A Polícia Civil do Rio investiga se as invasões de imóveis históricos próximos à Travessa do Mosqueira, a cerca de 200 metros dos Arcos da Lapa e do Circo Voador, foram feitas a mando do tráfico de drogas da região, dominada pela facção criminosa Comando Vermelho. No mês passado, policiais da 5ª DP (Mem de Sá) prenderam quatro pessoas em flagrante, responsáveis por estabelecimentos comerciais clandestinos. Nos endereços funcionavam distribuidoras de bebidas, de gelo, bares, confecção e salão de beleza. Um dos imóveis invadidos abrigava, antigamente, a casa de gafieira de luxo Asa Branca e a antiga Pizzaria Guanabara.
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Na última sexta-feira, a Justiça do Rio determinou a reintegração de posse do imóvel, que pertence à família Recarey. Os donos já encomendaram um estudo de viabilidade econômica, e avaliam a viabilidade da criação de uma casa de eventos ou um restaurante no lugar, mas que ainda depende da revitalização da área, que hoje sofre com a violência. Segundo informado ao GLOBO, algumas restaurações na fachada serão feitas.
O casarão invadido fica a poucos metros de distância do “bunker” do tráfico, entre a Rua Joaquim Silva e a Travessa Mosqueira, fechado pela polícia em uma operação no dia 30 de março. Com portas de aço, passagem secreta e um cômodo isolado com estrutura reforçada para dificultar ações policiais, o local servia como ponto de venda de drogas e como base do Comando Vermelho.
Os investigadores apuram se os responsáveis pelos comércios clandestinos pagam taxas ao CV para usar os imóveis invadidos, quem são os beneficiários dos aluguéis cobrados e se há alguma relação com o traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como Abelha.
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Outras irregularidades também são investigadas, como o furto de luz e água, além da ausência de alvará de funcionamento. Os comércios clandestinos possuíam “gatos” de luz e água, com ligações diretas no fornecimento da rua, sem a existência de relógios e hidrômetros. Além disso, um dos estabelecimentos vendia botijões de gás sem as devidas autorizações expedidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A boate Asa Branca surgiu em 1983 como uma gafieira de luxo do Rio, e tinha como frequentadores a alta sociedade carioca, aparecendo em várias colunas sociais da época. Eram mais de 200 funcionários, orquestra própria, 200 mesas, mil cadeiras e camarotes. No dia da inauguração, foi oferecido um jantar para o rei da Espanha, Juan Carlos, e a rainha, Sofia, com apresentação de Luiz Gonzaga. O Asa Branca fechou nos anos 2010.
Comerciantes e trabalhadores do entorno preferem não comentar nada sobre o que se tornou o espaço da antiga boate. Um se limitou a dizer que ali é um “campo minado”. A reportagem observou que um grupo de cerca de quatro homens passa o dia em vigia na porta do imóvel. Em outros dias da semana, a calçada vira uma espécie de salão de beleza ao ar livre, com corte de cabelo, manicure e pedicure. Segundo relatos, o interior já chegou a ser usado como galpão e depósito clandestino.
Do outro lado da rua fica uma base do Segurança Presente, e a 280 metros em linha reta, o Quartel General da Polícia Militar, na Rua Evaristo da Veiga.
2025-05-14 04:30:00