Donald Trump cumprimenta Javier Milei durante encontro na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Reuters
O presidente Donald Trump afirmou nesta terça-feira (23) que os Estados Unidos estão dispostos a ajudar a economia da Argentina caso seja necessário, embora avalie que o país não precise de um resgate.
Trump discursou a jornalistas ao lado do presidente argentino, Javier Milei, em encontro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU. Além de manifestar apoio, ele “presenteou” Milei, fez elogios e prometeu respaldo total à sua reeleição.
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A reunião ocorreu um dia após o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmar que todas as alternativas estavam sendo consideradas para estabilizar o país sul-americano. A gestão Milei enfrenta uma forte crise política, com efeitos negativos para a economia do país. (leia mais abaixo)
Após a reunião entre os dois líderes, o peso argentino passou a avançar mais de 3% frente ao dólar, cotado a 1.364,79. O S&P Merval, principal índice acionário do país, subia 1,36% nesta tarde.
“Vamos ajudá-los. Não acho que precisem de um resgate”, disse Trump a repórteres em Nova York. “Scott está trabalhando com o país deles para que consigam boas dívidas e tudo o que é necessário para tornar a Argentina grande novamente”, acrescentou.
O presidente dos EUA também declarou apoio à reeleição de Milei, dizendo que o líder argentino precisa de mais um mandato “para completar o trabalho”.
Questionado sobre mais detalhes a respeito dos esforços dos EUA, Trump afirmou: “Estamos dando ao presidente da Argentina nosso total apoio e endosso.”
Javier Milei reage a ‘presente’ de Trump: um post feito pelo presidente dos EUA na Truth Social, elogiando o líder argentino.
Reuters
Presente inusitado
Durante o encontro, Trump entregou a Milei uma versão impressa de um post que ele mesmo publicou na Truth Social, no qual elogia o líder argentino. A publicação havia sido feita pouco antes da reunião.
Milei recebeu o presente e posou sorrindo para fotos. No documento, Trump afirma que Milei “provou ser um líder realmente fantástico e poderoso para o grande povo argentino, avançando em todos os níveis em velocidade recorde”.
“Ele herdou uma ‘bagunça total’, com uma inflação horrível causada pelo anterior presidente de esquerda radical (muito parecido com Crooked Joe Biden, o PIOR presidente da história de nossa nação), mas conseguiu devolver estabilidade à economia da Argentina e elevá-la a um novo patamar de destaque e respeito!”, diz a publicação.
No texto, Trump também diz ter “uma relação tremenda com a Argentina, que se tornou um aliado forte, graças ao presidente Milei”. E acrescenta: “Estou ansioso para continuar trabalhando de perto com ele, para que os nossos países possam continuar em seus incríveis caminhos de sucesso”.
Trump presenteou Milei com a versão impressa de um post em que declara apoio ao presidente argentino
Evan Vucci/AP
Apoio do Banco Mundial
Separadamente, o Banco Mundial informou nesta terça-feira que irá acelerar seu plano de apoio de US$ 12 bilhões à Argentina, destinando até US$ 4 bilhões nos próximos meses por meio de financiamento do setor público e investimentos do setor privado.
O banco de desenvolvimento afirmou, em nota, que o pacote apoiará o processo de reformas da Argentina e sua estratégia de crescimento de longo prazo. Ainda não há clareza sobre a velocidade de liberação dos recursos.
“O pacote terá como foco motores-chave de competitividade: desbloqueio da mineração e de minerais estratégicos; impulso ao turismo como fonte de empregos e desenvolvimento local; expansão do acesso à energia; e fortalecimento das cadeias de suprimentos e do financiamento de pequenas e médias empresas”, informou o Banco Mundial.
A reação dos mercados
Os ativos argentinos já haviam registrado forte alta na véspera, após a promessa de Bessent de apoio ao governo de Milei. O índice S&P Merval avançou mais de 7% na segunda-feira, enquanto o peso subiu quase 5% e os títulos internacionais em dólar também tiveram ganhos.
Nas últimas semanas, no entanto, os mercados argentinos registraram fortes perdas. Os títulos internacionais recuaram mais de 20% no ano, e o peso encostou no limite inferior da banda cambial estabelecida meses atrás.
A situação fez o Banco Central da Argentina realizar, na sexta-feira (19), sua maior venda diária de dólares em quase seis anos. A medida fez parte do uso contínuo das reservas para sustentar o peso diante da forte demanda de investidores cautelosos com a instabilidade política no país.
Na ocasião, a intervenção do banco somou US$ 678 milhões, a maior em um único dia desde outubro de 2019, elevando o total vendido entre quarta e sexta-feira para US$ 1,1 bilhão.
O Banco Central não realizava intervenções desde meados de abril, após um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que inicialmente relaxou as restrições cambiais.
Especialistas alertam que as vendas contínuas de dólares podem acelerar o esgotamento das reservas, comprometer os pagamentos da dívida de curto prazo e levar ao aumento da emissão de títulos para suprir as lacunas de financiamento — gerando mais dívidas.
Presidente argentino, Javier Milei, e sua irmã Karina Milei.
Gustavo Garello/ AP Photo
Crise política
O cenário econômico piorou após denúncias de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. O caso, que colaborou com a derrota inesperada nas eleições de Buenos Aires, aumentou as dúvidas sobre sua capacidade de conduzir a economia.
Em áudios vazados, Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis), acusa Karina e o subsecretário Eduardo “Lule” Menem de terem exigido propina de indústrias farmacêuticas para a compra de medicamentos destinados à rede pública.
Relatório recente do Bradesco BBI analisa que escândalos políticos como esse “fragmentam o cenário, minando a reputação e a confiança”. Diz ainda que a “perda de influência no Congresso leva a uma expansão fiscal não planejada, em conflito com as metas do FMI”.
Na prática, quando investidores estrangeiros retiram recursos, há menos dólares em circulação, o que aumenta a demanda pela moeda americana em relação ao peso. Isso faz com que o peso perca valor, já que o câmbio passa a refletir uma moeda mais escassa diante da demanda existente.
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