Robert McCallum, ex-líder de expedições da OceanGate e veterano em exploração submarina, descreve no filme um dos artifícios mais reveladores: a recategorização estratégica dos passageiros como “mission specialists” (especialistas da missão), uma mudança semântica nada inocente. A legislação marítima americana estabelece exigências distintas para tripulantes e passageiros pagantes, especialmente no que diz respeito a normas de segurança e responsabilidade civil. Ao insistir que todos a bordo eram “especialistas voluntários” – mesmo cobrando US$ 250 mil por pessoa – Rush criava uma zona cinzenta jurídica que lhe permitia operar sem cumprir os padrões obrigatórios para embarcações comerciais.
“Era um jogo de palavras calculado”, explica McCallum em Titan: O Desastre da OceanGate. “Se você elimina o conceito de passageiro, elimina também toda a estrutura regulatória que protege essas pessoas”. Essa artimanha linguística era somente a ponta do iceberg de uma estratégia deliberada para manter as autoridades à distância. Enquanto apresentava suas expedições como missões científicas, Rush, na verdade conduzia uma operação comercial de alto risco, usando um submersível experimental que nunca passou por certificações independentes.
O filme mostra como essa abordagem agressiva de “pedir perdão em vez de permissão” refletia a filosofia de Rush, que se via como um pioneiro disposto a romper com modelos ultrapassados. Mas o que ele chamava de “inovação disruptiva” era, na prática, um perigoso desprezo por protocolos desenvolvidos ao longo de décadas para evitar tragédias.
A implosão do Titan em junho de 2023 provaria, de maneira trágica, os limites dessa postura – um desfecho que o documentário apresenta como consequência inevitável da combinação entre ambição, negligência e um sofisticado, porém frágil, esquema para enganar o sistema.
2025-06-14 20:25:00