O sensacionalismo deu o tom da cobertura jornalística e os veículos de comunicação não tiveram pudor de retratar (sem grandes evidências) Nora como uma mulher promíscua, que mantinha uma vida dupla. Difamação e injúria pareciam ser a diretriz principal para falar sobre o assassinato de Nora. Embora o documentário dedique boa parte do tempo para recontar as atitudes da imprensa, falta uma abordagem mais crítica a respeito do assunto. A produção não se aprofunda nos abusos cometidos pela mídia (que não nomearei aqui para evitar spoilers), nem há uma reflexão sobre esse comportamento pouco profissional.
A ausência de uma postura mais crítica, porém, não é a falha principal de “As Mil Mortes de Nora Dalmasso”. Para uma série cujo título indica que que vítima sofreu sucessivas mortes após seu homicídio (a imprensa “matou” a reputação e a memória da protagonista, por exemplo), faltou um elemento essencial para dar um basta nesse erro: apresentar Nora Dalmasso devidamente ao público.
Praticamente tudo que sabemos sobre ela ao longo dos episódios se refere ao que mídia falou sobre Nora. Não houve uma preocupação de construir uma imagem de Nora a partir dos depoimentos dos familiares e amigos. Apesar dos filhos participarem ativamente do documentário, há pouco espaço para eles falarem sobre como realmente era Nora. Terminamos a série sem saber quem foi Nora Dalmasso, o que, de alguma maneira, contribui para que ela siga sendo morta mesmo tendo sido vítima de um feminicídio em 2006.
2025-06-24 05:30:00