Wagner Moura arrebenta em filme irretocável

Este início, que já estava na cabeça de Kleber antes mesmo de ele escrever o roteiro, não só resume à perfeição a maneira que o filme será aos poucos desfraldado, mas também a absurda preocupação com detalhes, com desenvolvimento de


Este início, que já estava na cabeça de Kleber antes mesmo de ele escrever o roteiro, não só resume à perfeição a maneira que o filme será aos poucos desfraldado, mas também a absurda preocupação com detalhes, com desenvolvimento de personagens, com (re) criação de mundo. Cada personagem em “O Agente Secreto”, por menor que seja, é rabiscado com o mesmo cuidado, dirigido com a mesma precisão, interpretado com o mesmo afinco. É um assombro!

À frente da empreitada, Wagner Moura crava o que talvez seja a sua melhor interpretação. Voltando a trabalhar com sua língua nativa após mais de uma década em produções além das fronteiras, o ator baiano apresenta um trabalho mais contido e discreto, abraçando em seu cerne a realidade de um país então encurralado. Na generosidade de sua interpretação, todo o elenco encontra espaço para crescer e preencher o filme. O resultado são personagens já completos ao ser revelados.

Wagner Moura em ‘O Agente Secreto’ Imagem: Vitrine

“O Agente Secreto” mostra o retorno de Marcelo ao Recife com uma “missão” aparentemente simples: buscar seu filho, criado pelos avós por circunstâncias que o filme aos poucos deixa claras, obter novas identidades e deixar o país em exílio, decisão comum a muitos brasileiros ao longo dos anos de chumbo. O responsável por sua queda, um empresário desprezível como muitos que lucraram com a corrupção do regime militar, não tarda a colocar um preço em sua cabeça e despachar uma dupla de assassinos para realizar o serviço.

Em torno dessa trama, Kleber Mendonça consegue, de forma formidável, traduzir um sentimento. “O Agente Secreto” é um filme político, capaz de retratar o clima de opressão sem mencionar a palavra “ditadura” uma vez sequer. Longe de militares raivosos e dos porões da tortura, ele traz um tipo diferente de horror. O do cotidiano permeado pela paranoia, da vida expressada por palavras medidas, dos canalhas que prosperaram graças ao governo, das pessoas obrigadas a se esconder nas sombras por erguer a voz contra estes donos do poder. Não havia heróis, e sim pessoas comuns dispostas a atos extraordinários.

Nada disso, contudo, faz de “O Agente Secreto” um filme pesado ou sombrio. O roteiro inteligente contrasta o momento histórico sufocante com um Recife retratado com beleza – do Carnaval contagiante, do colorido das ruas, das pessoas que insistem em viver plenamente apesar das circunstâncias. É um sentimento percebido nos detalhes: um flerte na repartição pública em que Marcelo busca um fragmento de seu passado, a família de desgarrados no condomínio onde ele se abriga, a honestidade desconcertante de D. Sebastiana, síndica deste mesmo condomínio, interpretada pela espetacular Tânia Maria, MVP da produção.



Conteúdo Original

2025-11-05 16:16:00

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