Conheça os farejadores profissionais pagos para criar aromas do dia a dia (e não são perfumes)

A perfumista júnior Shangyun Lyu cheira uma tira olfativa usada para avaliar fragrâncias na empresa Symrise MICHAEL MATTHEY / AFP Nos laboratórios da gigante alemã de fragrâncias e sabores Symrise, um aroma cítrico impregna os jalecos dos trainees — os




A perfumista júnior Shangyun Lyu cheira uma tira olfativa usada para avaliar fragrâncias na empresa Symrise
MICHAEL MATTHEY / AFP
Nos laboratórios da gigante alemã de fragrâncias e sabores Symrise, um aroma cítrico impregna os jalecos dos trainees — os “narizes” que estão aprendendo a arte de fazer as coisas cheirarem bem.
Esses heróis atarefados do mundo dos cheiros e aromas moldam a conexão que milhões de consumidores têm com itens do dia a dia.
Enquanto em marcas de perfumes de luxo artistas olfativos criam fragrâncias para sprays corporais sofisticados, os especialistas em aromas trabalham em produtos cotidianos que vão desde creme dental com sabor de hortelã até salgadinhos de churrasco.
O olfato, um sentido poderoso que pode desencadear emoções e memórias, e o aroma muitas vezes determinam qual alimento ou bebida, produto de limpeza ou de higiene pessoal acaba no carrinho de compras.
Na sede da Symrise, em Holzminden, uma cidade tranquila ao sul de Hanover, o dia na escola interna de perfumaria da empresa começa sempre da mesma forma: farejando aromas de dezenas de pequenos frascos enquanto estão vendados.
“É como afinar um instrumento musical antes de tocar,” disse Alicia De Benito Cassado, uma ex-pianista profissional espanhola de 32 anos.
A mudança de carreira para o desenvolvimento de aromas foi um passo natural: ela fazia seus próprios perfumes na adolescência para combinar com a poesia e a música que escrevia.
“Para mim, nem tudo precisa cheirar bem” disse ela. “O horror do cheiro também nos ajuda a nos descobrir”.
Mas os clientes comerciais exigem algo diferente, acrescentou De Benito Cassado.
“No final, precisamos criar aromas que sejam fortes, bonitos, poderosos — e acessíveis”.
Cerca de 500 perfumistas trabalham na indústria em todo o mundo
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Narizes profissionais
Ser um “nariz” é um trabalho em tempo integral e envolve um programa de treinamento de três anos.
O cheiro de um amaciante de roupas pode ser composto por 80 compostos, muito mais do que um perfume corporal premium, e os melhores farejadores conseguem identificar mais de 1 mil odores diferentes mesmo vendados.
Shangyun Lyu, 31 anos, veio da China para estudar na escola e diz que um farejador profissional consegue se virar conhecendo cerca de 500 aromas.
Saber decompor odores em seus componentes químicos é fundamental.
“Quando criança, eu só sentia jasmim ou gardênia como flores”, disse ele. “Agora, reconheço os químicos: é uma mistura de muitos elementos”.
Os estudantes pesam os ingredientes até o miligrama, misturam, cheiram e começam de novo, frequentemente replicando odores existentes para entender sua estrutura e, a partir daí, inovar.
“Quando desenvolvemos um perfume, é muito importante que várias pessoas o cheirem,” disse Marc vom Ende, mestre perfumista de 56 anos e chefe da escola.
“Cada um de nós percebe o cheiro de forma diferente”.
Farejadores identificam centenas de aromas diariamente
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‘O nariz tem a palavra final’
Cheiros agradáveis não podem ser criados a qualquer custo, e as regras do jogo mudam com o tempo.
O Lilial, uma substância química antes valorizada por suas notas florais e doces de lírio-do-vale, foi banida na União Europeia desde 2022 por temores de que possa causar irritação na pele e prejudicar o sistema reprodutivo.
Fragrâncias aplicadas diretamente no corpo têm regulamentações mais rígidas que detergentes, disse Attiya Setai, trainee sul-africana de 27 anos.
“Estamos mais restritos nos matérias-primas e devemos substituir ingredientes proibidos por outros que estejam em conformidade”, afirmou.
Os gostos também variam nos mercados globais, com Shangyun citando o exemplo dos shampoos chineses que fazem sucesso com o público jovem na China, mas teriam dificuldade na Europa.
“Algo considerado ultrapassado em um país pode ser novidade em outro”, explicou.
O custo também faz parte da equação. A Symrise extrai compostos aromáticos da resina da madeira, um subproduto da indústria papeleira, em uma iniciativa “que faz sentido econômico e ambiental,” disse vom Ende.
Ser um nariz é difícil
Cerca de 500 perfumistas trabalham na indústria, 80 deles na Symrise, que possui 13 mil funcionários.
A empresa comercializa cerca de 30 mil produtos para clientes que vão de confeiteiros a fabricantes de ração para animais e protetores solares.
Os concorrentes da Symrise incluem a DSM-Firmenich, com sede na Suíça e Holanda, além da Givaudan, outra empresa suíça.
A inteligência artificial tem ganhado espaço, com programas de computador prevendo quais fragrâncias vão fazer sucesso.
Ainda assim, as máquinas não conseguem — pelo menos ainda não — cheirar, mesmo que possam entender fala e ler textos.
“Somos apoiados pela IA, mas o nariz tem a palavra final”, conclui vom Ende.
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