Emilia Pérez completa um ano nesta quinta-feira (21) e segue como um dos filmes mais comentados e polêmicos dos últimos tempos. A produção franco-espanhola se destacou em premiações como o Festival de Cannes, o Globo de Ouro e o SAG Awards. No entanto, também acumulou críticas intensas por sua representação do México, da comunidade trans e até pelos sotaques de seus atores.
Escrito e dirigido por Jacques Audiard — cineasta francês que não fala espanhol —, o longa acompanha a trajetória de um chefe do narcotráfico que decide transicionar e reparar os danos causados por sua vida criminosa. A proposta ousada conquistou prêmios importantes, mas desde sua estreia gerou debates acalorados sobre autenticidade e representatividade.
Filme colecionou prêmios
Em maio de 2024, Emilia Pérez venceu o prêmio do júri em Cannes, onde Adriana Paz, Zoë Saldaña, Karla Sofía Gascón e Selena Gomez dividiram o prêmio de melhor atriz. Poucos meses depois, no entanto, a narrativa de celebração deu lugar às primeiras críticas. Gascón admitiu dificuldades em reproduzir o sotaque mexicano, enquanto Audiard foi acusado de superficialidade ao afirmar que não estudou a fundo o país retratado.
Em novembro, a polêmica ganhou corpo com ataques de organizações como a GLAAD, que chamou o filme de “retrógrado” na representação trans. O cineasta Rodrigo Prieto, indicado ao Oscar, também detonou a falta de autenticidade da produção, citando até erros simples de ambientação. A placa de prisão, por exemplo, escrita como “Cárcel” em vez de “Penitenciaria”. No mesmo período, a atuação de Selena Gomez foi alvo de críticas pelo sotaque, o que levou Eugenio Derbez a pedir desculpas após ter chamado seu desempenho de “indefensável”.
Selena Gomez em cena de Emilia Pérez
Divulgação/Netflix
Em dezembro, a diretora de elenco Carla Hool revelou que não encontrou mexicanos aptos para os papéis principais, justificando a escalação de nomes internacionais. Apesar das críticas, o filme venceu quatro Globos de Ouro em janeiro de 2025. Incluindo melhor filme de comédia/musical e melhor atriz coadjuvante para Zoë Saldaña — vitórias que também geraram acusações de fraude de categoria.
Emilia Pérez em 2025
Karla Sofía Gascón enfrentou um turbilhão no início de 2025. A atriz viu tweets antigos com conteúdo racista, xenófobo e islamofóbico virem à tona, gerando pedidos de desculpas públicos, entrevistas emocionadas e até sua exclusão de campanhas de divulgação da Netflix. A situação escalou ao ponto de Jacques Audiard se distanciar da protagonista, alegando que a relação de confiança construída durante as filmagens havia sido abalada.
Mesmo em meio ao caos, Emilia Pérez seguiu vencendo prêmios. No Oscar, em março de 2025, o filme conquistou duas estatuetas: melhor atriz coadjuvante para Zoë Saldaña e melhor canção original com El Mal. O discurso de Saldaña, no entanto, reacendeu o debate: ao responder a um jornalista mexicano, a atriz pediu desculpas, mas defendeu que a obra não era “sobre o México”, e sim sobre mulheres universais lutando contra opressões sistêmicas.
Pouco depois, Gascón voltou a se pronunciar em um longo comunicado no qual afirmou ter “contemplado o impensável” durante a enxurrada de críticas. No texto, publicado pelo The Guardian, a atriz pediu desculpas a quem ofendeu, declarou amor ao México e defendeu que apenas “com compreensão, compaixão e empatia” seria possível construir um mundo mais justo.
Um ano depois de sua estreia, Emilia Pérez segue dividindo opiniões. Ao mesmo tempo em que acumula prêmios e indicações, também simboliza o choque entre ambição artística, representatividade e responsabilidade cultural. Para muitos, a produção é uma obra ousada e poderosa; para outros, um retrato problemático que evidencia as fragilidades de Hollywood e do cinema europeu ao falar sobre identidades e culturas que não lhes pertencem.
2025-08-21 14:05:00