g1 em 1 Minuto: Forbes divulga ranking dos 10 maiores bilionários do Brasil em 2025
Em uma tarde em Genebra, na Suíça, o antropólogo Michel Alcoforado precisou aconselhar uma herdeira em crise moral. A brasileira, dona de um fundo de investimentos, se questionava se valeria a pena pagar 15 mil euros para fazer a cópia de um perfume, usado por gerações de mulheres da sua família.
Filha de um ex-banqueiro e de uma família tradicional de São Paulo, ela dizia questionar o tamanho da desigualdade social, já que poderia adquirir uma fórmula naquele valor enquanto milhares de brasileiros estão na miséria.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça
“Ela decide comprar porque entende que aquilo resgatava uma tradição familiar e que o cheiro ficaria marcado para ela e para seus descendentes. Eu e você, que compramos perfumes de massa, não teremos jamais essa possibilidade”, diz o antropólogo.
Ele, que estuda há 15 anos a vida dos super-ricos brasileiros, diz que esse episodio é um símbolo do tamanho dos muros construídos para separar as classes sociais no país. “Isso revela uma distância enorme, até no cheiro, não só no dinheiro.”
O resultado da sua pesquisa é o livro Coisa de Rico: A Vida dos Endinheirados Brasileiros (Todavia), que em dois meses de sua publicação já vendeu mais de 37 mil exemplares e está na sétima tiragem — a primeira esgotada antes mesmo do lançamento.
“Aqui [no Brasil] a gente gosta de rico. Gostamos de saber dos ricos porque, de algum modo, todo mundo imagina que em algum momento ficará rico, uma crença ilusória sobre o processo de mobilidade da sociedade brasileira”, afirmou em entrevista à BBC News Brasil.
Alcoforado, doutor pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e fundador da consultoria Consumoteca, ganhou o apelido de “antropólogo do luxo” ao investigar o impacto do consumo na vida dos brasileiros.
Ele defende que a régua da renda ou do patrimônio não basta para entender quem é rico no Brasil. Para o antropólogo, a riqueza no país é uma questão de performance e domínio de códigos.
Em sua pesquisa, ele ressalta que, ao contrário dos EUA, onde a ideia de riqueza está ligada à construção de um império, a elite brasileira a associa à conquista, naturalizando a própria posição de poder.
“A ideia do vocabulário da conquista traz algo fundamental para pensarmos as diferenciações de classe no Brasil: ela está muito atrelada à busca incessante por naturalizar a posição”, afirma.
O antropólogo, que também é host do podcast É Tudo Culpa da Cultura e comentarista da rádio CBN, afirma que sua pesquisa trata, sobretudo, de como a desigualdade social brasileira é mantida e reproduzida.
Abaixo, leia os principais momentos da entrevista.
‘Gostamos de saber dos ricos porque todo mundo imagina que em algum momento ficará rico’
Fernando Otto/BBC
BBC News Brasil – No momento em que a ascensão da classe C ganhava muito destaque nos jornais, os super-ricos também cresceram. Por que estudar também as elites?
Michel Alcoforado – Tem um aspecto interessante quando olhamos para a história da desigualdade social brasileira: em todos os momentos — seja durante os governos petistas, a ditadura militar ou a revolução que Fernando Henrique Cardoso trouxe em termos de estabilização da economia — mantivemos mais ou menos os mesmos níveis de desigualdade.
Os pobres melhoraram de vida quando os ricos também melhoraram, em igual proporção ou até mais. Todas as vezes que, na sociedade brasileira, há uma aproximação entre as classes, vivemos algum processo de trepidação social.
Meu livro tem um papel importante de mostrar que aquilo que consideramos Brasil não é produzido apenas pelas camadas populares ou médias. As elites, transitando pelos grandes salões ou participando das discussões e decisões da nação, também têm um papel decisivo nesse movimento.
Com poucos trabalhos já produzidos sobre os ricos brasileiros, as ciências sociais, em geral, privilegiaram o estudo dos mais pobres.
A elite intelectual decidiu olhar para os mais pobres porque era necessário colocar as classes populares, os quilombolas, os indígenas na agenda nacional num momento em que estavam excluídos dela. As elites, nesse processo, ficaram um pouco “descansadas”.
Esse trabalho, portanto, tem o papel de mostrar que desigualdades também são reproduzidas e mantidas por esses grupos. Ao olhar para o que os ricos fazem, conseguimos entender como as coisas se mantêm no mesmo lugar há tanto tempo.
Meu trabalho busca mostrar como essa diferença abissal que separa pobres e ricos no Brasil se mantém ao longo do tempo por um esforço contínuo de preservar essas posições.
BBC News Brasil – Quando você entende que de fato conseguiu se infiltrar? Como foi esse percurso?
Alcoforado – Na pesquisa antropológica, quando tudo dá errado, dá certo. Os “nãos” que recebemos, todos os muros que aparecem na nossa frente, são muito mais do que simples recusas, como em qualquer outra pesquisa. Eles contam sobre a maneira como aquele mundo que queremos pesquisar se estrutura. Dão pistas de investigação, de como as coisas se organizam.
No caso dos ricos, foi engraçado, porque esse “não” se estruturou em alguns caminhos que chamo de “teste de reconhecimento”. O primeiro deles é a ideia de uma vida muito ocupada. Nenhum rico tinha tempo para me atender. Então comecei a me dar conta de que aquela vida muito ocupada era muito mais do que um retrato de afazeres.
Era uma performance dirigida aos meros mortais, como eu. Isso foi importante porque, a partir daí, toda vez que encontrava um rico, eu pedia desculpas — algo que fazemos quando achamos alguém importante. Eu dizia: “Quero agradecer imensamente pelo seu tempo, porque sei que sua agenda é muito ocupada”. Era uma deferência, quase como abaixar a cabeça diante da rainha ou do rei.
O segundo ponto foi descobrir que eles encenavam situações para testar o quanto eu estava inserido ali. Eram jantares com muitos copos, chás com vários bules e talheres, encontros muito ensaiados. O terceiro ponto decisivo era a construção de quanto eu conhecia e estava embrenhado dentro de seus mundos.
Nesse percurso de aprendizado, entendi que, para conseguir fazer a pesquisa, eu precisaria me transformar ao ponto de que eles entendessem que minimamente eu fazia parte de seu mundo.
E como você faz parte do mundo dos ricos sem ser rico? Só há dois caminhos: ou você trabalha para um rico, como empregado, ou vira especialista — que não é visto como empregado, mas como alguém dotado de saber sobre o mundo dos ricos.
E aí virei o tal “antropólogo do luxo”, alguém reconhecido pelas elites como conhecedor tão profundamente do mundo das marcas que se tornava interessante estar junto deles. Fui coisificado, não só pelo meu saber, mas também como uma possibilidade de proporcionar novos encontros.
A partir do momento em que eles assumiam e ostentavam que eram meus amigos, eu virava um pretexto. Assim, me levavam a encontros, eu observava tudo e, nesse movimento, fui entrando no mundo dos ricos. A pesquisa se tornou possível.
BBC News Brasil – Das anedotas que você conta que viveu entre os ricos, qual você acha que mostra mais essa questão da distinção e separação?
Alcoforado – Acho que a anedota que acontece em Genebra, na Suíça. Cheguei lá e encontrei uma ricaça em crise moral: valia a pena pagar 15 mil euros por um perfume? Ela decide comprar porque entende que aquilo resgatava uma tradição familiar e que o cheiro ficaria marcado para ela e para seus descendentes. Eu e você, que compramos perfumes de massa, não teremos jamais essa possibilidade. Isso revela uma distância enorme, até no cheiro — não só no dinheiro.
Com essa mesma ricaça em Genebra, vivi um dos momentos mais violentos. Nos encontros com ricos, quando partem do pressuposto de que você não faz parte daquele ambiente, eles se comunicam de forma educada, mas deixam claras as diferenças.
Isso aconteceu comigo na França, na Suíça e muitas vezes em São Paulo. Você vai a um restaurante com um rico que te convida. Primeiro, ele pede um prato que não está no cardápio mas, como é habitué, o garçom faz. Depois, ele decide o que você vai comer, o que vai beber, paga sua conta, define quando o encontro acaba e o que vão fazer depois.
Isso revela um tipo de gente que pode tudo, que molda o encontro conforme seu projeto. É uma violência sutil. Diante das múltiplas violências do Brasil, pode parecer uma piada tosca, mas mostra que, apesar da educação, delicadeza e possibilidade de construir pontes, os muros vão sendo içados a cada momento. Vai ficando claro quem é quem e qual a posição hierárquica de cada um nessa relação.
Essa crise moral eu vi tanto entre ricos tradicionais quanto entre novos ricos. O caso do perfume é de uma rica tradicional que sai do Brasil querendo uma vida normal. Mas vi esse mesmo aspecto entre novos ricos.
Certa vez, numa viagem de compras a Miami, ricos emergentes entraram numa loja e, depois de comprar tanto, foram tomados por um sentimento de melancolia. Achei que era culpa pelo consumo, mas não era. Era pena. Pena da prima que ficou em Marechal Hermes [bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro] e não podia viajar. Pena da irmã que não ascendeu do mesmo modo.
Isso é clássico da forma como nos relacionamos, no Brasil, com as distinções de classe.
Em dois meses de lançamento, Coisa de Rico vendeu mais de 37 mil exemplares
Todavia
BBC News Brasil – Diferente de outros países, como os EUA e seu self-made man, aqui no Brasil temos uma lógica do “conquistador da riqueza”. Como essa lógica diferente estrutura as relações?
Alcoforado – A ideia do vocabulário da conquista traz algo fundamental para pensarmos as diferenciações de classe no Brasil: ela está muito atrelada à busca incessante por naturalizar a posição. O conquistador é aquele que chega, se vale do que já existia e, por perspicácia e capacidade, toma aquilo como seu. Ele foi o primeiro a se dar conta, a organizar o processo. Então, é dele desde sempre.
Isso se revela claramente hoje: todos tentam mostrar que estão nessa posição “desde sempre”. Tenho a faceta de vovó desde sempre, as bolsas desde sempre, viajo a Paris desde sempre, meus filhos estudam na mesma escola desde sempre. Tudo está organizado “desde sempre”.
Ao contrário do modelo americano, onde a lógica é da construção. Os americanos são fascinados não só pela fortuna de seus ricaços, mas pelo percurso que empreenderam para conquistá-la. Você entra em qualquer livraria nos EUA e encontra estantes inteiras de biografias de milionários. No Brasil, isso não existe.
Iniciativas nesse sentido não fazem muito sucesso.
Essa lógica é tão forte que nem os maiores investidores de ações brasileiros, muitos vindos do nada, compartilham esse percurso. Não queremos ouvir como conquistaram. Queremos olhar e dizer: “Meu Deus, que vida maravilhosa você vive. Quantos empregados tem? Quantas fábricas? Quantas lojas?”. O percurso não interessa.
BBC News Brasil – Seu livro está na sétima tiragem. Lembrei também de uma reportagem da BBC sobre uma socióloga que também se infiltra em casas de ricos, que fez muito sucesso. Por que somos tão obcecado com esse tema da riqueza?
Alcoforado – Esse é um negócio muito interessante.
O livro Servir les Riches [em português “Servir aos Ricos”, livro da socióloga francesa Alizée Delpierre], que vai ser traduzido agora no Brasil, está vinculado a uma tradição de estudos sobre as elites francesas há muito tempo.
Só que, ao contrário do Brasil, você entra numa das 400 livrarias que Paris tem hoje e vai ver uma bancada inteira, em geral, na frente da livraria, com uma coleção de livros falando mal de rico. Então, o Servir les Riches fala mal das elites. Não é à toa que ela vai dizer que boa parte dos empregados dos ricos vive numa “gaiola dourada”.
Quando olhamos para o cenário brasileiro, eu tenho dito que aqui a gente gosta de rico. Gostamos de saber dos ricos porque, de algum modo, todo mundo imagina que em algum momento ficará rico, uma crença ilusória sobre o processo de mobilidade da sociedade brasileira. Ou gostamos de saber para poder imitar, performar os mesmos hábitos e convencer os outros de que quem somos. Isso está muito atrelado à forma como marcamos a diferença no Brasil.
Digo sempre que dinheiro no Brasil é só um pedacinho dessa conversa. Todo o resto se dá em torno da performance da riqueza. Tudo o que me ajuda, mesmo sem ter dinheiro, a performar um dinheiro que eu não tenho, nós, brasileiros, de algum modo, estamos apaixonados.
As periferias de São Paulo não precisam se orientar pelo que os Jardins estão fazendo em termos de novos hábitos e comportamentos. Mas as periferias de São Paulo têm seu modelo de riqueza e percepção de riqueza. E também vão tentar performar isso para parecer mais ricas do que são.
E aí isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, o sucesso de Danuza Leão nos anos 1980, dando dicas de como as pessoas deviam se portar à mesa. Explica o sucesso de influenciadores de alta sociedade hoje no Instagram, conseguindo muita reverberação só ensinando à classe média como se comportar. Explica o trabalho que a Gloria Kalil fez nos veículos de comunicação, lembrando a todos que “isso é chique, aquilo é chique”.
Explica todo esse fascínio que temos com a Odete Roitman e com o núcleo rico da novela.
BBC News Brasil – Outro tema que você traz no livro é em relação a uma questão antropológica: ser afetado. Além de ser afetado, você também foi seduzido?
Alcoforado – Afetado eu tenho certeza que fui. Porque, se não tivesse sido afetado, essa pesquisa estaria pela metade.
O fato de eu ter me embrenhado pelas elites da forma como me embrenhei e de ter enfrentado os dilemas que um emergente certamente enfrenta foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa.
Seduzido? Óbvio que fui. Porque o dinheiro seduz e o poder seduz. Agora, o ponto é: eu sou pesquisador. Então, sim, vez ou outra eu me seduzia por aquilo que estava sendo servido — pelas conversas, pelas pessoas que eu estava encontrando. Mas quando chegava em casa e fazia meu diário de campo, objetificava aquela experiência e entendia qual era o papel do antropólogo, o papel do personagem “antropólogo de luxo”.
Esse deslumbre durou pouco. Sabe por quê? Porque a sedução era quase de “boy lixo”. Você é seduzido imaginando que está fazendo parte, que está entrando, mas na próxima esquina, em cinco minutos, todo mundo te lembra que você não é dali. Não é dali porque não tem os recursos financeiros que eles têm, não é dali porque as distâncias se impõem a todo momento.
Então brinco que o deslumbre durou cinco meses. Agora, as marcas estão aí. O champanhe que eu mais gosto não é aquele que cabe no meu bolso.
BBC News Brasil – E queria te ouvir também sobre uma questão de raça: como é ser um homem negro transitando nesses espaços?
Alcoforado – O racismo que enfrentei entre as elites é o mesmo que enfrentei na sociedade brasileira. Não é nem um pouco maior, nem pior. E tive muito cuidado de não levar esse tema para o livro, porque seria uma desculpa para apontarem para o livro e dizer: “Olha como os ricos são racistas”, quando a sociedade brasileira inteira é.
O desafio que enfrentei é o mesmo que enfrentei quando estudei em escolas de classe média, quando frequentei programas de pós-graduação, onde era o único negro, quando entro numa balada, na classe de um avião, na fila de um avião ou num shopping.
E isso traz outro reflexo importante. Venho de uma família onde minha mãe sempre lembrou do impacto do racismo nas nossas trajetórias. Eu já sabia que a transformação física que enfrentei ao longo da pesquisa, a mudança de roupa, do visual, o anelzinho, não me embranqueceria jamais.
E mesmo quando meus interlocutores tentavam me embranquecer, eu sabia que era racismo. Em algum momento, ele se revelaria.
O fato de não ter nenhum negro entre meus interlocutores, dado que eram super-ricos, revela o racismo da sociedade brasileira. Mas isso não faz os ricos mais racistas do que o resto da população. Precisamos aceitar que somos todos, de algum modo, atravessados por essa chaga.
BBC News Brasil – Depois de 15 anos se debruçando nessa pesquisa, você consegue cravar quem é rico hoje no Brasil?
Alcoforado – A discussão precisa ser feita de outro modo. Continuamos fazendo essa discussão dos super-ricos ou dos ultra-ricos no Brasil muito balizada pelos níveis de renda, pelo patrimônio, pelo tamanho do patrimônio.
Precisamos deixar de usar só a régua da renda ou do tamanho do patrimônio para definir quem é quem. Não tenho a menor dúvida de que alguém que tem um patrimônio equivalente a um apartamento de classe média em um bairro nobre de São Paulo e renda acima de R$ 26 mil faz parte do 1% mais rico da sociedade brasileira. Facilmente, podemos dizer que essa pessoa é rica.
Só que não adianta dados estatísticos, economistas e o governo olharem para essa pessoa e dizerem “rico”, dizerem que ela é rica. Quando falamos desses números, eu, você e alguns dos nossos ouvintes ou espectadores vamos ficar nos perguntando: “Mas será que é rico mesmo?”.
Para mim, alguém que tem um apartamento de bom tamanho, dois ou três quartos em um bairro nobre de São Paulo, tem um salário que permite acesso ao nível mais alto do banco, cujos filhos estudam em escola particular, que tem plano de saúde, que acredita que férias significam sempre uma viagem intercontinental…
Alguém que acredita que uma vida boa inclui idas frequentes a restaurantes, que acha comum tomar drinks de R$ 55 com 120 ml, que não se satisfaz mais com roupa de fast fashion, que acredita que precisa usar determinadas marcas…
Se você vive esse estilo de vida num país desigual como o Brasil, precisamos fazer o “chá revelação” e dizer que você é rico. Porque, diante da desigualdade social brasileira, esse tipo de vida é de rico.
O que não tira o mérito ou o peso de alguém que, além dessa vida que descrevi, mora em mansões, anda de helicóptero, tem motorista, tem casa fora do país e viaja para Nova York como se fosse para a 25 de Março.
Enquanto sociedade — não importa quanto dinheiro você tem, inclusive nas camadas médias ou entre os mais pobres — trabalhamos arduamente para entender que alguém com esse padrão de vida não é rico.
Conta essa vida que você leva para alguém de países onde a renda é melhor distribuída, como o Uruguai, França ou os países nórdicos, se isso é vida de rico ou de classe média. Ele vai dizer para você que isso é vida de rico.
BBC News Brasil – Passamos a adjetivar os ricos — o novo rico, o super-rico, o rico tradicional… Para quê essas classificações servem?
Alcoforado – Essas separações são fundamentais porque agenciam diferenças. Não há nenhuma sociedade no mundo em que seja possível botar vários indivíduos juntos sem que disputem o que faz o diferente mais diferente que o outro. Essa diferenciação entre novo rico, camada média e rico tradicional são “rinhas de rico”.
Precisamos é inventar um país em que mais pontes sejam possíveis e menos muros necessários para vivermos em paz. O grande problema da sociedade brasileira é acreditar que a harmonia só existe quando há grades, muros, vidros blindados, classe executiva, VIP, VIPão exclusivo.
A saída para a sociedade brasileira é aceitar que as distâncias existirão em qualquer modelo de sociedade, mas não precisam ser tão grandes como hoje. Se aceitarmos que os encontros entre diferentes são possíveis e tudo seguirá bem, ninguém vai arrancar os cabelos, ninguém vai entrar em ebulição social, o medo não vai se instaurar. Certamente o Brasil será um lugar melhor.
BBC News Brasil – Como tem sido a recepção das pessoas retratadas no livro? Como elas receberam a forma como foi escrito?
Alcoforado – Elas se identificaram e vão se identificar. Porque eu não trato pessoalmente de ninguém. Não é à toa que houve uma preocupação muito grande na escrita desse livro para que a identidade delas jamais fosse revelada. Vou morrer com esse segredo. Quem trabalha comigo não sabe quem são as pessoas que entrevistei. Meu editor não sabe.
E acho graça quando há disputas para saber “quem é quem”. Todos estão errados, porque boa parte dos personagens descritos no livro não são públicos. Os públicos citei pelo nome, porque já tinham sido relatados em outros veículos. Esse foi um compromisso.
Eu não falei de ninguém, eu falei da sociedade brasileira. Falei de um fenômeno social que, não importa quanto dinheiro você tenha no banco, reconhecemos.
Então, os ricos se identificaram com as histórias, os que não se acham ricos também. As camadas médias se viram nelas, as empregadas domésticas, os porteiros, os jovens que estão começando a carreira. Todos leem e se reconhecem.
Isso é importante porque não estou falando de indivíduos, mas de um modelo de sociedade que decidiu, ao longo da história, inventar. Não é culpa de ninguém, mas, ao mesmo tempo, cobra um compromisso de cada um de nós pela transformação.
Alcoforado decidiu fazer uma pesquisa sobre os super-ricos quando percebeu que eles eram um grupo pouco estudado no Brasil
Fernando Otto/BBC
Conteúdo Original
Flávio Bolsonaro acelera tramitação e Estatuto da Vítima vai direto ao Plenário
Em uma movimentação decisiva no Senado, o presidente da Comissão…