Ação desastrosa do Bope durante festa junina deve ser investigada

É preciso investigar a fundo a desastrosa ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da PM fluminense, que deixou um morto e cinco feridos à bala — todos sem antecedente criminal — no Morro Santo Amaro, Zona


É preciso investigar a fundo a desastrosa ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da PM fluminense, que deixou um morto e cinco feridos à bala — todos sem antecedente criminal — no Morro Santo Amaro, Zona Sul do Rio. A incursão aconteceu na madrugada de sábado, durante festa junina com apresentação de quadrilhas, presença de crianças e adolescentes. A Secretaria de Polícia Militar alegou que agentes foram recebidos a tiros durante ação emergencial para verificar invasão do local por uma facção criminosa. O governador Cláudio Castro mandou exonerar os comandantes do Bope, coronel Aristheu Lopes, e do Comando de Operações Especiais (COE), coronel André Luiz de Souza Batista.

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Os tiros, cuja origem está sob investigação, mataram um jovem de 23 anos que trabalhava como office boy numa imobiliária e assistia à apresentação das quadrilhas com os pais. A mãe acusa os PMs de ter dificultado o socorro à vítima. Dos cinco baleados, um ainda permanecia ontem em estado grave.

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Fez bem o governador do Rio, Cláudio Castro, em determinar o afastamento de 12 policiais que participaram da operação. Um policial civil que disparou tiros para o alto durante protesto de moradores foi preso em flagrante. Castro prometeu que as investigações serão conduzidas com “extremo rigor” pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM. E que todas as imagens de câmeras corporais serão fornecidas aos inquéritos. É o mínimo. É essencial esclarecer por que foi autorizada uma operação policial quando acontecia uma festa com dezenas de pessoas nas ruas. Os riscos eram evidentes.

Muito se discutiu a letalidade policial no contexto da ADPF das Favelas. Acertadamente, o Supremo Tribunal Federal retirou as restrições que engessavam o trabalho da polícia, dando-lhe independência para agir diante do grave problema da segurança pública no Rio. Grandes extensões territoriais estão dominadas por organizações criminosas que impõem o terror e achacam moradores. A polícia precisa combatê-las nesses locais. Mas não tem salvo-conduto para disparar a esmo.

Legítimas e necessárias, operações policiais precisam ser bem planejadas para que seus objetivos de segurança sejam alcançados sem expor a vida de inocentes. Tal como aconteceu noutra operação na comunidade da Maré no mês passado, comandada pelos mesmos oficiais agora exonerados. Pautada por inteligência e ampla investigação, ela teve como alvo o traficante TH, procurado havia mais de uma década, com mais de 227 anotações criminais. Ele acabou morrendo no confronto.

Não parece ter sido o caso da ação no Santo Amaro. O próprio secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, admitiu que houve erro de planejamento. É fundamental que, além das investigações da Polícia Civil e da Corregedoria, o MP faça apuração independente. É cedo para apontar culpados, mas, se comprovadas faltas graves, os responsáveis terão de ser punidos. O caso pode também balizar outras operações. A polícia deveria tirar lições da tragédia.



Conteúdo Original

2025-06-10 00:09:00

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