cineasta Jafar Panahi apresenta novo longa após anos de prisão

“Eu fui proibido de fazer filmes por 20 anos e isso foi um grande choque. A solução que eu encontrei foi fazer filmes em segredo. Foi uma forma que encontrei de homenagear o cinema. Muito introspectivo e filmar a mim.


“Eu fui proibido de fazer filmes por 20 anos e isso foi um grande choque. A solução que eu encontrei foi fazer filmes em segredo. Foi uma forma que encontrei de homenagear o cinema. Muito introspectivo e filmar a mim. Agora, esta proibição foi suspensa e eu me voltei para o mundo”, declarou o diretor que levou o prêmio de melhor roteiro em Cannes 2021 por “Três Faces”, mas sem comparecer ao festival.

Quando o também ótimo “Sem Ursos”, que levou o prêmio do júri no Festival de Veneza de 2021, Panahi também não pôde estar presente. Cineastas de todos os continentes protestaram e pediram sua liberdade. O filme trouxe um sinal do momento de crise e repressão que o Irã passava e, principalmente, os que questionam o sistema. O risco continua, mas Panahi não se mostra preocupado com represálias.

“Ainda que esteja correndo o risco de novas proibições pessoais, são estes filmes que eu quero fazer. Em geral, você tem que submeter os filmes ao crivo do Estado e, se eles proíbem, não posso fazer. Então, minha forma de fazer filmes não mudou muito. Vamos ver onde isso vai me levar”, declarou o diretor em conversa com a imprensa na última quarta-feira em Cannes.

Panahi surge no festival cheio de energia, com um roteiro inteligente, que traz as marcas de anos e anos de perseguição e, claro, traumas e rancores que a experiência na prisão deixaram. Mas traz também a certeza de que a luta pela liberdade de ser e se expressar vai continuar em seu país. Prova disso é como as mulheres, no novo longa, não usam o hijab e isso não é uma questão, mas, sim, um fato consumado.

“Depois do movimento das mulheres, houve uma mudança estrutural no Irã. Eu mesmo estava preso e não pude acompanhar. Por cerca de três meses, houve uma epidemia na prisão, eu tive uma reação alérgica e consegui, depois de três meses, autorização para ver um médico. Quando eu saí, entendi que a vida tinha mudado totalmente. As mulheres estavam na rua sem o véu. Como cineasta, que retrata a realidade, as ruas de Teerã, isso está naturalmente no filme. Eu não pedi que as figurantes usassem véu ou não. Elas vieram como queriam. E várias vieram sem véu”, contou.

Sobre a coragem que tem de continuar fazendo filmes que questionam o sistema, Panahi não aceita o rótulo de herói. “Eu me comporto exatamente como outros iranianos. As mulheres iranianas são proibidas de sair sem lenço, mas elas fazem isso do mesmo jeito. Não importa. Não estou fazendo nada mais heroico do que qualquer iraniano. Depois disso, eu vou voltar para o Irã e me perguntar sobre o que o meu próximo filme vai ser.”



Conteúdo Original

2025-05-22 05:30:00

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