Entretanto, eu preciso ser honesto, Abel: você não é ator. Vou além. Todo o talento que você demonstra como músico se evapora no segundo em que ele é direcionado para qualquer outro campo do audiovisual. Além de demonstrar a profundidade dramática de uma tampa de panela, suas tentativas de criar uma história, pelo menos até o momento, não passaram de egotrips sem nenhuma profundidade, povoadas por personagens desinteressantes que se esbarram por tramas pueris e bastante óbvias.
Pensei que sua experiência com “The Idol”, a série pavorosa que você criou, produziu, escreveu e protagonizou, tivesse soado algum tipo de alerta, tivesse lhe dado uma pista que seu negócio, definitivamente, não é se posicionar nem à frente, nem atrás, nem no mesmo bairro de uma câmera. Lily-Rose Depp, felizmente, sobreviveu ao martírio e provou seu imenso talento dramático em “Nosferatu”.
Eu realmente achei que o completo fracasso criativo de “The Idol” mostraria que sua praia é mesmo a música – acredite, você é realmente um astro pop incrível. Mas, nãããão, Abel Tesfaye precisava provar que seu talento é multifacetado, não é mesmo? Daí chega este “Hurry Up Tomorrow”, que no Brasil ganhou o apêndice “Além dos Holofotes”, para consolidar de vez sua inabilidade dramática.
Vou te falar, Abel, que dei até um voto de confiança quando vi o trailer. Mas o filme é uma jornada em torno de seu umbigo, uma bobagem que confunde platitudes com profundidade. Pior ainda: você interpreta você mesmo: Abel, o astro pop The Weeknd, numa encruzilhada moral após destratar e ser dispensado por quem eu imagino ser sua namorada – o filme jamais deixa claro, já que a moça é uma presença invisível, um gancho para providenciar algum dilema, para você fingir que atua.
Daí você arrastou a pobre Jenna Ortega para um papel infeliz de Maria Misterinho, a moça que, em meio a um show numa arena gigantesca, captura seu olhar, dobra a segurança e termina contigo num quarto de hotel depois de uma noite lúdica. Se o seu personagem é irritante, a dela é oca, uma cartolina coberta por estereótipos que serve de avatar para você refletir sobre… sobre o que mesmo? A arte? A vida? A solidão? Não importa.
2025-05-15 12:00:00