‘Não levaram nem o celular, tiraram a vida do meu filho na estupidez’, diz mãe de adolescente morto em assalto em SP

Lucas Teles Santana, de 15 anos, foi morto em um assalto na madrugada do último domingo (4), na Zona Leste da cidade de São Paulo. Segundo Camila Teles Portugal, a mãe do menino, o adolescente andava na rua com o


Lucas Teles Santana, de 15 anos, foi morto em um assalto na madrugada do último domingo (4), na Zona Leste da cidade de São Paulo. Segundo Camila Teles Portugal, a mãe do menino, o adolescente andava na rua com o primo quando a dupla foi abordada por dois homens em uma moto. Eles exigiram os celulares dos jovens. Assustado com a abordagem, Lucas deixou o telefone cair e um dos bandidos atirou nele. Depois, conta Camila, os criminosos foram embora sem levar o aparelho. A vítima foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não sobreviveu.

A polícia investiga o caso como latrocínio, roubo seguido de morte. A ação durou menos de de dez segundos e aconteceu no bairro de Itaim Paulista.

— Não levaram sequer o celular do Lucas. Ele deu o telefone, mas (o aparelho) caiu no chão. O ladrão ficou revoltado e, na estupidez, tirou a vida do meu filho. Na hora que me ligaram (para contar sobre a morte do adolescente), não acreditei. Eu conversei com ele uma hora antes de tudo acontecer — conta a mãe, que tem 35 anos e é autônoma.

Lucas estava em uma festa de aniversário na casa do primo antes do assalto. O primo foi levar a namorada até a casa dela e pediu para ele lhe fazer companhia, para não andar sozinho pelas ruas do bairro de madrugada. O adolescente se ofereceu para acompanhá-lo. Moradores da região contam que os roubos praticados por motociclistas são frequentes no bairro, em especial durante a noite.

— O crime aconteceu quando eles estavam voltando da casa da namorada. Roubaram eles na rua, faltavam só três casas para eles chegarem (no local onde ocorreu a festa de aniversário). A mãe do primo dele viu tudo — conta Camila.

Familiares narraram que depois do disparo, que atingiu o jovem no peito, Lucas foi imediatamente socorrido. O adolescente foi colocado em um carro respirando e levado para a unidade de saúde mais próxima. Ele chegou até a UPA com vida, mas não resistiu aos ferimentos.

Revolta no enterro de ‘Luquinhas’

O jovem morava com o avô em um conjunto habitacional no Itaim Paulista. O enterro, que aconteceu na tarde desta segunda-feira (5), teve a presença de mais de 500 pessoas, entre familiares, vizinhos e colegas de escola. Os amigos contam que ele era apelidado de “Luquinhas”, gostava de jogar futebol e sonhava em comprar uma moto para trabalhar como entregador de pizza.

— O Luquinhas dava uma força para a família, cuidava do avô depois que ele descobriu ter diabetes. Era um menino educado, um amor de pessoa — diz a orientadora socioeducativa Renata Taciane, de 37 anos, que era vizinha do jovem.

— Meu pai (o avô) ficava sozinho em casa desde que a minha mãe morreu, então o Lucas disse que poderia morar com ele. Moraram juntos por 10 anos. A gente só deseja agora que se faça justiça — diz o tio de Lucas, o enfermeiro Fabio Camilo da Silva, de 39 anos.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o caso está sendo investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A pasta informa que a polícia ainda tenta identificar os autores do crime.

Sobre a incidência de crimes na região do Itaim Paulista, a SSP informa que o policiamento na região foi reforçado e que a área da 7ª delegacia seccional de Itaquera, onde fica o bairro, registrou queda de 22% nos roubos e diminuição de 3% nos furtos no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao ano passado.

Treze latrocínios foram registrados na cidade de São Paulo no primeiro trimestre, quatro a menos do contabilizado no mesmo período de 2024. Os roubos registraram uma queda de 13% — foram 26.758 casos contra 30.881 no ano anterior.

Sequência de casos aumentaram sensação de insegurança em SP

Os crimes mais violentos, como mostrou O GLOBO em reportagem publicada em março, estão em queda histórica na cidade de São Paulo. Mas a profusão de câmeras de segurança pela cidade e as imagens dos roubos seguidos de morte aumentam a percepção de insegurança da população, como tem detectado O GLOBO em reportagens na capital.

Outros casos emblemáticos foram a morte do turista Vitor Rocha, em Pinheiros, e a do delegado Josenildo Moura, na Chácara Santo Antônio, em janeiro. Em fevereiro, o ciclista Vitor Medrado foi morto no Itaim Bibi. E em abril o arquiteto Jefferson Dias Aguiar reagiu a um assalto e acabou morto no Butantã.

— Pesquisas de Mark Warr, professor da Universidade do Texas, mostram que cerca de 20% da sensação de segurança de uma pessoa vem da experiência pessoal e os outros 80% do impacto daquilo que veem nas mídias — afirmou ao GLOBO o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente.

As estatísticas, no entanto, importam pouco e não consolam quem teve um ente querido vítima de crime violento.

— Quando uma mãe perde um filho, todo mundo perde. Ainda mais na fase que o meu filho estava. Ele tinha a vida toda pela frente — diz Camila, mãe de Lucas Teles Santana.



Conteúdo Original

2025-05-05 20:43:00

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