecável, se as instalações estão bem cuidadas, se a comida é excelente? Seu trabalho é dar nota à experiência que o hotel oferece. E entre uma nota e outra, a temida ‘vigia’ também vive suas aventuras com funcionários, hóspedes e frequentadores do hotel. O voyeurismo aqui é tão atual quanto as relações, pois ela observa, e é paga para isso, mas também é observada. É nesse jogo de olhares, que desejam e avaliam, que mora o principal jogo da narrativa.
A lendária cena de sexo no avião? Sim, ela está neste novo filme, mas, ao contrário de uma sexualidade e de um desejo genérico, de uma mulher capaz de chegar ao clímax em cenas clichês, a Emmanuelle hoje tem o desejo de buscar seus parceiros, mas não chega ao orgasmo só pelo fato de cometer uma transgressão como transar com um desconhecido no banheiro do avião. A sequência que abre o filme já diz a que o filme veio: enquanto transa em pé diante do espelho com o passageiro, ela se olha e não reconhece em si a mulher cheia de desejo que a cena, vista de fora, dá a entender. O vai e vem do parceiro é mecânico, provocando nela mais tédio do que qualquer outra sensação. Onde foi parar seu desejo, seu prazer? O que fato a excita? E a pergunta aqui não se aplica ao desejo sexual apenas. A questão que Audrey Diwan propõe é: o que provoca, excita, inspira Emmanuelle em sua própria existência?
Em um mundo contemporâneo em que com dois cliques se encontram cenas pornográficas que fariam corar o diretor de Emmanuelle 1, em que nudes são trocados como os beijos lascivos que Kristel dava com tanta transgressão, em que pessoas se avaliam em aplicativos de encontro como quem dá estrelas aos serviços de aplicativo, o que excita, transgride e nos faz ter prazer real?
2025-07-10 12:00:00