Enquanto posa de xerife nas redes sociais, prometendo combater o crime organizado com seus guardas armados, o prefeito Eduardo Paes não consegue resolver nem a infestação de borrachudos que atormenta a população do Rio. O problema chegou a tal ponto que a Câmara Municipal precisou criar uma comissão especial para cobrar o básico: uma resposta da prefeitura ao surto que se espalha por várias regiões da cidade.
Na primeira audiência pública do grupo, realizada nesta terça-feira (17), vereadores descreveram um cenário caótico em bairros da Zona Oeste, da Zona Norte e até da Zona Sul. Moradores relatam picadas constantes, inchaços, feridas, reações alérgicas e perda de qualidade de vida. No Alto da Boa Vista, há até casos de pais cancelando a matrícula dos filhos por medo da infestação. “Tem pais tirando filhos da escola pra não viver essa situação absurda”, afirmou o relator da comissão, Átila Nunes (PSD).
O presidente da Câmara e idealizador do colegiado, vereador Carlo Caiado (PSD), defendeu ações concretas, como dragagem de rios, limpeza das pedras, ampliação do programa Guardiões dos Rios e uma cartilha da Secretaria de Saúde para orientar a população. Mas ressaltou que isso exige políticas públicas de médio e longo prazo, com início imediato. “As pessoas estão perdidas”, disse.
Opositor de Paes, Rogério Amorim (PL), que também é médico, foi além: apontou os impactos na saúde, no bem-estar e até na vida religiosa da cidade. “Saúde pública não é só Aedes aegypti. Os borrachudos trazem doenças sim — dermatites, infecções de pele, porque a coceira é tremenda, e as crianças, adultos e idosos estão padecendo. Os postos de saúde do Alto da Boa Vista estão lotados. Tem alérgico que precisou se mudar porque não aguenta mais. As pessoas não dormem, não vivem, e a Prefeitura finge que não vê.”
Amorim também denunciou a falta de investimento no programa Guardiões dos Rios e insinuou perseguição política. “Pleiteei o retorno do programa no início do meu mandato. Rompemos politicamente, mas não com a cidade. Eduardo Paes não me puniu — ele puniu toda a população do Rio. Não eram indicados meus, eram trabalhadores que atuavam em prol da cidade. E hoje não temos mais os guardiões com tanta eficácia.”
O presidente da comissão, Marcelo Diniz (PSD), alertou para os impactos econômicos. As pessoas não conseguem ficar em um ponto de ônibus, não conseguem tomar um café numa padaria, por exemplo. Com isso, os estabelecimentos não conseguirão mais vender e os funcionários vão acabar perdendo os seus empregos”
Na orla de São Conrado, os quiosques já registram queda nas vendas. “Os proprietários chegaram a colocar repelentes nas mesas, mas não está funcionando”, lamentou Laudimiro Cavalcanti, diretor da associação de moradores do bairro.
Cidadãos reclamam da crise
No púlpito, a população reforçou as críticas. Davyson dos Santos, presidente da Cooperativa 5 Estrelas, foi direto: “Falta de saneamento básico, exploração de áreas irregulares aumentaram a praga. E o não cuidado pela prefeitura proliferou e virou surto. Está insuportável. Minha perna parece que está com catapora. A Lagoa é o centro agora, as margens estão sujas e falta limpeza e cuidado. Tivemos elucidações nesta Casa e agora falta colocar em prática.”
Lucio Meirelles Palma, presidente do Floresta Country Clube, no Itanhangá, destacou que a preservação ambiental local ajudou a reduzir os danos. “Não sofremos tanto com o impacto muito pela preservação e educação ambiental que temos no clube. Isso reforça como é a degradação do meio ambiente que provoca a infestação”.
Já João Teodoro Arthou, morador do Alto da Boa Vista, defendeu ações voltadas para as crianças. “O importante é a gente usar a educação e ter ações nas escolas. As crianças são multiplicadoras e levam isso para os pais. As pessoas não podem sujar os rios, muitas chegam a descartar sofá e até geladeira. O Rio é uma cidade turística e hoje está impraticável ir a lugares como o Alto da Boa Vista, São Conrado, Barra da Tijuca, Itanhangá e Vista Chinesa”.
Saúde reconhece o problema
Representando a Secretaria Municipal de Saúde, Renato Cony reconheceu o problema, mas jogou a responsabilidade para outros setores. Disse que o fumacê é ineficaz contra esse tipo de mosquito e defendeu medidas sustentáveis de longo prazo, como escovação das pedras, manutenção dos córregos e preservação da mata ciliar. “O veneno vai repelir o mosquito, e ele vai ficar longe dessa localidade por uns dois ou três dias. Mas depois volta para conseguir o seu alimento quando o veneno já terá se dispersado”, afirmou o subsecretário de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde.
Precisando estar em dois lugares ao mesmo tempo, Cony teve que deixar o encontro antes do fim para participar de outra audiência. O presidente da comissão reclamou da falta de comprometimento da prefeitura em enviar representantes suficientes.
Por fim, o grupo prometeu encaminhar todas as reclamações diretamente ao prefeito. A expectativa é que, desta vez, Eduardo Paes largue o discurso de bravatas e tome uma atitude concreta, evitando mais prejuízos à população.
2025-06-18 20:28:00