Testes certos diferenciam intolerância, alergias e sensibilidade e orientam um tratamento seguro, com mais qualidade de vida
Nos últimos anos, falar sobre glúten e lactose se tornou quase rotina. Muitas pessoas se sentem inchadas, cansadas, com dor abdominal ou desconforto digestivo depois de comer determinados alimentos, e a primeira reação costuma ser cortar tudo por conta própria. Embora a estratégia traga algum alívio em alguns casos, o risco é alto: sem um diagnóstico adequado, a pessoa pode confundir intolerância com alergia, restringir alimentos de forma exagerada, evoluir com déficit nutricional e ainda deixar de tratar a verdadeira causa do problema. É por isso que testes específicos para intolerância ao glúten e à lactose são tão importantes: eles esclarecem o que realmente está acontecendo no organismo e orientam o caminho correto para a recuperação.
Por que sentir desconforto após comer nem sempre significa intolerância
Intolerância não é alergia, e sensibilidade não é doença celíaca. Apesar de soarem parecidas, são condições diferentes, que exigem abordagens personalizadas. A intolerância à lactose ocorre quando o organismo produz pouca ou nenhuma lactase, enzima responsável por quebrar a lactose (o açúcar do leite). O resultado costuma ser gases, distensão abdominal, diarreia, dor e desconforto, geralmente entre 1 e 2 horas após o consumo de leite e derivados.
Já a sensibilidade ao glúten costuma provocar sintomas mais amplos: inchaço, alterações intestinais, fadiga, dores de cabeça, sensação de mente enevoada e desconfortos gastrointestinais. Mas é fundamental diferenciá-la da doença celíaca, uma condição autoimune séria que causa inflamação no intestino e exige a eliminação completa do glúten.
Sem testes, tudo se mistura. A pessoa pode acreditar que tem intolerância, mas na verdade apresentar síndrome do intestino irritável, má digestão por estresse, alergia a outros alimentos ou até distúrbios hormonais. O diagnóstico se perde e o desconforto continua.
Como os testes ajudam a esclarecer o que está errado e a tratar com segurança
Os exames para intolerância à lactose incluem exames de sangue, testes genéticos (em sangue ou saliva) e o teste do hidrogênio expirado.
No caso do glúten, a investigação é mais abrangente. Testes sorológicos que avaliam anticorpos específicos ajudam a identificar a doença celíaca; testes genéticos (saliva) indicam predisposição; e, em algumas situações, a biópsia intestinal é necessária para confirmar o diagnóstico. Quando a suspeita é de sensibilidade ao glúten não celíaca, a avaliação clínica e a exclusão de outras doenças são fundamentais.
O objetivo não é apenas rotular uma condição, e sim entender o mecanismo por trás do desconforto: má absorção, inflamação, autoimunidade ou desequilíbrio intestinal. Cada causa exige um tratamento diferente. Um paciente celíaco precisa eliminar completamente o glúten. Já quem tem intolerância à lactose pode tolerar pequenas quantidades, usar enzimas ou ajustar a alimentação. E, nos quadros de sensibilidade, pode ser necessário reorganizar a dieta, controlar o estresse, cuidar da microbiota e tratar inflamações associadas.
A grande importância dos testes está justamente nisso: devolver segurança alimentar, orientar escolhas e evitar restrições desnecessárias. Cortar grupos alimentares sem diagnóstico pode levar a deficiências nutricionais, perda de massa magra, piora da microbiota e aumento da ansiedade em torno da alimentação.
O corpo dá sinais, mas é a investigação correta que revela o caminho. Com diagnóstico preciso, o tratamento é mais leve, mais eficaz e totalmente personalizado.
Dra. Natasha Rebouças Ferraroni – CRM-DF 13.749 | RQE 11230
Especialista em Alergia e Imunologia – UNICAMP
Doutora pela USP
Titular da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia
Membro da Brazil Health



