Rodrigo Santoro, Rebeca Jamir e Johnny Massaro falaram sobre a adaptação de “O Filho de Mil Homens”, de Valter Hugo Mãe, e refletiram sobre seus personagens.
A primeira adaptação para as telonas de um romance de Valter Hugo Mãe promete emocionar os fãs do escritor luso-angolano. À frente do trio de protagonistas de “O Filho de Mil Homens”, estão Rodrigo Santoro, Rebeca Jamir e Johnny Massaro, que falaram sobre a história de seus personagens à repórter Sally Borges, do hugogloss.com, e refletiram sobre como o filme pode ser uma esperança para a sociedade de hoje.
Disponível na Netflix a partir de 19 de novembro, o novo longa de Daniel Rezende acompanha Crisóstomo (Santoro), um solitário pescador que, no auge de seus 40 anos, carrega o fardo de não ter se tornado pai. Na busca por um filho, ele acaba se encontrando com um garoto órfão, Camilo (Miguel Martines). Os destinos deles ainda cruzam o caminho de uma mulher calada, Isaura (Jamir), e do jovem incompreendido Antonino (Massar0), dando início a ensinamentos, redescobertas e uma família nada convencional.
Questionado sobre o que o convenceu a trabalhar em uma obra de Mãe, Santoro foi certeiro em sua resposta. “Ele inteiro é um livro maravilhoso. A escrita, a forma como o Valter Hugo Mãe escreve é muito envolvente. Ela não só convida o leitor, mas envolve o leitor. Ele trata as personagens com uma ternura radical. Todos eles. E ele mostra como todas as pessoas merecem dignidade, empatia e acolhimento, independente das falhas“, destacou.
“E eu fui arrebatado pelo livro, pelo roteiro, depois que o Daniel [Rezende] escreveu. E o personagem é até difícil de descrever,
porque o Crisóstomo é um homem profundamente conectado com a natureza. Ele cresce isolado do mundo, ele não tem conexão
nenhuma com as pessoas. Não tem vício social nenhum, não entende os códigos. Então, é uma criatura muito peculiar e, ao mesmo tempo, muito, muito sábio. Ingênuo em relação ao convívio social, mas muito sábio porque passou a vida com a mãe natureza. Então, é alguém muito presente“, detalhou o ator, sobre seu personagem.
O ator salientou a importância de seu personagem para os dias atuais. “Esse foi o meu trabalho essencial no Crisóstomo, habitar esse lugar de presença, de realmente escutar, de realmente olhar e ver. Por isso acho que o Crisóstomo é muito atual no mundo de hoje, que a gente anda muito distraído e cada vez com menos capacidade de escuta. O Crisóstomo nos convida a pensar sobre essas coisas, sobre relações, conexões emocionais verdadeiras“, explicou.
Para Jamir, que faz sua estreia nas telonas com o novo longa, interpretar uma mulher que diz mais em seus silêncios do que nos diálogos é um trabalho desafiador. “Eu acho que é muito lindo e muito desafiador para nós, atores, trabalhar com o silêncio. Eu acho que num mundo tão barulhento, é algo que, por mais desafiador que seja, nos conecta com a beleza do invisível. Assim como a literatura só é visível a partir do momento que a gente a lê. A visibilidade é para cada um, na sua própria imaginação. Sobretudo, acho que é um grande trabalho, trabalhar bastante em silêncio, com o silêncio“, opinou.
“É um grande trabalho interno. Eu acho que para além dessa personagem ser silenciosa, ela é uma personagem silenciada. Ela é uma personagem silenciada pelas violências inúmeras que ela sofreu, pelas tentativas de controle do corpo dela. E quando a gente se depara com essa personagem que está adoecida por esse sistema, a gente percebe que esse é um assunto que infelizmente, ainda não está no passado. Há mulheres adoecendo nesse momento por conta de violências que elas sofrem. Então, é uma carga emocional muito forte“, enfatizou.

Massaro também falou sobre a admiração pelos livros de Mãe e o fato de ter pedido a Rezende para participar do filme. “Só para contextualizar, foi isso. Eu vi o Dani postar a capa do livro, eu falei: ‘Esse cara vai adaptar isso para o cinema’“, disse ele. “Eu mandei uma mensagem para ele: ‘Olha, nesse set eu sirvo até cafezinho’. Servi cafezinho para ele e tive esse privilégio de ser o corpo e a voz de um personagem de um dos livros que eu mais amo na minha vida mesmo. Porque eu sou fã do Valter desde o primeiro livro que foi ‘A Desumanização’, na sequência eu li o ‘Filho de Mil Homens’. Então eu queria muito fazer“, contou.
“O Antonino é um personagem muito corajoso, no final das contas. Mas quando você vê, ele tão frágil, tão sensibilizado. Mas o salto que ele dá, assim como todos esses outros personagens, é imenso porque ele se distancia da mãe, da família, da casa, da vila. Ele vai embora, ele vai para lugares incríveis e consegue, sobretudo junto com Isaura, fazer um desabrochar muito incrível. A ponto de no final ele reconhecer que ele chegou lá“, refletiu.
Uma esperança para a sociedade
Santoro ainda falou como o longa pode ser um exemplo de esperança para a sociedade em que vivemos atualmente. “Eu acho que a esperança é uma boa palavra. Eu terminei o livro e o roteiro com uma sensação de esperança na humanidade. O que tem sido difícil de sentir no mundo que a gente está vivendo. Eu li uma frase muito boa que vou citar do escritor Alexandre Coimbra: ‘A esperança é uma produção coletiva’, ‘a esperança é filha do coração’, a esperança a gente constrói. E acho que o filme fala sobre isso. Eu acho que ele convida o espectador a pensar no seu lugar no mundo, pensar como ele se relaciona“, opinou.
“A gente está muito individualista, ensimesmado, cada vez mais, e o mundo está acelerado, barulhento. E aqui a gente está falando de silêncio. A gente está convidando o espectador a pensar como é que se cria o amor, a esperança… O que que é o significado de uma família? Além da família do laço sanguíneo, a família que a gente nasce, a família que a gente chama de ‘família intencional’, que a gente vai escolhendo. No final das contas, é uma história sobre a nossa necessidade de pertencimento“, disse o ator.
“É sobre se aceitar, aceitar o outro se ver. Olhar para dentro e olhar o outro e ver. A gente está muito distraído e a gente precisa pensar nessas coisas. A gente precisa pensar no humano, em como são essas relações, essas conexões. E elas acontecem na presença. Elas acontecem quando a gente se olha, a gente se vê. Tem tanta coisa acontecendo, a gente está lendo, não é só o que a gente está falando. Aliás, é muito maior do que isso“, concluiu.
Assista à entrevista completa:
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2025-11-14 14:36:00



