Investigado por estupro de vulnerável e favorecimento à exploração sexual infantil no Rio de Janeiro, o norte-americano Floyd L. Wallace Jr., de 30 anos, construiu nos Estados Unidos uma trajetória marcada por confrontos frequentes com a polícia, prisões e episódios de repercussão judicial em diferentes estados. Antes de ser preso no Brasil, ele já era conhecido nas redes sociais como um youtuber que se especializou em registrar abordagens policiais, muitas vezes em situações de tensão. Ele foi preso nesta segunda-feira, por agentes da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) no bairro da Liberdade, em São Paulo, quando tentava fugir do país.
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Wallace mantém no YouTube o canal “omahacopwatchlive”, criado em 2018, que reúne mais de 25 mil inscritos e soma mais de 1 milhão de visualizações em 112 vídeos. O conteúdo é quase integralmente dedicado as filmagens de interações com forças de segurança, sempre em tom de confronto. Em publicações e descrições, ele afirma estar “exercendo direitos constitucionais”, expressão recorrente também em páginas associadas ao canal em outras redes sociais.
Nos Estados Unidos, Floyd Wallace se apresenta nas redes sociais como fotógrafo e defensor da Primeira Emenda da Constituição americana. Ele se define como um “auditor constitucional”, prática comum entre criadores de conteúdo que filmam abordagens policiais para questionar a legalidade das ações dos agentes.
Na descrição do canal, Wallace afirma exercer o direito à liberdade de expressão e à privacidade, garantidos pela Primeira e Quarta Emendas, e diz que o conteúdo “não é destinado a crianças”. Apesar do discurso, veículos de imprensa americanos registram uma longa lista de episódios envolvendo confrontos diretos com forças de segurança.
Segundo a Polícia Civil do Rio, o histórico digital dialoga com a extensa ficha criminal atribuída a Wallace nos Estados Unidos. De acordo com o delegado Cristiano Maia, titular da Dcav e responsável pela investigação que levou à prisão do suspeito em São Paulo, o americano acumula passagens por resistência à prisão, conduta desordenada e agressão a policiais em pelo menos 13 estados norte-americanos, além de registros sob apuração por possível envolvimento com tráfico de drogas.
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Um dos episódios mais conhecidos ocorreu em 2022, na cidade de Cape Coral, na Flórida. Wallace foi preso em frente a um quartel do corpo de bombeiros após ser atingido por uma arma de choque durante uma abordagem policial. O caso foi registrado por câmera corporal dos agentes e posteriormente publicado em seu próprio canal no YouTube. Nas imagens, ele aparece caminhando em frente ao quartel, na Burnt Store Road, carregando uma bolsa preta, quando é abordado por policiais que ordenam que pare e se vire. Cerca de 18 minutos depois do início da gravação, um dos agentes dispara o taser.
À época, um representante da polícia de Cape Coral confirmou a abertura de uma investigação interna sobre o episódio e afirmou que não houve uso excessivo de força. Casos semelhantes se repetem em vídeos postados por Wallace em diferentes jurisdições, sempre com a narrativa de enfrentamento direto às autoridades.
Segundo portais norte-americanos, o youtuber chegou a cumprir uma pena de 210 dias de prisão, concluída em março de 2016, após um incidente semelhante no condado de Douglas, no estado de Nebraska.
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Foi esse histórico que levou a Homeland Security Investigations (HSI), agência de segurança interna dos Estados Unidos, a classificar Wallace como indivíduo de extrema periculosidade em informações compartilhadas com a Polícia Civil do Rio. O relatório também recomendava cautela na abordagem e destacava que o investigado se encontrava desempregado, o que, na avaliação dos investigadores, reforçou a suspeita de que suas viagens internacionais poderiam estar sendo financiadas para fins de exploração sexual.
No Brasil, Wallace passou a ser investigado após a denúncia de um motorista de aplicativo, que relatou uma corrida suspeita envolvendo menores de idade em comunidades no Rio. A partir daí, a polícia identificou que ele utilizava contas com nomes falsos ou de terceiros e se apresentava online como “turista sexual” e “passport bro” — termo associado a homens de países ricos que viajam para regiões socialmente vulneráveis em busca de vantagens sexuais.
Preso na última segunda-feira, na Rua Conselheiro Furtado, no bairro da Liberdade, em São Paulo, Wallace ofereceu resistência no momento da abordagem. Com ele, agentes da DCAV/RJ apreenderam celulares, notebook, cartões de memória, pen drives, chips telefônicos, um relógio com câmera escondida, além de bichos de pelúcia e outros objetos que agora passam por perícia.
Somadas, as penas previstas para os crimes investigados no Brasil podem chegar a 34 anos de prisão. A polícia apura a extensão dos abusos, a possível existência de outras vítimas e se o padrão de comportamento identificado nos Estados Unidos se repetiu durante a passagem do americano pelo país.
2025-12-23 11:30:00



