A opção do Banco Central por decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master nesta terça-feira diretamente, sem uma intervenção prévia, foi motivada pela deterioração financeira da instituição e de suspeita de crime, apontada em operação da Polícia Federal também nesta manhã. Além da liquidação, o BC também dispõe da intervenção e do Regime de Administração Especial Temporária (RAET) para lidar com instituições problemáticas. No caso do Banco Master, porém, as alternativas não eram válidas diante das graves infrações e do problema de liquidez.
A liquidação também vale para o braço de investimento do grupo, a corretora de câmbio, títulos e valores mobiliários e o Letsbank. Além disso, o BC decretou regime de administração especial temporária (RAET) do Banco Master Múltiplo, com duração de até 120 dias. Por outro lado, o Will Bank foi preservado.
Tanto na liquidação quanto no RAET há perda de mandato da cúpula das instituições. Já na intervenção o afastamento é temporário. A intervenção e a liquidação não são processos consecutivos ou dependentes. Uma intervenção pode acabar com liquidação ou não. E a liquidação não depende de intervenção prévia.
O ato do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que decreta a liquidação do Master cita o “comprometimento da situação econômico-financeira da instituição, com deterioração da situação de liquidez”, a “infringência às normas que disciplinam a atividade bancária” e a “inobservância das determinações do Banco Central do Brasil”. A justificativa para as demais liquidações do grupo pelo vínculo de interesse com o Master, evidenciado pelo exercício do poder de controle e pela existência de administração comum.
A liquidação é a opção mais extrema, acionada quando a situação de insolvência é irrecuperável e a interrupção do funcionamento da instituição não compromete a estabilidade financeira. O RAET também é adotado em casos de gestão temerária ou fraudulentas dos administradores ou de práticas reiteradas em desacordo com a legislação, mas, nesse caso, as atividades da instituição são mantidas.
Segundo o BC, é adotado quando a instituição, em razão do seu porte ou complexidade operacional, desempenha funções críticas para a economia real ou a quando a paralisação abrupta do seu funcionamento possa causar riscos à estabilidade financeira. O RAET pode ser encerrado com uma solução de mercado para a instituição e liquidação extrajudicial.
Já a intervenção, por sua vez, é adotada quando se vislumbra alguma possibilidade de recuperação da instituição. As atividades são suspensas temporariamente. Essa operação dura até 12 meses. Pode ser encerrada com a retomada da normalidade ou com a decretação de liquidação ou falência.
De acordo com interlocutores, o BC encontrou irregularidades na venda de carteiras de crédito do Master ao BRB no fim de 2024. O órgão notificou o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para investigar as suspeitas de fraudes antes de o banco estatal do Distrito Federal protocolar o pedido de compra da instituição de Daniel Vorcaro, em março — que foi rejeitado em setembro.
O BC então teve de esperar as investigações dos órgãos responsáveis para tomar suas próprias providências em relação ao funcionamento do Master. Enquanto isso, contudo, houve uma ordem para o BRB desfazer a operação e recompor seu balanço.
Vorcaro foi preso no âmbito da Operação da Compliance Zero. Outros executivos ligados ao banco também foram presos. A operação apura um suposto esquema de criação e negociação de títulos de crédito falsos por instituições que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional.
Os agentes cumprem cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão. As ações acontecem no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.
As investigações começaram em 2024, após um pedido do Ministério Público Federal, mas foi acelerada este ano, após os achados do BC e o pedido de compra do BRB. A PF investiga possíveis crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, formação de organização criminosa e outras infrações.
Mesmo antes da investigação criminosa, a atuação do Banco Master levantava suspeitas no mercado. A instituição cresceu muito nos últimos anos com uma estratégia de captação agressiva. O banco oferecia no mercado CDBs com retornos muito acima da média do mercado, com a salvaguarda do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Por outro lado, o ativo para fazer frente ao pagamento futuro desses títulos aos investidores que o adquiriram era bastante ilíquido, como precatórios e investimentos em empresas em dificuldades financeiras.
Segundo o balanço de 2024, o Master tinha R$ 12,4 bilhões de CDBs a vencer até o fim deste ano, contra um ativo total para o mesmo período de R$ 18,3 bilhões. No total, o estoque de CDBs e CDIs era de R$ 49,8 bilhões. A liquidez do FGC, em junho de 2024, era de R$ 107,8 bilhões.
2025-11-18 12:07:00



