Listado em “A Crônica Francesa” como parte da trupe, Benicio Del Toro é aqui alçado à posição de protagonista como o empresário, investidor e traficante de armas Zsa-Zsa Korda. Após sofrer mais uma tentativa de assassinato e ver sua virtude julgada em sua breve passagem pelo pós vida, o cruel magnata traça um plano para viabilizar seu empreendimento mais ambicioso —e, no processo, reconectar-se com sua filha.
Existe em “O Esquema Fenício” um sentimentalismo representado pela interação de pai e filha ainda mais profundo do que no restante de sua filmografia. A herdeira de Zsa-Zsa é, no caso, uma noviça, Liesl (Mia Threapleton, em sua primeira colaboração com o diretor), convocada do convento para assumir os negócios do milionário. Embora relutante, ela aos poucos considera a oportunidade, ao mesmo tempo em que expõe as fissuras na carapuça do pai.
Emoldurando este centro emocional está o próprio esquema fenício, em que Zsa-Zsa, perseguido por um consórcio internacional disposto a encerrar suas atividades financeiras, busca seus investidores para garantir a industrialização do país fictício Fenícia e embolsar 5% do lucro dos projetos ao longo de 150 anos. O trio de protagonistas é completado por Bjørn (Michael Cera, outro novato na trupe), entomologista promovido a “assistente administrativo” do personagem de Del Toro.
Ao longo dessa jornada, Anderson exibe uma coleção de personagens pincelados de sua trupe de sempre (Tom Hanks, Scarlett Johansson, Mathieu Amalric, Willem Dafoe, Bill Murray e um Benedict Cumberbatch caracterizado com uma maquiagem escancaradamente fake) que colocam seus protagonistas em uma sucessão de situações progressivamente inusitadas. A habilidade do diretor em costurar cada fragmento da trama em uma história coerente ainda impressiona.

2025-05-30 17:19:00