A Polícia Civil de São Paulo investiga a morte do pai do empresário Rodrigo de Paula Morgado, apontado como chefe de um esquema de movimentação e lavagem de capitais de ligações suspeitas com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Wagner Morgado, de 51 anos, foi assassinado nesta quinta-feira no restaurante do qual era dono em Cubatão, no litoral paulista.
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Ferido na cabeça, Wagner morreu no local. As investigações apontam que o autor dos disparos estava acompanhado de outro homem. Ambos fugiram de motocicleta. Até o momento, ninguém foi preso.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), policiais militares foram acionados para atender à ocorrência na Vila Natal. Ao chegarem, descobriram que Wagner já havia sido atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou o óbito. A área foi isolada e o celular da vítima foi apreendido, para o trabalho da perícia.
O genro de Wagner foi à delegacia, mas relatou não ter presenciado o crime. A ocorrência foi registrada como homicídio no 3º Distrito Policial de Cubatão e será investigada pela 3ª Delegacia de Homicídios da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, diz a SSP-SP.
Morgado e o influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, o Buzeira, foram presos na Operação Narco Bet, deflagrada em outubro pela Polícia Federal para desarticular um grupo criminoso que, segundo as investigações, utilizava movimentações financeiras em criptomoedas e remessas internacionais para ocultar a origem ilícita dos valores e dissimular o patrimônio.
Um relatório encaminhado de forma espontânea pelo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) à Polícia Federal descreve como Morgado, direta ou indiretamente, estruturou e coordenou transações milionárias destinadas ao setor de apostas on-line. Para mascarar a origem ilícita dos recursos, segundo as apurações, o empresário utilizou “uma rede de empresas de fachada, intermediadores de pagamento e pessoas interpostas”.
“Centenas” de pessoas físicas e jurídicas participaram do esquema, ainda de acordo com o relatório financeiro, mas a Evipes Soluções em Pagamento On-Line Ltda, a Ngx Holding de Participações Societárias Ltda, a Infinity Serviços Administrativos Ltda e a Buzeira Digital Ltda foram identificadas como “núcleos de dissimulação de valores” — empresas “sob controle ou influência” de Morgado, destaca o documento.
Para os investigadores, o rastreio das transações demonstra que Rodrigo Morgado “desempenhou papel estruturante” na criação de um “complexo sistema de lavagem de capitais”: um esquema “transnacional altamente sofisticado” que se servia do mercado de apostas on-line e empresas intermediadoras.
“O relatório também evidencia que RODRIGO MORGADO atuava como procurador e representante legal de diversas empresas utilizadas no esquema, centralizando o controle operacional e a logística financeira das transações, posição de comando lhe permitia circular valores oriundos de fontes ilícitas, inclusive relacionadas a tráfico internacional de drogas, atividade pela qual já é formalmente investigado”, ressalta trecho do relatório financeiro.
Foi Morgado, por exemplo, quem articulou o fluxo financeiro do pagamento de licenças para casas de apostas, como a ANA GAMING BRASIL S.A. (7K.BET) e a MULTIBET, e da compra de imóveis, veículos de luxo e aeronaves. O relatório do Coaf afirma que as transações configuram “nítida fase de integração de ativos ilícitos na economia formal”, um dos estágios do processo de lavagem de dinheiro. (Em nota enviada ao GLOBO, a Ana Gaming negou qualquer envolvimento com Buzeira.)
Informações de polícia judiciária juntadas ao processo destacam registros de conversas travadas entre Morgado e Buzeira. Segundo as apurações, o empresário funcionava como “verdadeiro ‘banco particular’ de outros investigados” — transacionando altos valores em suas contas pessoais e de empresas sob seu controle, convertendo quantias em criptomoedas e promovendo repasses a terceiros. Tudo, de acordo com as autoridades, à margem do sistema financeiro nacional.
Nas conversas, os suspeitos tratam de operações financeiras milionárias envolvendo criptomoedas, empresas e contas de fachada. Parte dos valores era movimentada em transferências internacionais e revertida para a compra de imóveis, veículos de luxo, embarcações, joias e armas. Além disso, eram feitos pagamentos de impostos e despesas pessoais em nome dos investigados.
“Em 04/01/2024, por exemplo, MORGADO realizou transferência milionária para a Integration Empreendimentos Ltda., referente à compra de imóvel de BUZEIRA, valor que nunca transitou pela conta do influenciador. No mesmo sentido, há registros de pagamento de R$ 400 mil pela compra de uma lancha, de R$ 210 mil para a empresa Hi Quality Importação e Comércio, e de transferências fracionadas que somam dezenas de milhões de reais provenientes de remessas em criptomoedas, as margens do sistema financeiro oficial, enviadas por GUSTAVO AFONSO RIBEIRO E LACERDA (‘FEIO’ ou ‘BRABO’), vinculado à casa de apostas BET7K”, diz trecho de documento juntado aos autos.
Segundo os investigadores, Morgado “orientava e executava manobras para dissimular a origem e a titularidade dos valores”. Nesse contexto, por exemplo, foi elaborada nota fiscal de prestação de serviços de R$ 50 milhões emitida pela Buzeira Digital contra a empresa estrangeira SUPERBET88 INTERNATIONAL N.V. Além disso, eram criadas holdings e assinados contratos de “sócio oculto” com o objetivo de blindar o patrimônio. Morgado ainda comprou empresas para viabilizar a licença de operação para plataformas pertencentes ao influenciador digital.
“Os diálogos indicam para a participação de RODRIGO MORGADO na compra de empresas como a RR Participações e Intermediações de Negócios S/A, adquirida por R$ 5 milhões com o objetivo de obter licença de operação para as plataformas BRX.BET e RICO.BET, pertencentes de fato a BUZEIRA. Também foi identificado o envolvimento de ambos na constituição de novas empresas, como BRX Gaming, Bilibank, Vision Farma e Adega Roleta, com estruturação societária possivelmente voltada à ocultação de bens”, afirmam os investigadores.
2025-12-19 09:08:00



