Lucia enxerga a possibilidade de mudança, de um futuro mais solar e caloroso em meio à vida austera que leva. Pietro enxerga também o sol em Lucia, em sua volta de um pesadelo que encarou jovem demais. Se ele é um herói que salvou o amigo Attilio (como é apresentado a todos) ou se ele não passa de um covarde, os locais debatem e não concluem exatamente. Cesare intercede pelo rapaz, ponderando que justamente na guerra, a contradição impera, assim, como na verdade, na vida. Ética, sobrevivência e amor são assuntos jamais exatos e conclusivos.
Lucia e Pietro se casam, ela engravida e, ainda que em meio às tensões e dificuldades, um futuro se desenha para os dois. Mas quando a guerra finalmente acaba, Pietro deve ir até a Sicília avisar a família que finalmente está livre e vivo. Ele nunca mais volta, Lucia descobre que ele já era casado e tinha um filho em sua terra natal. É então que seu pesadelo começa. Como continuar diante de tamanha vergonha? Sua família está para sempre marcada e ela vai ter que encarar um futuro que jamais esperou.
É no passar das estações, que acompanham cada pequeno-grande drama de personagens também muito pequenos, mas universais, que está a grande beleza de “Vermiglio”. Maura Dalpero, cuja família é de Vermiglio, exerce com maestria a máxima de Tolstoi. Ela fala de toda a humanidade, seus medos, moral, vergonha, orgulho, ética, amores, desamores, machismo, medos e coragem ao contar não só a história de uma aldeia, mas a de sua própria família.
“Eu nunca falo que é sobre minha família por uma questão de discrição, mas aconteceu com a família do meu pai, aconteceu com várias famílias da região no final da guerra. Eu queria homenagear essas mulheres, que se casaram com forasteiros, que foram corajosas, que tiveram casamentos lindos, mas que também tiveram grandes decepções e enfrentaram o mundo”, contou a cineasta em conversa com o Splash durante o Festival de Veneza.
Maura, que perdeu o pai há alguns anos, sonhou com ele, ainda menino, na época da guerra, trazendo embaixo do braço o filme, “Vermiglio”. Deste sonho, das histórias de suas avós, tias, mãe e mulheres de sua cidade, nasce essa vontade de contar sua história. Sua direção é precisa, calma e nos dá o tempo para entender o que se conta no intervalo entre um olhar e outro, uma caminhada e uma palavra dita por cada personagem.
2025-07-25 05:30:00