'BC não pode agir com emoção': Galípolo explica por que Copom manteve Selic a 15%

Selic a 15%: o que muda no seu bolso O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (29) que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 15% reflete




Selic a 15%: o que muda no seu bolso
O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (29) que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 15% reflete a necessidade de cautela em um cenário ainda marcado por incertezas.
Segundo ele, “o BC não pode agir com emoção”, mesmo após a deflação recente e a melhora nas expectativas do mercado.
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Durante participação em evento do Itaú, em São Paulo, Galípolo disse que o Copom entrou em uma nova fase, mais focada em “esperar e recolher evidências sobre a convergência da inflação para a meta”, conforme já sinalizado na última divulgada na semana passada pelo Comitê.
“Essa postura mais humilde do BC, de reunir mais informações antes de incorporar cenários, tem se mostrado correta, afirmou.
Ele lembrou que sinais de desaceleração a partir de junho reforçam a avaliação de que o país caminha para um processo gradual de suavização da economia, mas o mercado de trabalho segue resiliente.
🔎O objetivo do BC é levar a inflação em 12 meses para 3%. A meta é considerada cumprida se variar entre 1,5% e 4,5%.
Na reunião do dia 17 de setembro, o Comitê decidiu manter taxa básica de juros da economia, a Selic, estável em 15% ao ano. A decisão pela manutenção da taxa foi unânime.
Esse é o maior patamar em quase 20 anos – em julho de 2006, ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Selic estava em 15,25% ao ano.
🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.
O Copom justificou a decisão alegando instabilidades no ambiente externo e a inflação ainda acima da meta no Brasil. O comitê reconheceu que a atividade econômica perdeu força, mas o mercado de trabalho continua aquecido. Nas atuais condições do país, segundo o Copom, esse cenário segue inflacionário e a manutenção dos juros auxiliam no combate à inflação.
Na ata divulgada pelo Copom na última terça-feira (23), o BC avaliou que a queda recente do dólar e a desaceleração do ritmo de crescimento da economia contribuem para o controle da inflação, mas observou que as projeções para os preços nos próximos anos ainda seguem acima da meta.
Isso é visto no boletim “Focus”, divulgado na segunda-feira (29): mesmo com a projeção de inflação do mercado para 2025 recuando de 4,83% para 4,81%, e de 2026 caindo de 4,29% para 4,28%, ambas ainda estão acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Inflação de serviços ainda pressiona
Questionado sobre a autoridade monetária manter o patamar elevado da Selic mesmo após os dados recentes de deflação e a desaceleração da economia no segundo trimestre, Galípolo disse hoje que não há um único indicador que determine a trajetória da política de juros.
Ele destacou novamente que o mercado de trabalho segue resiliente no Brasil, em um dos melhores momentos das últimas três décadas, o que pressiona também a inflação de serviços.
“Mesmo com juros em patamar restritivo, vemos um mercado de trabalho robusto. Esse é um debate que o Brasil precisará enfrentar como sociedade: como conviver com juros altos e, ainda assim, uma economia resistente”, disse.
Em agosto, a inflação de serviços desacelerou em relação a julho, mas segue em um nível considerado alto pelos economistas. Em 12 meses, o núcleo de serviços acumula alta de 6,17%, bem acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cheio e da meta de inflação.
Essa fatia da inflação que compõe IPCA é vista como termômetro da demanda na economia brasileira, já que reflete a situação do consumo e do mercado de trabalho.
‘Vigilante, sereno e persistente’
Para o presidente do BC, a taxa de 15% é alta, mas necessária. “O BC jamais disse o contrário [que a taxa não é alta] quando comparamos com outros países ou com períodos de crise, como 2008 e 2020. “Mas a meta que recebemos é levar a inflação para 3%, não para a média internacional”, afirmou, citando a pesquisa Focus, em que nenhuma das projeções atuais prevê inflação exatamente na meta.
Galípolo fez referência ao fato de o Brasil ainda ter o segundo maior juro real do mundo, ficando atrás apenas da Turquia, que registrou uma taxa real de 12,34%. Em terceiro, está a Rússia, com 4,79%.
Ainda assim, para o presidente do Banco Central, a postura da autoridade monetária precisa ser “vigilante, serena e persistente”. O objetivo é manter a Selic em patamar restritivo pelo tempo necessário para garantir que a inflação caminhe de forma sustentada em direção ao alvo.
“Não existe atalho. Mais difícil do que elevar a Selic é mantê-la. Precisamos conviver com uma dose maior de remédio por um período mais longo”, explicou.
Segundo Galípolo, a credibilidade do Banco Central depende de manter a política monetária firme.
“Cabe ao BC ancorar as expectativas e colocar a Selic em um nível suficientemente restritivo para assegurar a convergência da inflação para a meta. Não é função da autoridade monetária se antecipar a algo que não existe. Nossa missão é ser vigilantes e pacientes, sem agir com emoção”, concluiu.
*Reportagem em atualização
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante a apresentação do Relatório de Política Monetária.
Raphael Ribeiro/BC



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