Frankenstein é ópera rock de Guillermo del Toro com alma latina

Foi também estrategicamente escolhida a data da sessão: 3 de novembro, um dia depois da grande festa do Dia de los Muertos, na Cidade do México, em um monumental edifício do barroco mexicano, o Antiguo Colégio de San Ildefonso. Na


Foi também estrategicamente escolhida a data da sessão: 3 de novembro, um dia depois da grande festa do Dia de los Muertos, na Cidade do México, em um monumental edifício do barroco mexicano, o Antiguo Colégio de San Ildefonso. Na manhã seguinte à maior festa popular do país, a capital mexicana ainda estava enfeitada com altares coloridos, ver “Frankenstein” ganhar as ruas da cidade em outdoors e ser aplaudido mais que a seleção de futebol pelo público que lotou o San Ildefonso acrescentou ainda mais uma camada a uma história escrita há mais de 200 anos pela jovem inglesa Mary Shelley.

O barroco mexicano, a artesania, flores com que as Catrinas se arrumam podem contrastar com as caveiras que cobrem suas faces, que não deixam esquecer que as sombras também são parte das cores que fazem a festa dos mortos. Como bem diz del Toro, em “Frankenstein”, o clima gótico, a relação com a vida e a morte, o amor intenso e melancólico de Elizabeth (Mia Goth) e a Criatura (Elordi), além das impetuosas dinâmicas de família têm tudo a ver com a intensa cultura latina.

A forma como nós latinos lidamos com a morte não interferiu no filme, ela ajudou. A sensibilidade inglesa do movimento romântico está buscando a sensibilidade vital latina, que tem uma ideia muito forte da morte. Não é por acaso que os romances góticos se passavam na Espanha, Itália, países de sangue quente e temperamento mais latino
Guillermo del Toro em entrevista ao UOL

“Frankenstein” teve première no México no majestoso Antiguo Colegio de San Idelfonso Imagem: Flavia Guerra/ UOL

É fato que cada cineasta traz muito de si e de seu tempo às releituras dos clássicos. O “Frankenstein” de del Toro destaca o questionamento sobre a sanha pelo poder, as guerras, as consequências das criações científicas que passam longe da ética. Em tempos de crescimento vertiginoso da IA, haverá num futuro próximo uma criatura (digital ou robótica) em busca de conexão, amor e/ou capaz de sentir abandono, rancor, raiva e ser violenta?

Guillermo tinha sete anos quando viu no cinema a versão de 1931, estrelada por Boris Karloff e dirigida por James Whale. Filho de uma família muito católica de Guadalajara, ele conta que assistiu ao filme que se tornaria sua obsessão, tal qual a do Dr. Victor, ao sair da missa, encontrou em Karloff o seu Messias. “Eu entendi tudo. Entendi a criação, o conceito de Stigmata, tudo”, relembra ele, que leu o livro de Shelley poucos anos depois, aos 11, e achou muito diferente da versão de Whale. Foi então que decretou: “Eu vou filmar essa história”.



Conteúdo Original

2025-11-15 12:03:00

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