Um dos grandes acertos das comemorações dos 60 anos da TV Globo, a série documental sobre Glória Maria joga luz sobre a trajetória e a vida pessoal de uma das profissionais mais importantes da história da emissora. Mais do que uma merecida homenagem para a jornalista, o programa é uma oportunidade para revisitar o racismo na televisão e mostrar por que é tão importante apoiar e investir em políticas de diversidade nos meios de comunicação para termos uma sociedade mais igualitária.
O primeiro episódio começa de maneira emblemática: 18 apresentadoras e repórteres negras de diferentes canais se reúnem para debater o pioneirismo de Gloria Maria e como ela foi responsável por abrir caminhos para que novas gerações ousassem sonhar que poderiam estar na TV. Mesclando emoção e reflexão sem soar panfletária, a série aborda como a população negra do Brasil não conseguia se ver na tela durante décadas e que essa ocultação dos negros na mídia se desdobrava em episódios de discriminação na vida real, como o caso em que Glória Maria foi proibida de entrar num hotel no Rio de Janeiro por causa de sua cor de pele.
Outro ponto importante da série é a abordagem da relação de Glória Maira com Ana Davis, primeira jornalista negra a apresentar um noticiário de TV. Embora não assuma que havia uma animosidade declarada, Ana Davis explica que ela e Glória Maria não eram amigas nos tempos em que ambas eram contratadas da Globo. O depoimento de Pedro Bial, entretanto, deixa subentendido que havia uma competição por espaço entre elas. Mais do que uma possível rivalidade feminina, essa disputa demonstra o modo como a televisão era estruturada nos anos 1970: negros no vídeo eram casos raríssimos e era precisa brigar muito para manter esse lugar.
2025-04-28 12:55:00