Para isso, a equipe realizou um trabalho minucioso de aproximação com a família Pimentel. Em uma das visitas à casa da mãe de Eloá, dona Cristina, foi descoberto um diário da adolescente, nunca lido nem por familiares. “Foi um dia muito emocionante para todos”, recordou Stumpf. Os escritos se tornaram a espinha dorsal narrativa, lidos por uma atriz com um efeito de reverberação que os distingue dos demais depoimentos.
A diretora Cris Ghattas, que assina sua primeira direção em um true crime após trabalhar em casos como Nardoni e Celso Daniel, adotou uma abordagem sensível para colher o depoimento do irmão de Eloá, Douglas. “No dia da gravação, fui no camarim falar com ele e disse ter mais de 100 perguntas na minha prancheta, mas que nenhuma era importante naquele momento. Pedi para escutar o que ele quisesse me contar”, relatou a diretora. A estratégia resultou em duas horas de relato ininterrupto.
Uma opção editorial definiu o tom do documentário: a exclusão do assassino. “Eu nunca quis dar voz ao assassino. Esse documentário é sobre a Eloá, sobre a história dela, sobre a negligência feita com ela, sobre os erros da mídia, da polícia, de nós como sociedade”, afirmou Veronica Stumpf.
Reencenações
As recriações de cenas do cárcere foram realizadas com extrema cautela. “Não queria que as reencenações distorcessem como iríamos contar a história da Eloá. Por isso, as imagens não têm nitidez absoluta, não mostram rostos ou expressões”, explicou Cris Ghattas. A violência é sugerida de forma poética, como na cena onde os livros de Eloá caem no chão, simbolizando uma agressão.
O filme encerra com uma homenagem tocante: uma cena na praia, inspirada no sonho de Eloá de conhecer o mar. A viagem que a família planejava fazer em janeiro de 2009, e que nunca aconteceu, é simbolicamente realizada pela produção.
2025-11-16 20:18:00



